
A Trade Republic nomeou recentemente Antón Díez Tubet como country manager para Portugal e Espanha. A nomeação surge num momento de crescimento acelerado da plataforma em Portugal, onde está presente desde 2022. Apesar de não serem divulgados números específicos sobre Portugal, a Trade Republic refere que soma oito milhões de clientes nos 17 países europeus onde opera.
Fundado em 2015 por Christian Hecker, Thomas Pischke e Marco Cancellieri, a Trade Republic rapidamente se destacou no cenário europeu de fintechs. Desde a sua criação, atraiu investimentos de fundos de capital de risco e investidores institucionais. Entre os principais acionistas estão nomes de peso do setor, como a Sequoia Capital e o Founders Fund, do empreendedor Peter Thiel. A distribuição exata de acionistas não é, no entanto, divulgada publicamente.
Antón Díez Tubet ingressou na Trade Republic em 2021 e foi nomeado country manager para Espanha em 2023. Desde março passado, acumula também a liderança em Portugal, com o objetivo de promover a capacitação financeira dos investidores e aforradores ibéricos, num contexto marcado por um défice estrutural nos sistemas de pensões.
O banco digital quer posicionar-se como parceiro dos jovens que pretendem poupar para a reforma, fazendo uma grande aposta de comunicação nas redes sociais. Mas também quer chegar a todos os que pretendem construir património a longo prazo. Para isso, oferece uma conta com uma taxa de juro bruta anual de 2,25% até ao montante de 50 mil euros, com pagamento mensal de juros e acesso total aos fundos. O cartão de débito associado permite ainda um ‘saveback’ de 1% em compras, que é automaticamente reinvestido em planos de poupança. Estes planos, isentos de comissões, permitem investir em ETF, ações e criptomoedas.
Em entrevista ao Jornal PT50, Antón Díez Tubet assume Portugal como um mercado estratégico e mantém o compromisso de expandir a sua presença no país, adaptando os produtos e benefícios às necessidades locais. “O nosso objetivo é tornarmo-nos num dos bancos mais relevantes em Portugal, tal como já somos na Alemanha, França, Itália e Espanha”, refere. A aposta na literacia financeira é fundamental, porque defende que “um cliente informado vai decidir investir o seu dinheiro a longo prazo”.
Foi nomeado country manager para Portugal e Espanha em março passado. Qual a sua ambição para os mercados português e espanhol nos próximos anos?
O objetivo é sermos um dos bancos de referência para os portugueses e os espanhóis. Se olharmos para a situação atual, a maioria dos portugueses e espanhóis continua a recorrer aos bancos tradicionais para a gestão quotidiana do seu dinheiro. No entanto, esses bancos não oferecem as mesmas vantagens que os novos bancos digitais. Graças à tecnologia, os bancos digitais têm uma estrutura de custos significativamente mais baixa, o que permite transferir mais benefícios para os clientes.
Pretendemos que todos os portugueses compreendam o valor do seu dinheiro, como o podem poupar ou gastar de forma mais eficiente, e que esse dinheiro trabalhe para eles e não para o banco. É este o nosso propósito.
Tem objetivos definidos para Portugal?
Não tenho métricas específicas, nem para Espanha nem para Portugal. O que pretendo é fomentar o debate sobre a necessidade de poupar com vista ao futuro, a importância de investir essa poupança para que cresça ao longo do tempo, e de que forma as plataformas e os bancos digitais podem ajudar tanto portugueses como espanhóis nesse percurso.
Como esperam diferenciar-se de concorrentes já estabelecidos em Portugal, como a Revolut?
Na Trade Republic, falamos de investimento a longo prazo, de poupança responsável e da ideia de que o dinheiro deve crescer e trabalhar para o cliente e não para o banco. Achamos que os portugueses devem assumir o controlo das suas finanças e utilizar o dinheiro em seu benefício, de forma responsável. Esta é uma mensagem que raramente se ouve quando comparamos com outras plataformas., que incentivam sobretudo à negociação. Negociar é comprar e vender ações, ETF ou obrigações. Mas nós não queremos que as pessoas estejam constantemente a negociar, queremos que invistam todos os meses e transforme a sua poupança em investimento.
O nosso objetivo é que esses investimentos cresçam ao longo do tempo, beneficiando da valorização dos mercados bolsistas no longo prazo. Esta abordagem é muito diferente da de outras plataformas, como a XTB ou a Revolut. Ou seja, não falamos de negociação, falamos de investimento a longo prazo.

Antón Díez Tubet, country manager da Trade Republic para Portugal e Espanha | Foto: Jornal PT50/Rigby
Como pretendem que isso aconteça?
