Num mercado energético cada vez mais pressionado pela procura por soluções sustentáveis, a portuguesa Windcredible apresenta uma proposta inovadora que promete trazer a energia do vento para o coração das cidades. No mais recente episódio do programa Coffee Break, António Santos, um dos repensáveis pela startup, explicou a ambição da empresa: democratizar o acesso à energia eólica com um modelo urbano, silencioso, modular e de fácil instalação.

Desenvolvida inicialmente como projeto académico, a turbina WindCradle começou por ser desenhada pelo engenheiro Nelson Batista no âmbito da sua tese de doutoramento. Quinze anos depois, o conceito evoluiu para um produto com três escalas distintas — nano, urbana e farm — cada uma desenhada para responder a diferentes contextos de utilização, desde aplicações portáteis e fora da rede até à produção distribuída em edifícios urbanos e pequenas infraestruturas.

“Captamos o vento de todas as direções, especialmente em contexto urbano, onde é mais turbulento. E fazemos isso sem ruído nem vibração”, descreve António Santos. O silêncio operacional e a capacidade de funcionar em ambientes caóticos tornam a Windcredible particularmente atraente para a instalação em zonas residenciais ou comerciais.

O modelo nano, com apenas um metro de pá, está vocacionado para aplicações móveis e de emergência — caravanas, sensores remotos, comunicações em campo ou situações de blackout. Já o modelo urbano, com 2,40 metros, é apontado como solução complementar aos painéis solares, funcionando como “o painel solar da noite”. Um terceiro modelo, com 8 metros de pá, está pensado para explorações maiores ou parques empresariais, embora ainda esteja em fase de desenho.

Apesar do entusiasmo, a tecnologia continua em fase piloto. A startup está a testar os primeiros protótipos com parceiros como o Porto de Lisboa, a Nestlé, a Galp e a Prio. O ambiente exigente da zona portuária serve como campo de provas para a resistência dos materiais, sobretudo à corrosão marítima, mas também para o desempenho energético em condições reais e burocraticamente exigentes.

“Ainda precisamos de tempo”, admite António Santos. A Windcredible quer monitorizar um ciclo completo de estações do ano para validar os seus sistemas. Além disso, está a investir na hibridização com sistemas fotovoltaicos, visando maximizar a autonomia energética dos utilizadores. O objetivo é permitir que um edifício urbano possa armazenar energia eólica durante a noite, quando os painéis solares estão inoperacionais.

Do ponto de vista industrial, a produção está a ser localizada em território nacional. As pás são fabricadas em Vila Franca de Xira, na unidade Xiraplás, enquanto os geradores ainda dependem de fornecimento externo. “A Europa abandonou há cerca de 12 anos o investimento neste tipo de tecnologia”, recorda o fundador, numa crítica ao desinvestimento estrutural que agora exige um esforço redobrado de reindustrialização.

No plano financeiro, a Windcredible já captou investimento da Techstars (através do programa de sustentabilidade em Paris), da Portugal Ventures e de um business angel do norte do país. Mas o próximo salto requer uma nova ronda. “Estamos num ponto de viragem. Há muito interesse nacional e internacional, mas o que pedimos agora é tempo — e capital — para consolidar este avanço”, explica.

A empresa prevê continuar a sua trajetória com 10 projetos piloto em curso e uma ambição clara de escalar para 50 nos próximos meses. O futuro pode passar pela venda de licenças, pela produção própria de turbinas ou até pelo fornecimento direto de energia — um posicionamento ainda em definição.

Num momento em que a resiliência energética se tornou prioridade — como ficou demonstrado no recente apagão que afetou antenas móveis e infraestruturas críticas em Portugal — a Windcredible posiciona-se como um ator relevante na construção de uma malha energética descentralizada e adaptada aos desafios urbanos do século XXI.