
Passados 11 dias desde a divulgação dos últimos testes de stress realizados pela Autoridade Bancária Europeia (EBA), com a colaboração do Banco Central Europeu (BCE) — nos quais dois bancos portugueses, a Caixa Geral de Depósitos e o Millennium BCP, se destacaram entre as 64 instituições financeiras examinadas —, o BCE publicou um estudo que analisa o comportamento dos bancos perante os testes de stress realizados pelos supervisores.
Da autoria de Angelo Cuzzola, Claudio Barbieri e Grzegorz Hałaj, e com o título provocatório “Manipular o Teste”, o trabalho mostra como as instituições financeiras antecipam alterações às suas carteiras de crédito e ajustam o índice CET1 (Common Equity Tier 1) sempre que são confrontadas com testes de esforço aos seus balanços.
“Os nossos resultados revelam padrões significativos de comportamento antecipatório, com os bancos a adaptarem estrategicamente os seus rácios de capital antes do início dos testes de stress. Este comportamento é particularmente pronunciado entre as instituições que recebem, posteriormente, as pontuações mais baixas em termos de esgotamento de capital”, escrevem os autores.
Segundo o estudo, “esta adaptação antecipada resulta numa diferenciação da carteira de crédito entre os bancos, efeito que persiste após os testes de stress e se mantém de forma consistente. É importante salientar que esta diminuição da semelhança não se estende aos modelos de negócio, limitando, assim, o potencial risco sistémico associado à sincronização das carteiras.”
A investigação analisou a reação dos bancos a dois testes de stress realizados pela EBA e pelo BCE, respetivamente em 2021 e 2023, e destacou três principais conclusões.
Nomeadamente, o aumento significativo dos rácios de capital CET1, ocorrido sobretudo através de ajustamentos anteriores, com os bancos a gerirem os ativos ponderados pelo risco em vez dos níveis absolutos de capital. Este comportamento antecipatório é particularmente visível nas instituições que, mais tarde, obtêm pontuações baixas nos exercícios, sugerindo que os bancos com pior desempenho realizam ajustes de balanço mais agressivos em preparação para os testes de stress.
Vrrificou também a redução da semelhança das carteiras, ou seja, que as ações de mitigação de risco contribuem positivamente para diminuir o risco sistémico. A gestão adotada pelos bancos mais vulneráveis mostra-se benéfica para a estabilidade financeira também na perspetiva do risco de liquidez, reduzindo a probabilidade de amplificação de choques através de vendas imediatas e coordenadas.
E, ainda, a diminuição da semelhança entre bancos com o mesmo modelo de negócio , no entanto, sem impacto significativo na semelhança entre bancos do mesmo país. Este padrão confirma uma relativa homogeneidade dos sistemas financeiros da UE, com um papel mais limitado das especificidades jurisdicionais na influência dos perfis de exposição e das estratégias de gestão de risco.
Os resultados, ao considerarem a forma como as instituições financeiras incorporam os testes de stress na sua tomada de decisões estratégicas, destacam o duplo papel destes exercícios: reforçar a resiliência individual dos bancos e reduzir as vulnerabilidades sistémicas. Segundo o estudo, estas conclusões contribuem para o debate em curso sobre a supervisão bancária eficaz e o desenho de quadros regulamentares adequados para os testes de stress.