"Há mais de um ano que falamos sobre o genocídio na Palestina e no domingo à noite um barco que tinha ajuda alimentar para a Faixa de Gaza foi apreendido pelo Governo israelita. Estamos aqui para protestar contra o genocídio, para também apelar ao Governo francês para fazer alguma coisa e também mandar ajuda para os palestinianos que estão agora a morrer de fome", disse à Lusa Alice de Brito, lusodescendente de 21 anos.

O navio com ajuda humanitária "Madleen", que tentava chegar a Gaza com 12 ativistas a bordo, entre eles a sueca Greta Thunberg e a eurodeputada franco-palestiniana de esquerda Rima Hassan, foi desviado no domingo à noite pelas autoridades israelitas, que disseram aos passageiros para "regressar aos seus países".

Para a lusodescendente, que pertence à União Nacional dos Estudantes de França, a ação dos ativistas de tentar parar o bloqueio no enclave foi importante para mostrar que não "é só algo que os ativistas inventam", já que pessoas conhecidas estão detidas em Israel e "não se sabe o que se passa e como estão".

"A Rima Hassan, deputada europeia, estava farta de falar no Parlamento e ninguém ouvia, por isso acho que eles fizeram a escolha de ir porque era a única forma de mediatizar e de mostrar ao mundo inteiro o que se passa em Gaza", acrescentou.

Junto à Place de la Republique, na capital francesa, pessoas de várias nacionalidades juntaram-se pelas 18:00 horas (17:00 de Lisboa) com cartazes para apelar à "Liberdade da Palestina" e para "Parar o genocídio em Gaza", ecoando "Viva viva Palestina" e "Nós somos todos crianças de Gaza" enquanto ocupavam a faixa de rodagem, condicionando o trânsito.

"Não há limites para os israelitas, então é uma pena", lamentou Pedro, de 75 anos, de nacionalidade chilena, referindo que "o mundo que não quer compreender o que está a acontecer" em Gaza.

O chileno, com uma camisola com as frases "Palestina livre" e "Boicote a Israel", considera que era esperado que o barco fosse intercetado e não chegasse ao seu destino, porém espera que após este acontecimento o Presidente francês, Emmanuel Macron, reconheça a Palestina.

"É terrível, porque há dois discursos: Macron diz que está preocupado com esta situação, mas continua a vender armas para Israel, então não é muito sério", referiu.

Para Tarif, de 37 anos, que empunhava uma bandeira da Palestina, "o pequeno barco vindo de Itália é simbólico", com o objetivo de "quebrar o bloqueio que Israel tenta impor em Gaza e alimentar 2,5 milhões de crianças, mulheres e idosos" e impedir que o "exército criminal" cometa um "assassinato direto".

"Há uma força mundial hoje que não quer este genocídio, mas há uma força colonialista que procura ganhar por todos os meios, e hoje estamos a lutar contra essa força, não temos escolha, temos que estar aqui e lutar contra isso", acrescentou, defendendo uma posição firme da parte do Governo francês contra o executivo de Israel de Benjamin Netanyahu, que definiu como "criminoso de guerra".

Segundo Tarif, se a França não reconhecer o Estado da Palestina, "isso vai colocar as ruas de Paris e da França com raiva", apelando para que o país pare "todos os negócios com Israel", especialmente relacionados com armas.

"Como cidadãs brasileiras, temos a obrigação moral de protestar contra o que o Estado de Israel faz com o povo palestiniano, porque o Brasil foi um país que promoveu a formação do Estado de Israel, mas não nestas condições e nós temos também um cidadão brasileiro que está nessa embarcação", disse Maria Luíza Lapa de Sousa.

A brasileira defende que a ação destes ativistas, incluindo o brasileiro Thiago Ávila, é de "resistência" e poderá "consciencializar a população num mundo adormecido para a causa da Palestina, para o genocídio palestiniano".

"Os ativistas têm a grande posição de chamar a atenção do mundo, porque Israel precisa de parar este genocídio. É importante a participação de todos nós - brasileiros, portugueses, franceses. O mundo todo tem que se mobilizar. Até quando nós podemos esperar? Quando toda a população for dizimada? Não existe isso", afirmou Maria Luíza.

A manifestação parisiense, que foi uma das várias manifestações em França, foi convocada pelo partido França Insubmissa (LFI) - partido de esquerda radical ao qual pertence Rima Hassan -- e contou com a presença do líder Jean-Luc Mélenchon, que denunciou uma "detenção ilegal".

"Não se pode deixar de resistir e continuar na luta até que Israel reconheça ou seja obrigado pelo mundo a parar com este genocídio", afirmou a brasileira Ana Rute Pinto Brandão, de 51 anos, defendendo a "urgência" no reconhecimento no Estado palestiniano.

Israel bloqueia a entrega de ajuda à Faixa de Gaza desde 02 de março, tornando os palestinianos dependentes desde 21 de maio da entrega de uma quantidade mínima de alimentos autorizada pelas autoridades israelitas.

A ofensiva militar israelita foi desencadeada pelo ataque sem precedentes do 07 de outubro de 2023 pelo grupo islamita palestiniano Hamas em Israel, que causou 1.218 mortes, de acordo com uma contagem da agência noticiosa France-Presse baseada em dados oficiais.

Pelo menos 54.880 palestinianos, a maioria civis, foram mortos na campanha militar israelita de retaliação, de acordo com dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.

 

MYCO // JH 

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