
O militar da GNR de 47 anos - cabo com 24 anos de serviço - foi encontrado inanimado pela mulher, na garagem de casa, em Castelo de Vide, esta terça-feira de manhã. O socorro foi garantido pelos bombeiros locais, mas foi impossível fazer chegar ao local uma equipa médica porque a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) de Portalegre estava, mais uma vez, inoperacional.
Ainda foi transportado para o hospital, mas o óbito acabou por ser declarado.
"Face à distância, mesmo no caso de termos a VMER operacional - que, confirmo, não estava àquela hora - nada nos garante que pudesse ter tido um desfecho diferente", afirmou à SIC Miguel Lopes, presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde (ULS) do Alto Alentejo, à qual pertence o hospital de Portalegre.
O responsável admite que a VMER esteve parada "entre as 08h00 e as 16h00" de terça-feira, por falta de médico para preencher a escala, tarefa que é da responsabilidade da administração hospitalar, e que deu conta disso mesmo às entidades oficiais, nomeadamente à Direção Executiva do SNS e ao CODU.
Sobre as falhas na escala da VMER - uma viatura tripulada por médico e enfermeiro que deve operar 24 horas/dia para garantir um socorro mais diferenciado a vítimas de trauma ou doença súbita -, a administração da ULS do Alto Alentejo reconheceu que se devem a "questões laborais, não só à disponibilidade dos profissionais para fazerem turnos, como licenças de maternidade, férias".
Miguel Lopes garantiu que está a trabalhar "com a equipa de médicos que tem o curso de VMER para rever as condições laborais" e tornar mais atrativos os turnos neste serviço.
Entre janeiro e julho deste ano, "10% do tempo" a VMER não tem estado disponível, assumiu ainda o presidente do conselho de administração da ULS do Alto Alentejo.
Fazendo as contas, a viatura esteve parada mais de 500 horas só este ano.
O que se sabe sobre a ocorrência
A SIC pediu esclarecimentos ao INEM sobre a ocorrência, que revelou a fita do tempo:
09h09 - O Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) recebeu uma chamada, dando conta de uma vítima encontrada em paragem cardiorrespiratória não presenciada.
O CODU acionou uma ambulância de socorro dos Bombeiros Voluntários de Castelo de Vide.
09h16 - Bombeiros chegaram ao local sete minutos depois do recebimento da chamada.
À chegada ao local, a equipa confirmou a situação de paragem cardiorrespiratória e iniciou de imediato manobras de Suporte Básico de Vida e Desfibrilhação Automática Externa, que não reverteram a situação.
O médico do CODU dá indicação para que os bombeiros levem a vítima para o hospital.
09h30 - Ambulância sai de Castelo de Vide em direção a Portalegre
09h49 - Chegada ao hospital de Portalegre
Também o INEM diz à SIC que a VMER estava parada "por falta de médico".
"Os meios de emergência médica mais diferenciados não estavam disponíveis para intervir em tempo útil, sendo clinicamente mais benéfico para o utente o transporte ao hospital para acesso mais rápido a cuidados de Suporte Avançado de Vida", justifica o Instituto, lamentando "o desfecho desta situação" e endereçando "condolências à família da vítima".
Problema com escalada da VMER é recorrente
A administração da ULS do Alto Alentejo tomou posse em janeiro, mas herdou um problema antigo.
A Entidade Reguladora da Saúde já tinha ordenado que o Hospital de Portalegre assegura-se em permanência o serviço da VMER depois deste ter falhado numa ocorrência que terminou na morte de um recém-nascido. Aconteceu em janeiro de 2022 e também nessa altura a viatura estava parada por falta de médico.