
Abundante em espaços verdes e floridos, rodeada de aldeias onde a agricultura ainda subsiste e com um centro histórico que merece visita prolongada, Viseu foi considerada por vários anos consecutivos a melhor cidade portuguesa para viver. Descubra se é também uma das favoritas para comer nesta rota pelas melhores mesas de Viriato, na companhia dos afamados vinhos do Dão e com passagem pela secular Feira de São Mateus onde a tradição se cumpre desde 1392.
Descobrir a cidade à mesa
Junto a dois locais emblemáticos da cidade, a Sé e o Museu Grão-Vasco, a Taberna do Dão (Rua do Adro, 15, Viseu. Tel. 935024276) convida a um passeio pelo património histórico antes de abraçar outra convidativa dupla: vinhos e petiscos. Com perto de uma centena de referências, que pode levar para casa, oferece petiscos para acompanhar. Aconselha-se a Tábua beirã com queijos e enchidos regionais, os Folhados de queijo com mel e nozes, os Croquetes de alheira, mas também as Pataniscas de bacalhau e os Ovos mexidos com farinheira. À semana, ao almoço, serve “Comida de conforto”. Preço médio: €20.
Petiscos e vinhos são receita de sucesso neste acolhedor espaço, decorado em tons serenos. Na cozinha do Palace (Rua Paulo Emílio, 12, Viseu Tel. 963004817), comandada por Luís Almeida, acrescentaram-se pratos mais compostos, como o “Polvo e arroz de forno” e o “Folhado de cabrito assado do Caramulo”, mas a filosofia permanece de partilha, sobretudo na disputa pelos “Peixinhos da horta”, pelas “Gambas crocantes”, pelo “Pica-pau do mar” ou pelas “Tiras de vazia com Queijo da Serra”. Vinho do Dão e serviço acolhedor complementam. Preço médio: €30.
A remodelação elevou as duas salas e a ampla esplanada, que se abre e fecha consoante a meteorologia. Em breve, na Casa Arouquesa (Rua Senhora da Graça, Viseu Tel. 232416174) nasce um recanto privado e uma nova garrafeira para acomodar as referências ecléticas. Aprecie as enormes fotografias a preto e branco que enquadram a decoração elegante enquanto saboreia a carne tenra, servida no ponto certo, de que o restaurante se fez embaixador na cidade, servida em bife, costeletão ou assada no forno. Considere as sobremesas caseiras. Preço médio: €40.
Surpresa a cada visita, o menu único de degustação de seis ou oito momentos adapta-se às estações e ao mercado, num esforço permanente para reduzir o desperdício. Em versão omnívora ou vegetariana, apenas ao jantar, produtos locais revelam a cozinha do Flora (Rua Grão-Vasco, 21, Viseu Tel. 232104683), comprometida com a terra mas de alma viajada. O “Bacalhau e pil-pil” é um dos momentos altos da proposta de João Ferreira, apresentada por Anna Ortner. Seguindo a filosofia, nos vinhos o foco está na pouca intervenção. Preço médio: €45.
Em ambiente moderno, espaçoso e confortável, um serviço diligente alimenta a mesa com pratos de confeção segura. A “Salada de bacalhau” e as “Pataniscas” abrem caminho ao “Polvo frito com migas” e ao cabrito assado, ensopado ou grelhado. Na época própria, lampreia, sável e “Perdiz estufada com castanhas” saem da cozinha do Santa Luzia (EN 2, Campo Tel. 232459325), a cargo de Susana Martins, enquanto na sala o marido, Idílio António, que trabalha na casa, agora sua, há 40 anos, comanda o serviço. Preço médio: €35.
É ponto de paragem obrigatório para provar o “Viriato”. O bolo em forma de V, com 15 centímetros de comprimento, criado na década de 40 do século passado na pastelaria Horta, na Rua Formosa é elaborado com massa de pão doce e com recheio de mistura de ovos com coco. Na Confeitaria Amaral (Rua Dr. Francisco Alexandre Lobo, 54, Viseu. Tel. 232422920), os Viriatos são motivo de romaria e aclamados como os melhores da cidade. Aliás, registaram a marca em 1995, chegando a vender mais de 200 por dia. Na época de férias, o número facilmente duplica ou até triplica. Mas a inspiração doceira ligada à cidade não se fica por aqui. Já com bastante procura estão as Rotundinhas de Viseu, feitas com massa filo muito fina e recheadas com doce de ovos. A ideia do nome veio dos comentários de que Viseu é a capital nacional das rotundas.
Sabores da terra na aldeia
Após um incêndio, o restaurante DeRaiz, instalado numa aldeia às portas da cidade, reabriu com novas cores nas paredes e a ementa habitual. Abençoados pela igreja com que dividem o largo, Inês Beja e Nuno Fonte, ambos cozinheiros, conhecem a técnica e a tradição regional, bem como a magia de servir comida com sabor a casa. Recolheram receitas das avós, com carinho e memória, e adaptaram-nas à atualidade. Para acentuar a tradição, recuperaram uma casa tipicamente beirã, investiram na amesendação, na garrafeira e no serviço cuidado. O resultado é uma harmonia embalada pelo sino que ecoa de meia em meia hora. “A proximidade é o que nos distingue. Aqui as pessoas desaceleram”, garantem. Aprecie pois, sem pressas, o pão feito no DeRaiz (Rua da Capela, 13, Rebordinho. Tel. 928052162), antes de celebrar o tributo familiar nos “Ovos verdes da avó Raquel” e nos “Pastéis de massa tenra da avó Nazaré”. Experimente o “Atum à Bulhão Pato”, os carolos de milho – a sazonalidade dita o acompanhamento – e não perca o “Pato assado com arroz de forno, laranja e pinhões”. Junto à lareira, acesa no tempo frio, no final, a escolha complica-se: “Rabanada e creme de baunilha” ou “Pão de ló húmido”? Preço médio: €40.
