Casei-me com o Sidney e adicionei o Cerqueira, mas desde os 16 anos de idade, quando fui Miss Bissau, sou conhecida por Karyna Gomes.

Sou todas essas Karynas. De miss e modelo virei cantora, compositora, jornalista, mãe e batalhadora pelos direitos das pessoas. Não gosto de protagonismo, sou extremamente tímida, mas sempre fui seguida pelos holofotes da vida por causa do meu amor à cultura.

Nasci e cresci no país dos nove rios, e muitos canais que se cruzam fluem em direção ao oceano Atlântico, testemunha de muitas lutas do nosso povo, dos navios negreiros às batalhas pela independência, onde o despertador são os passarinhos, onde a Lua regula o tempo e se acorda antes do Sol. Sou da Guiné-Bissau, terra de Amílcar Cabral, da chuva, do pôr-de-sol dourado com silhueta e gente boa.

Nasci em 1976 na cidade de Bissau, onde tudo se partilha! Alegria e dor, pão e chão. Filha de pai guineense e mãe de origem cabo-verdiana, vivi no seio da solidariedade social e do estender das mãos ao próximo, marca dos povos da minha nação. Sim, são muitos povos e muitas línguas que formam a nação crioula guineense.

Cresci a ouvir música de todos os lados… dos fulas, dos mandingas, dos balantas e djacancas, dos cabo-verdianos da Guiné, das “mandjuandadi” – encontro de mulheres e homens de todas as etnias e religiões –, de outros mundos, do além-mar.

Entre as artes e as letras, cresci. Estudei para ser mulher emancipada, porque na minha família eu estava cercada de mulheres e homens fortes que me instruíram nesse sentido, e tornei-me jornalista aos 24 anos. Mas, antes do jornalismo, veio a música, e a música levou-me ao mundo. Nem eu sabia que tinha esse dom… Foi uma surpresa agradável.

Estudei no Brasil, na cidade de São Paulo, entre 1996 e 2001, e foi lá que comecei a cantar num coro da Igreja, mas foi em Bissau, no ano de 2005, onde descobri o estilo de música que me delineou artisticamente. Redescobri a música da minha terra, com todas as influências que recebi de vivências e escutas exaustivas, por isso tenho soul e gospel na equação, mas também a música latina de Cuba e a rumba africana do Congo e do Senegal. No Brasil, muita bossa nova e a nova música popular da terra de Vinícius e Gal, mas também Dominguinhos e Gonzaga.