
A subgovernadora do Banco de Espanha, Soledad Núñez, destacou nesta quarta-feira, no fórum CREO 2025, que “a incerteza global e a revolução tecnológica são desafios inadiáveis para a banca”. Na sua intervenção, insistiu na necessidade de um setor financeiro robusto, digitalmente preparado e comprometido com a sustentabilidade, sublinhando que “a boa saúde atual do setor bancário espanhol é fruto de uma transformação profunda nos últimos 15 anos”.
Num discurso centrado na reflexão sobre os desafios económicos e financeiros que Espanha enfrenta, Núñez começou por reconhecer o papel do setor bancário como pilar da economia. “O setor financeiro representa mais de 5% do valor acrescentado bruto nacional, acima da média europeia, e emprega mais de 1% da população ativa”, salientou.
A responsável enalteceu a “gestão prudente dos riscos” adotada pelas instituições, que se traduz em “rácios de morosidade historicamente baixas, rentabilidade acima da média europeia e uma solvência reforçada”. O reforço da supervisão através do Mecanismo Único Europeu também foi apontado como um pilar para esta evolução.
Contudo, Núñez não deixou de advertir que o contexto internacional impõe novas exigências: “O ambiente de incerteza global, com um cenário geopolítico volátil e indefinido, poderá ter impactos indiretos relevantes sobre a nossa economia e, por consequência, sobre o risco de crédito bancário”.
Sobre a transformação digital, frisou que “a revolução tecnológica não é exclusiva do setor financeiro, mas impacta-o diretamente”. A inteligência artificial (IA) foi destacada como uma ferramenta que poderá “dinamizar o negócio bancário, melhorar a eficiência, reduzir custos e aumentar a rentabilidade”. Ainda assim, alertou que o seu uso exige cautela: “A IA aumenta o risco operacional e obriga a uma resposta ágil a falhas técnicas ou ciberataques, além de levantar importantes questões éticas”.
Núñez deixou um aviso claro sobre o papel social da banca: “Neste caminho implacável para a digitalização, a banca não pode deixar ninguém para trás”. A inclusão financeira e digital, sobretudo para os mais vulneráveis, deve continuar a ser uma prioridade, defendeu.
No que respeita à sustentabilidade, a subgovernadora foi perentória: “O setor bancário, embora não poluente por natureza, tem um papel essencial na transição ecológica da economia”. Alertou ainda para o risco de enfraquecer os mecanismos de reporte de sustentabilidade: “Simplificar não pode significar omitir dados críticos para a gestão dos riscos climáticos e naturais”.
A concluir, destacou as potencialidades do setor tecnológico em Espanha, elogiando a elevada literacia digital da população (66% entre os 16 e 74 anos) e a “excelente infraestrutura de redes de alta capacidade”. Referiu também que “as empresas espanholas estão entre as mais abertas à adoção de tecnologias digitais” e que a produção industrial em setores de alta tecnologia cresceu mais de 25% desde 2021, muito acima da média europeia.
“A colaboração entre o setor financeiro e o tecnológico será essencial para construir uma economia mais competitiva, produtiva e sustentável”, concluiu.