
A Amazon está a preparar uma transformação profunda na sua linha de tablets Fire, depois de anos de críticas de consumidores e programadores ao sistema operativo desenvolvido internamente. A empresa norte-americana trabalha no projeto “Kittyhawk”, que poderá introduzir pela primeira vez um tablet Fire com Android já em 2026.
Desde a estreia em 2011, os tablets Fire funcionaram com uma versão modificada do Android, conhecida como forked Android, adaptada para parecer um sistema independente. Essa opção obrigou os programadores a criar versões específicas das suas aplicações para a loja própria da Amazon, o que reduziu a variedade de apps disponíveis para os utilizadores. Apesar disso, a empresa vendeu milhões de unidades, sustentando o modelo de negócio na venda de conteúdos digitais associados — como livros, vídeos e música — e não na margem dos dispositivos, muitas vezes vendidos a preços próximos do custo de fabrico.
A mudança para Android é vista como uma alteração de filosofia na Amazon, que historicamente preferiu evitar produtos ou serviços de terceiros. O fracasso do Fire Phone em 2014 é um exemplo: dependente do Fire OS e com um preço elevado, o dispositivo não convenceu o mercado, levando a empresa a registar perdas de 170 milhões de dólares.
Segundo fontes citadas pela Reuters, o primeiro tablet Fire com Android será posicionado numa gama mais elevada e poderá custar cerca de 400 dólares, quase o dobro do atual modelo Fire Max 11, vendido a 230 dólares. Com esta aposta, a Amazon pretende competir com dispositivos como o iPad da Apple e os Galaxy Tab da Samsung, que dominam o mercado. No segundo trimestre de 2025, Apple detinha 33,1% de quota, Samsung 18,7% e Lenovo 8,2%, enquanto a Amazon surgia em quarto lugar, com 8%.
Embora o projeto Kittyhawk esteja em desenvolvimento há vários anos, fontes alertam que a sua concretização poderá ser adiada ou até cancelada por motivos financeiros ou estratégicos. Em paralelo, a empresa está também a trabalhar em tablets de baixo custo equipados com o sistema operativo Vega, baseado em Linux e já utilizado em alguns dispositivos Fire TV. No entanto, o plano de médio prazo é que todos os modelos Fire venham a ser alimentados por versões de Android de código aberto, o que permitirá à Amazon customizar a experiência de utilização sem depender diretamente da Google.
A escolha do nome de código Kittyhawk parece remeter para a cidade norte-americana onde os irmãos Wright realizaram o primeiro voo motorizado em 1903, mas também coincide com o nome de uma empresa de carros voadores, financiada por Larry Page, cofundador da Google, que acabou por falhar comercialmente. A Amazon não quis comentar o significado da designação, nem confirmou planos futuros, referindo apenas que não responde a rumores ou especulações.