
A engenharia eletrotécnica marítima utiliza as mesmas tecnologias que a engenharia em terra, mas exige qualificações adicionais impostas por organismos internacionais como a Organização Marítima Internacional (IMO) e a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA). Estas normas têm como objetivo garantir segurança, eficácia e sustentabilidade das operações no mar.
Trabalhar a bordo implica lidar com alta tensão, correntes elevadas e sistemas tecnológicos complexos, incluindo propulsão elétrica, comunicações via satélite, radar, sonar e sistemas de navegação eletrónica. Nos navios de cruzeiro, que funcionam como verdadeiras cidades flutuantes, o engenheiro eletrotécnico é responsável pela manutenção, diagnóstico e reparação de equipamentos, assegurando o funcionamento contínuo de infraestruturas críticas.
Apesar da evolução tecnológica, o curso enfrenta dificuldades em atrair estudantes. Segundo João Costa, a engenharia eletrotécnica continua a ser vista como uma área exigente, sobretudo pelo peso de disciplinas como matemática e física. Além disso, a carreira marítima não faz parte do “radar” da maioria dos jovens portugueses, que desconhecem as oportunidades associadas ao setor.
O coordenador da licenciatura sublinha, contudo, que a profissão oferece vantagens significativas: salários elevados, carreiras internacionais, possibilidade de viajar e, mais tarde, transitar para funções em terra com experiência valorizada. Para contrariar a falta de procura, a escola tem reforçado ações de divulgação em estabelecimentos de ensino secundário e registado crescente interesse de alunos estrangeiros, alguns já profissionais em mudança de carreira.
Outro ponto destacado foi a questão do conforto e da segurança a bordo. Os navios modernos já não apresentam as condições duras do passado, contando com cabines climatizadas, zonas de lazer e infraestrutura semelhante à de um escritório. O setor também está sujeito a normas ambientais rigorosas, que obrigam à adoção de práticas sustentáveis e tecnologias de redução de impacto ecológico.
Portugal tem apenas uma instituição de ensino superior a oferecer esta formação. A Escola Náutica Infante D. Henrique acumula quase um século de experiência académica e investiu recentemente em novas infraestruturas, como o Centro Internacional de Segurança Marítima, para manter a competitividade internacional e cumprir com os padrões de certificação exigidos.
A escassez de alunos nacionais contrasta com a procura internacional. Há casos de estudantes estrangeiros que procuram o curso para obter certificações reconhecidas globalmente, bem como de profissionais portugueses de outras engenharias que decidem reorientar a sua carreira para o setor marítimo.
O professor João Costa conclui que a engenharia eletrotécnica marítima é uma carreira de elevada responsabilidade e valor acrescentado, essencial para o transporte marítimo que continua a assegurar mais de 90% do comércio mundial.