Acreditamos que se todos os portugueses e espanhóis investirem uma pequena quantia todos os meses num ETF da bolsa mundial ou da bolsa americana, ao fim de 10, 15 ou 20 anos terão obtido a rendibilidade média do mercado e poderão ter multiplicado o seu dinheiro por quatro ou cinco vezes. Não se trata de dinheiro rápido, nem de ganhos a curto prazo, é um processo de longo prazo. O que pretendemos é que cada pessoa tenha um plano de poupança complementar à pensão pública, pensado para o dia em que se reformar. Queremos que as pessoas tenham um plano de poupança complementar, porque acreditamos que o sistema público de pensões na Europa enfrentará desafios no futuro.
Também não temos um modelo de subscrição como outros bancos. Oferecemos o mesmo a todos os clientes. Ou seja, uma pessoa pode ter apenas 1 euro investido na Trade Republic e receberá os mesmos benefícios que alguém com 100 mil euros. É exatamente a mesma plataforma, com os mesmos serviços, para toda a gente. E isso também é uma diferença importante.
Então, têm apenas um produto?
Temos um produto que assenta em três pilares principais. Por um lado, oferecemos uma conta remunerada que proporciona uma taxa de juro equivalente à do Banco Central Europeu — atualmente 2,25% — até ao limite de 50 mil euros. Esta remuneração está disponível para todos os clientes, novos e atuais, sem quaisquer condições ou compromissos. Por outro lado, disponibilizamos uma solução de investimento que permite, a partir de apenas 1 euro, investir em ações, ETF, obrigações e também em produtos relacionados com criptomoedas. A partir de 1000 euros de saldo, o cliente tem acesso completo à nossa plataforma de investimento. Por fim, temos um cartão de débito que permite utilizar o saldo disponível na conta e que, adicionalmente, oferece uma recompensa: desde que o cliente invista pelo menos 50 euros por mês através dos nossos planos de investimento automáticos, recebe 1% de reembolso sobre os seus gastos com o cartão, valor que é automaticamente reinvestido no seu plano.
Qual a vossa quota de mercado em Portugal?
Sim, temos atualmente centenas de milhares de clientes em Portugal. Mas até à data não divulgámos publicamente os dados relativos aos clientes portugueses. Apenas o fazemos nos países onde já lançámos uma sucursal.
A Trade Republic recebeu autorização para operar como sucursal em Espanha. Vão pedir também essa autorização em Portugal?
Sim, submetemos o pedido em Espanha, embora a operação ainda não esteja ativa. Já lançámos sucursais em Itália, França e Áustria, e Espanha será o próximo mercado. De facto, o Banco de Espanha já nos concedeu autorização para operar como sucursal. Assim que iniciarmos essa operação — o que acontecerá muito em breve — iremos também divulgar o número de clientes em Espanha. O mesmo acontecerá em Portugal: quando lançarmos a operação local com sucursal, nessa altura poderemos partilhar detalhes mais específicos sobre o mercado português.
Vão então pedir autorização para operar uma sucursal em Portugal?
Sim, é essa a intenção. Planeamos fazê-lo em algum momento, embora ainda não exista uma data concreta para esse pedido.
Com essa autorização poderão oferecer mais produtos?
Sim. Passaremos a disponibilizar, por exemplo, IBAN português, a automatização do tratamento fiscal, para que os clientes não tenham de preencher manualmente as suas obrigações fiscais, e a possibilidade de utilizar a Trade Republic como uma verdadeira conta corrente, onde se pode receber o ordenado e pagar faturas.
Como pretendem adaptar a vossa proposta de valor ao perfil do investidor português, que tende a ser bastante conservador?
Os portugueses e os espanhóis apresentam comportamentos financeiros bastante semelhantes: somos, maioritariamente, poupadores e não investidores. A maioria das pessoas prefere poupar em vez de investir, e é por isso que a literacia financeira assume um papel fundamental.
Na Trade Republic, promovemos ativamente a literacia financeira através de colaborações com criadores de conteúdos e plataformas especializadas, como o Moneylab. Investimos recursos próprios para apoiar iniciativas que ensinem às pessoas os benefícios do investimento a longo prazo.
Acreditamos que um cliente bem informado acaba por tomar a decisão de investir o seu dinheiro com uma perspetiva de longo prazo. Porquê? Porque as pensões públicas, tanto em Espanha como em Portugal — e até em países como a Alemanha ou França —, tendem a ser insuficientes. Além disso, a inflação corrói o poder de compra do dinheiro ao longo dos anos.
