
À medida que as órbitas baixas da Terra se tornam cada vez mais povoadas por constelações de satélites de telecomunicações, o risco de colisões espaciais cresce a um ritmo que preocupa a comunidade internacional. A proliferação de satélites — ativos, inoperativos e fragmentos de detritos — está a criar um ambiente orbital congestionado, onde as manobras de prevenção se tornaram parte da rotina diária de muitos operadores.
Com a multiplicação de alertas de conjunção — previsões de aproximações perigosas entre objetos espaciais — a Agência Espacial Europeia (ESA) adjudicou à tecnológica GMV o desenvolvimento de um serviço avançado para prevenir colisões, pensado para responder às exigências das novas mega-constelações.
A solução, batizada FOCUSOC NXTGEN, é uma evolução do atual serviço Focusoc da GMV. A nova plataforma irá integrar múltiplas fontes de dados, melhorar os algoritmos de avaliação de risco e acelerar o tempo de resposta a eventos críticos. O objetivo é simples, mas ambicioso: dotar os operadores de ferramentas capazes de proteger milhares de satélites num espaço cada vez mais competitivo e arriscado.
Uma das inovações centrais será a criação de um centro de controlo no Reino Unido, que prestará serviços a clientes britânicos e internacionais. Esta infraestrutura terá capacidade para processar volumes de dados substancialmente superiores aos atuais — mais de 7 GB diários —, filtrando falsos positivos e detetando ameaças reais com maior precisão.
O FOCUSOC NXTGEN foi concebido para lidar com constelações de mais de 1.000 satélites, um salto face à capacidade do sistema atual, limitado a algumas dezenas. A sua arquitetura escalável permitirá reforçar a capacidade de cálculo em função da procura, enquanto novas interfaces darão aos operadores uma visão global em tempo real, otimizada para operações de larga escala.
Entre as funcionalidades anunciadas estão uma base de dados dedicada de conjunções para análise de tendências, um simulador de manobras desenvolvido com base na experiência da GMV em Dinâmica de Voo, e integração via API para máxima eficiência operacional. O sistema contará ainda com redundância total para garantir funcionamento contínuo, 24 horas por dia, sete dias por semana.
O lançamento está previsto para o verão de 2026 e será acompanhado de perto pela ESA, que vê nesta solução um pilar para a sustentabilidade das atividades espaciais.
“O êxito e a sustentabilidade a longo prazo das operações no espaço dependem da segurança orbital”, afirmou Laurent Jaffart, diretor de Conectividade e Comunicações Seguras da ESA. “Este serviço será essencial para que inovações apoiadas pela ESA possam prosperar, garantindo comunicações rápidas e fiáveis sem interrupções.”
O projeto integra-se no Programa de Competitividade Básica do ARTES, iniciativa da ESA que financia e apoia o desenvolvimento de tecnologias inovadoras para reforçar a posição da Europa e do Canadá no mercado global das telecomunicações por satélite.
Com o FOCUSOC NXTGEN, a GMV reforça a sua posição na vanguarda da segurança orbital, num momento em que a corrida pelas órbitas baixas exige mais do que capacidade técnica: exige uma nova disciplina de gestão de tráfego espacial, onde prevenir vale mais do que remediar — especialmente a 500 quilómetros acima da Terra.