
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o Millennium BCP conheceram os resultados dos testes de esforço realizados pela Autoridade Bancária Europeia (EBA), divulgados nesta sexta-feira. Os bancos portugueses comparam muito favoravelmente com as restantes 62 instituições financeiras europeias avaliadas pela EBA.
O indicador mais relevante de solvabilidade bancária — o CET1 (Common Equity Tier 1), que representa os fundos próprios da instituição (capital social e reservas acumuladas) — manteve-se resiliente face a um cenário semelhante ao realizado em 2023. Isto significa que os bancos portugueses teriam capacidade para continuar a financiar a economia mesmo num cenário de crise grave.
Assim, perante uma crise económica severa, que levaria o Produto Interno Bruto (PIB) a valores negativos de -6,3% em 2027 e provocaria um aumento da taxa de desemprego em 5,8 pontos percentuais (p.p.), o rácio CET1 da CGD, que em 2024 era de 20,3%, diminuiria apenas 30 p.p., fixando-se nos 20,0% no final de 2027, mesmo nos cenários mais adversos de recessão.
Já o Millennium BCP, com um CET1 de 16,4% em 2024, veria o seu rácio descer 230 p.p., atingindo os 14,1% em 2027, caso se verificassem os piores cenários económicos.
Estes resultados comparam-se, por exemplo, com os do Deutsche Bank, na Alemanha, cujo CET1 era de 13,8% em 2024 e, perante uma recessão, desceria para 10,2% em 2027 — uma perda de 360 p.p. No caso do BNP Paribas, em França, o CET1 passaria de 12,9% em 2024 para 9,5% em 2027, perdendo 340 p.p. Já em Espanha, o Santander, com um CET1 de 12,8% em 2024, terminaria 2027 com 10,9%, perdendo 190 p.p.
Segundo o relatório da EBA, “os resultados do teste de esforço realizado em toda a UE em 2025 indicam que os maiores bancos da União seriam resilientes a um cenário hipotético de stress severo, que combina uma recessão profunda com tensões geopolíticas crescentes e um aumento das políticas comerciais protecionistas a nível global, incluindo tarifas”.
Apesar de suportarem perdas combinadas de 547 mil milhões de euros durante o horizonte de três anos, os bancos da UE demonstram uma forte capacidade de geração de rendimentos ao longo do exercício. Isso traduz-se numa redução agregada do capital de 370 p.p., inferior à observada no teste de esforço de 2023, apesar de a gravidade do cenário ser amplamente semelhante.
A EBA destaca ainda que “em 2024, os bancos da UE mantiveram níveis de rentabilidade historicamente elevados, com os lucros a crescerem cerca de 10% ao ano nos últimos dois anos, e um retorno sobre o capital próprio de 10,5%. Este elevado rendimento líquido proporciona uma almofada significativa para absorver perdas num cenário adverso”.
“Para a UE, o cenário traçado é mais grave do que o da crise financeira global e substancialmente mais severo do que a recente evolução macroeconómica”, conclui a EBA.
As perdas por risco de crédito, a nível agregado, ascendem a 394 mil milhões de euros, um aumento face aos 347 mil milhões de euros registados no teste de esforço de 2023. As perdas associadas às exposições de sociedades não financeiras representam cerca de metade do total das perdas de crédito.