A canção “Deslocado”, do grupo madeirense NAPA, deu o ponto de partida à homilia proferida pelo Bispo do Funchal, D. Nuno Brás, na solene celebração da Festa de Nossa Senhora do Monte. A letra, que descreve a estranheza sentida por jovens madeirenses nas grandes metrópoles “o mar de gente, o sol diferente, o monte de betão”, serviu de metáfora para reflectir sobre um sentimento que, com o tempo, pode surgir em qualquer lugar, sobretudo o de não pertencer totalmente.

“Todos nós trazemos uma sede de infinito, uma sede de Deus que nos torna insatisfeitos e nos impele a ir mais além. É essa inquietação, despertada pela beleza mas também pela dor e pelo sofrimento, que só Deus pode saciar”, afirmou o prelado.

Foi nesse contexto que D. Nuno Brás contrapôs a sensação de desenraizamento com a experiência de paz e pertença vivida no Santuário do Monte. “Aqui, na casa da Mãe, que acompanha os madeirenses desde os primórdios do povoamento, deixamos de nos sentir deslocados. Aqui, o nosso coração repousa como em casa”, sublinhou, lembrando que a devoção à padroeira da Diocese foi presença constante tanto nas partidas de emigração como nas campanhas militares.

Na sua homilia, o Bispo apresentou Maria como “Templo de Deus” e “Arca da Nova Aliança”, citando Santo Agostinho e S. Atanásio para reforçar a ideia de que, na Virgem, Deus encontra morada. “Se em Maria o próprio Deus se sente em casa, também nós, junto dela, encontramos o nosso lugar. É a certeza de que o Céu nos espera e que, como Maria, somos chamados a habitar nele”, disse.

Perante milhares de fiéis que encheram o Monte, D. Nuno Brás terminou com um apelo de ternura e proximidade: “Como Santa Isabel, como o discípulo amado, acolhamos Maria na nossa vida e no nosso coração. Mãe, olha à janela, que eu ‘tou a chegar a casa”.

A celebração contou com a presença do presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, da presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Cristina Pedra, e da presidente da Câmara Municipal do Funchal, do Representante da República, Ireneu Barreto, entre outros.

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Logo no início das cerimónias D. Nuno Brás disse que este também era um momento para rezar por aqueles que morreram na tragédia em 2016.