
As redes móveis estão prestes a dar um salto qualitativo: de transportar dados para perceber o ambiente. A Nokia situa esta evolução no conceito 6G Sensing, cujo pilar é a tecnologia JCAS (Joint Communication and Sensing), um método que reutiliza as próprias ondas de rádio para interpretar o espaço que rodeia as antenas e os dispositivos.
A empresa salienta que o avanço em relação ao 5G não consiste apenas em aumentar a largura de banda, mas em dotar a infraestrutura de uma “inteligência sensorial” que, através de algoritmos de machine learning, gera um mapa digital em tempo real. Em termos simples, a rede transforma-se num radar distribuído: identifica objetos, pessoas ou condições ambientais sem necessidade de instalar sensores adicionais.
Os primeiros testes já foram concluídos em ambientes industriais, dentro do consórcio alemão KOMSENS-6G, onde a Nokia colabora com atores como a Bosch para validar a deteção integrada nas futuras especificações do padrão. Os resultados, de acordo com a empresa, confirmam a viabilidade técnica do sistema em cenários produtivos exigentes.
A aplicação prática mais imediata surge na mobilidade inteligente. Ao reconhecer peões ou veículos ocultos pela neblina ou cruzamentos, a rede poderia fornecer dados cruciais para os sistemas de condução autónoma e para os gestores de tráfego urbano, aumentando a segurança rodoviária.
Outro campo de testes é a saúde digital. Centros de investigação como o Instituto Fraunhofer e o hospital universitário Charité de Berlim já estão a avaliar a monitorização de constantes vitais sem contacto físico. O sinal sem fios deteta microvariações na respiração ou no pulso, o que abre a porta a cuidados remotos menos invasivos.
Em eventos com multidões ou fábricas, a deteção em rede pode antecipar riscos (por exemplo, aglomerações perigosas ou a presença de operários em zonas restritas) e desencadear respostas automáticas. Da mesma forma, o mesmo princípio serviria para monitorizar parâmetros ambientais e emitir alertas precoces em caso de incêndios ou inundações.
Para além da vertente técnica, o 6G Sensing representa uma nova oportunidade comercial para os fornecedores de serviços. Ao oferecer soluções de localização, análise ou segurança baseadas na infraestrutura existente, os operadores poderiam diversificar as receitas e direcionar-se para setores como logística, urbanismo ou agricultura de precisão sem ter de investir em instalações de hardware específicas e dispendiosas.
Rolf Werner, Vice-Presidente Sénior para a Europa da Nokia, explica: “A transição do 5G para o 6G não será apenas um salto em termos de velocidade, mas também de inteligência. Com o 6G Sensing, dotamos as redes de um verdadeiro “sexto sentido””.
Esta combinação de conectividade e perceção estabelece as bases para uma plataforma “mais inteligente, sensível e útil para a sociedade”, na qual a rede deixa de ser um mero canal de dados para se tornar um ator ativo da digitalização industrial.