A caminho de São Pedro do Sul, instalado há mais de 30 anos à beira da estrada, O Monte (EN 16, 20, Bodiosa Tel. 962302053) ganhou nova vida quando Marco Marques e a esposa assumiram o negócio familiar, já na terceira geração. Alteraram espaço e conceito, preservando receitas de antigamente. É o caso da vitela de Lafões, certificada, assada em forno a lenha e em barro de Molelos, “como a minha avó fazia”. Os pratos tradicionais podem ser apreciados num menu regional. Na faceta de autor, destaque para o “Osso gratinado”, nas entradas e o “Ossobuco”, nos principais. Preço médio: €30.
O entorno do edifício envidraçado, de linhas modernas, preso a uma enorme pedra, dá as primeiras pistas sobre a experiência. Marcante na paisagem vinhateira do Dão, o cenário, sublinhado por vinhedos e pelo horizonte serrano, inspira um desfile de sabores profundamente ligado à terra e à horta, que inicia com uma abordagem sustentável à ervilha: é trabalhada em seis técnicas e apresentada sobre cerâmica elaborada artesanalmente na casa por Geraldine Esteves. No restaurante Mesa de Lemos (Quinta de Lemos, Passos de Silgueiros. Tel. 961158503), premiado com Garfo de Ouro no Guia Boa Cama Boa Mesa, tudo se aproveita, da rama ao legume, e a filosofia é extensível à restante degustação assinada por Diogo Rocha. A viagem adaptada aos produtos da estação, de sete ou nove momentos, também se faz junto ao mar: vai até à Islândia, para o bacalhau, passa em Sesimbra, para o besugo, e no Algarve captura o peixe-galo. Da serra do Caramulo chega o cabrito. Sempre na companhia de azeite e vinho da casa, finaliza com a maçã das Beiras e o “Doce de ananás dos Açores”. A cozinha, à vista, traduz a feliz conjugação de técnica e alinhamento com os valores da região, de que este restaurante é embaixador. Preço médio: €130.
Caça e tradição fora do centro
Começou como clube, onde os caçadores se juntavam em tainadas. Aberto como restaurante desde 1994, agora com nova geração a dar continuidade, o Clube de Caçadores (Avenida do Aeródromo, Muna. Tel. 232450401) permanece porto seguro para confeções de caça. Pique o fumeiro, os “Torresmos do redenho” e as “Petingas fritas”, enquanto aguarda pelos afamados “Arroz de perdiz com míscaros”, “Javali na púcara”, “Arroz de costelas em vinha-d’alhos” e “Cabrito de churrasco”. “Migas da governanta” encerram. Preço médio: €30.
O diminutivo assenta bem a este recanto tradicional, pelo que se recomenda reserva prévia. O espaço do Cantinho do Tito (Rua Mário Pais da Costa, 10, Abraveses Tel. 232187231) é sempre curto para acolher todos os que, residentes ou de passagem, procuram o conforto e a exímia confeção de pratos de tacho como os “Filetes de polvo com migas de couve”, o “Arroz de costelas em vinha-d’alhos” ou o “Galo de cabidela” e as “Favas guisadas com carne”, especialidades que se conjugam com propostas diárias. Preço médio: €30.
A casa rústica e acolhedora onde habita a Púcara By Old Tavern (Travessa do Lago, Urbanização, Quinta do Catavejo, 44, Viseu. Tel. 934597584) serve de refúgio a vários emblemas da região. Os vinhos pedem maridagem com a variada tábua de entradas, que antecipa os principais de cariz local: “Arroz de carqueja”, “Polvo à Púcara”, “Vitela na Púcara” ou “Tibornada de bacalhau”. Acolhedor, prestável e bom conselheiro, o serviço acompanha de perto seja junto à lareira ou lá fora, na esplanada. Preço médio: €25.
Cumprir a tradição das enguias em barrica na Feira de São Mateus
A receita e o processo de conservação nasceram precisamente para abastecer a popular Feira de São Mateus, uma das mais antigas da Península Ibérica, que se realiza em Viseu desde 1392, de enguias provenientes da ria de Aveiro. A tradição iniciou-se ainda no século XIX e consolidou-se com a inauguração, em 1942, da Comur – Fábrica de Conservas da Murtosa, de onde saíram milhões de barricas com destino aos muitos apreciadores pelo mundo fora.
Com o tempo, as barricas de madeira deram lugar às de metal, mas no conteúdo a receita permanece a mesma: as enguias são fritas em espetada antes de mergulharem num molho de escabeche, avinagrado, conservando o propósito inicial de prolongar a durabilidade e ao mesmo tempo adicionar sabor. Produto sazonal, as barricas estão à venda exclusivamente durante a Feira de S. Mateus, em Viseu onde ainda hoje são muitas as tasquinhas dedicadas ao petisco que aqui se instalam enquanto dura o evento, que em 2025 decorre até dia 21 de setembro.