
O líder da Coreia do Norte chegou esta terça-feira a Pequim a bordo do emblemático comboio blindado, para participar no desfile militar chinês que assinala o 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial no Pacífico.
Kim Jong-un partiu na segunda-feira de Pyongyang e percorreu quase um dia de viagem para aquela que será a primeira participação num evento multilateral com outros chefes de Estado, indicou a agência de notícias sul-coreana Yonhap.
Espera-se que mantenha encontros bilaterais e até trilaterais com os Presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin.
O desfile acontece na quarta-feira na praça Tiananmen, no centro da capital chinesa, num momento que a China deverá exibir o poderio militar num momento de crescente desconfiança face ao Ocidente e de incerteza nas relações internacionais depois do regresso de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
O comboio de cor verde-azeitona de Kim Jong-un, apelidado por analistas de "fortaleza ambulante", é há muito símbolo de poder, segurança e tradição na liderança norte-coreana. Desde que chegou ao poder, em 2011, Kim já o utilizou em nove deslocações internacionais, mantendo a preferência pelo transporte ferroviário herdada do pai Kim Song-il e do avô Kim Il-sung.
O comboio, fabricado em Pyongyang em múltiplas versões idênticas, é inteiramente blindado, das janelas ao chão, e equipado com sistemas de comunicação, armamento ligeiro e, de acordo com o Ministério da Unificação da Coreia do Sul, até um helicóptero de evacuação.
O peso do blindado impede o comboio de ultrapassar os 60 quilómetros por hora, mas permite uma segurança difícil de igualar em meios aéreos. Os itinerários são imprevisíveis e ao longo do percurso são destacadas tropas para garantir a segurança. Durante a cimeira com Donald Trump em Hanói, em 2019, foram visíveis essas medidas em todo o trajeto.
Apesar da tradição ferroviária, Kim não rejeita o transporte aéreo: já voou em três ocasiões para o estrangeiro, incluindo China e Singapura, em 2018, para o encontro com Trump. Nessa ocasião, usou um voo da Air China camuflado como ligação comercial. O avião oficial norte-coreano, o Chammae-1, um velho Ilyushin-62, é considerado pouco fiável por especialistas.
Nesta última viagem para Pequim, a imprensa oficial divulgou imagens de Kim sorridente no interior do comboio, rodeado de assessores e equipamento de trabalho: computador portátil, impressora, telefone fixo e cinzeiro. A ministra dos Negócios Estrangeiros norte-coreana, Choe Son Hui, acompanhava-o, com documentos espalhados sobre a mesa. Noutras imagens, Kim aparece a fumar no exterior do comboio.
Park Min-ju, investigadora do Instituto Nacional para a Unificação da Coreia, salientou que este tipo de transporte também cumpre uma função simbólica: projetar a imagem de um líder que trabalha incansavelmente, mesmo durante as viagens, atravessando o país noite dentro como uma demonstração de poder e continuidade.