Outro fator relevante é que os hábitos de poupança em Portugal e em Espanha estão historicamente muito ligados ao setor imobiliário e aos depósitos a prazo. No entanto, estas opções, por si só, não constituem uma solução financeira eficaz a longo prazo. Por isso, o nosso objetivo é promover a literacia financeira para que as pessoas compreendam que o dinheiro não deve apenas ser poupado, tem de ser investido de forma consciente e adequada.

Antón Díez Tubet, country manager da Trade Republic para Portugal e Espanha | Foto: Jornal PT50/Rigby
E qual é a forma adequada de investir na vossa perspetiva?
Investir de forma adequada significa diversificar, manter os custos baixos e evitar riscos desnecessários. Em termos simples, cada pessoa deve ter um plano de investimento ajustado às suas necessidades, mas com o objetivo claro de fazer o seu dinheiro crescer ao longo do tempo.
Na Trade Republic, o nosso objetivo é promover a literacia financeira. Acreditamos que, à medida que os portugueses e os espanhóis se tornam mais informados, vão começar a investir e vão fazê-lo através de plataformas digitais.
Porquê?
Porque estas plataformas oferecem acesso a produtos de investimento adequados a partir de apenas 1 euro e com comissões muito reduzidas, tanto na corretagem como na subscrição de ETF. Trabalhamos com ETF das melhores gestoras de ativos do mundo, como a BlackRock, Vanguard, Fidelity e Invesco. São produtos que, até há pouco tempo, não estavam acessíveis ao pequeno investidor.
Um cliente com conhecimentos financeiros percebe rapidamente que não precisa de investir num fundo com uma comissão anual de 3%, quando pode optar por um ETF e beneficiar do crescimento sustentável dos mercados acionistas ao longo do tempo.
É por isso que valorizamos tanto a literacia financeira. E, naturalmente, quando lançarmos a sucursal em Portugal, iremos avaliar quais são os produtos mais relevantes e úteis para os investidores portugueses.
Quais serão os produtos mais relevantes para o mercado português?
As soluções mais populares poderão passar, por exemplo, pelos depósitos ou por planos de poupança-reforma (PPR), mas ainda estamos a estudar quais são, de facto, as necessidades dos portugueses, sobretudo quando tomarem consciência de que é essencial investir.
De forma muito clara, considero que um PPR não é a melhor solução para o longo prazo. Pode fazer sentido para pequenas poupanças ou para despesas de curto prazo, mas não como plano principal para a reforma. Da mesma forma, manter o dinheiro apenas numa conta remunerada é uma má decisão a longo prazo, pois o valor vai sendo corroído pela inflação.
Se olharmos para a evolução dos mercados acionistas ao longo dos últimos 50 anos, vemos rendibilidades anuais médias superiores a 6% e, no caso do S&P 500, até superiores a 10%. E isto com uma carteira diversificada, que representa as maiores empresas da bolsa americana, a maior economia do mundo.
Acreditamos que, nos próximos 30, 50 ou até 70 anos, os mercados continuarão a crescer. Porque é assim que o mundo evolui. Um cenário em que os mercados acionistas caiem durante décadas significaria uma economia global em colapso, com desemprego generalizado e desvalorização total da moeda. Já vimos isso acontecer em países com crises graves, como a Argentina ou alguns países africanos. Por isso, temos de confiar que a economia global continuará a crescer. E é nesse crescimento que o investimento a longo prazo permite proteger e valorizar o dinheiro. Mantê-lo parado é vê-lo perder valor, ano após ano.
Então, quando pedirem autorização para operar como sucursal em Portugal, que tipo de produtos pretendem oferecer?
É algo que ainda estamos a avaliar. Para já, não posso adiantar muitos detalhes, mas o objetivo será identificar os produtos que realmente fazem sentido para os portugueses. Sabemos, por exemplo, que é importante disponibilizar um IBAN português em vez de um IBAN alemão, e também facilitar a gestão automática dos impostos. Essas deverão ser as primeiras prioridades. Depois, vamos analisar se os ETF são, de facto, a solução mais adequada para os investidores portugueses ou se será necessário oferecer alternativas adicionais.
Quem é o vosso público-alvo? São os mais jovens que começam a investir a longo prazo através de plataformas digitais?
Curiosamente, quando as taxas do Banco Central Europeu estavam a zero, a maioria dos nossos clientes eram jovens que queriam investir em ETF para a reforma. No entanto, com a subida das taxas de juro, que chegaram aos 4%, começámos a atrair também clientes mais velhos, com maiores poupanças, interessados numa remuneração atrativa. Atualmente, temos uma base diversificada: pessoas com mais poupança que valorizam as nossas taxas elevadas, e jovens com menos de 30 anos que procuram literacia financeira através de conteúdos digitais e podcasts. Estes jovens procuram informação e nós estamos presentes nesses canais.
Mas tendo em conta que a vossa mensagem é de investimento a longo prazo para poupança para a reforma, em Portugal, vão focar-se mais nos jovens?
A minha ideia é que nos foquemos em todos os públicos. Os jovens, em particular, enfrentarão um sistema público de pensões sob enorme pressão, pois a geração Baby Boom começou agora a reformar-se. São pessoas que trabalharam com grande produtividade e com pensões elevadas, além de uma esperança média de vida mais longa, o que vai colocar ainda mais pressão no sistema nos próximos anos. Os jovens de hoje não sabem se, quando chegarem à idade da reforma, o sistema de pensões será semelhante ao atual. Provavelmente, não será. Por isso, é muito fácil para um jovem, mesmo com pouco dinheiro, construir um plano de longo prazo que lhe permita acumular património. Basta começar cedo. Por exemplo, se uma pessoa começar a investir 20 euros por mês aos 18 anos, durante 30 anos, com uma rentabilidade anual de 6%, acumulará muito mais do que alguém que comece aos 35 ou 40 anos. Os juros compostos fazem toda a diferença. A mensagem é clara: quanto mais cedo se começa, mais acessível e eficaz é construir uma poupança significativa para o futuro.
Que campanhas vão fazer em Portugal para atrair clientes para a Trade Republic?
Promovemos a nossa conta remunerada com uma TANB de 2,25% como principal ferramenta de captação de clientes, porque Portugal, tal como Espanha, é um país com forte tradição de poupança. A estratégia passa por atrair as pessoas com esta conta e, posteriormente, incentivá-las a começar a investir. No caso dos mais jovens, que normalmente ainda não têm poupanças, recorremos a criadores de conteúdos no YouTube, no Spotify, entre outras plataformas.
Têm equipa própria em território nacional ou operam remotamente a partir de Espanha?
Somos ainda uma empresa pequena, com cerca de 600 colaboradores no total, sendo que a maioria se encontra na Alemanha. É a partir dos nossos escritórios em Berlim e Madrid que pretendemos servir toda a Península Ibérica. Atualmente, os colaboradores que temos na região estão baseados em Espanha. No futuro, isso poderá mudar, dependendo das necessidades específicas do mercado português.
E não contam ter funcionários em Portugal?
Não excluímos essa possibilidade. Já temos equipas locais em países como Itália, Espanha, França e Países Baixos. Por isso, é possível que, no futuro, também venhamos a ter colaboradores em Portugal.
Estão em 17 países europeus e têm 8 milhões de clientes. Têm ambição global?
Atualmente, operamos em 17 países europeus, num mercado potencial de cerca de 340 milhões de pessoas. Já atingimos os 8 milhões de clientes, o que mostra que ainda há um enorme potencial de crescimento. Há muito trabalho por fazer em mercados como Portugal, Espanha, França, Itália e mesmo na Alemanha, para continuarmos a crescer e a ser relevantes. A nossa estratégia de expansão mantém-se centrada na Europa, mas também estamos atentos a oportunidades fora da zona euro.
O que gostaria de dizer a um potencial cliente aqui em Portugal? Como o captaria para o seu banco?
Gostaria de dizer que, embora sejamos um banco digital, somos também um banco regulamentado na Alemanha. Operamos sob a supervisão do Bundesbank e da BaFin, o que garante que os fundos dos nossos clientes estão protegidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos até 100 mil euros por cliente individual. Ou seja, apesar de operarmos através de uma aplicação móvel, oferecemos os mesmos níveis de regulação, supervisão e segurança que qualquer banco tradicional, mas com os benefícios que só a tecnologia pode proporcionar.
Por exemplo, a conta remunerada com 2,25% TANB, a possibilidade de investir em ETF da Vanguard ou BlackRock a partir de apenas 1 euro, ou o nosso cartão que devolve 1% em todas as compras, são possíveis porque somos uma empresa tecnológica. Isto permite-nos manter custos operacionais muito baixos, já que não temos agências físicas, e transferimos essas poupanças diretamente para os nossos clientes.
Além disso, encorajo todos a experimentar um banco digital. Não é preciso fazer uma mudança radical ou transferir todos os fundos de imediato de um banco tradicional. Pode-se começar de forma gradual, mesmo quem tem poupanças significativas pode investir pequenos montantes, como 10, 20 ou 30 euros por mês, especialmente se nunca investiu antes e tem receios. Não é necessário tomar decisões drásticas. Com o tempo, vai perceber que investir de forma diversificada, mensal e com comissões baixas é uma decisão sensata. Não é um jogo de sorte nem um risco descontrolado, é uma ferramenta acessível a todos.