
A União Europeia definiu como prioridade a transição dupla (digital e sustentável) para fortalecer a competitividade e a recuperação económica do continente. Neste contexto, as PME – que representam 99% do tecido empresarial europeu – enfrentam o desafio de incorporar soluções de IA enquanto melhoram o seu desempenho ambiental. Quando também integram objetivos sociais (por exemplo, bem-estar no trabalho ou igualdade), fala-se de transição tripla.
O que faz com que algumas PME avancem com sucesso nessas transformações simultâneas, enquanto outras não conseguem? Um estudo realizado pelos professores Joan Torrent, da Faculdade de Economia da UOC (Universitat Oberta de Catalunya), e Dolores Añón, do Departamento de Economia Aplicada da Faculdade de Economia da Universitat de València, lança luz sobre as características e condições que mais influenciam esta adoção conjunta de IA e sustentabilidade.
Os resultados indicam que as PME de maior dimensão, de crescimento rápido e com finanças sólidas lideram a adoção combinada de IA e práticas sustentáveis. Estas empresas dispõem de maiores recursos para investir em tecnologias emergentes e projetos “verdes”, podendo assumir os riscos associados à inovação sem comprometer a sua viabilidade.
Por outro lado, as microempresas com recursos limitados tendem a enfrentar mais e maiores obstáculos para empreender simultaneamente uma transformação digital avançada e melhorias ambientais.
Também se destaca a capacidade de inovação e a colaboração como motores da mudança; as PME que já inovam (por exemplo, desenvolvendo novos produtos ou processos) e aquelas com uma cultura de colaboração ativa – seja em redes empresariais, clusters ou projetos de I&D – mostram uma maior propensão para empreender esta dupla transformação.
Estar integrado em cadeias de valor globais é outro fator catalisador: as empresas que participam em mercados internacionais estão expostas mais cedo a exigências ambientais mais rigorosas e às últimas tendências digitais, o que as leva a adotar a inteligência artificial e práticas sustentáveis para se manterem competitivas.
Partilhar conhecimento em ecossistemas colaborativos (com clientes, fornecedores ou centros tecnológicos) também facilita a implementação de soluções de IA, ao mesmo tempo que são incorporadas medidas de eficiência energética, redução de resíduos ou outras iniciativas ecológicas.
A investigação sublinha ainda o papel do fator humano e do ambiente: as características da equipa de gestão das PME influenciam significativamente a decisão de investir em IA e sustentabilidade. Com efeito, os gestores com visão estratégica, mentalidade inovadora e familiaridade com as novas tecnologias tendem a impulsionar com maior determinação estes projetos dentro das suas organizações.
Ao mesmo tempo, um ambiente local favorável, com disponibilidade de trabalhadores qualificados em tecnologias digitais e consciência ambiental, constitui um apoio crucial para a transição dupla e tripla.
A presença deste talento especializado facilita a adoção de ferramentas de IA (como algoritmos de automação ou análise de dados) e garante que as novas práticas sustentáveis sejam implementadas de forma eficaz.
De facto, contar com pessoal formado e sensibilizado facilita a redução da resistência à mudança e potencia os resultados destas iniciativas. Da mesma forma, dispor de um ecossistema de apoio composto por fornecedores tecnológicos, infraestruturas digitais, incentivos públicos e redes de aconselhamento pode abrir caminho para que mais PME integrem a inteligência artificial com critérios de sustentabilidade.
No plano geográfico, o estudo reflete importantes disparidades regionais dentro da própria UE; enquanto as PME do norte e do oeste da Europa lideram a adoção da IA juntamente com práticas ambientais e sociais, muitas empresas do sul e do leste estão atrasadas neste aspeto.
Estas diferenças explicam-se, em parte, pelas disparidades na infraestrutura digital, na disponibilidade de talentos e no apoio institucional entre regiões. Ou seja, os ambientes mais avançados – com redes de inovação consolidadas, melhor acesso a pessoal qualificado e políticas públicas de promoção da digitalização verde – estão a permitir que as suas PME dêem mais rapidamente o salto para a IA sustentável, em contraste com áreas onde a falta dessas condições retarda o progresso.
Em suma, compreender quais fatores impulsionam a transição digital e sustentável nas PMEs europeias é fundamental para replicar esses sucessos em maior escala. O perfil das empresas pioneiras é claro: organizações com recursos, visão inovadora, abertura colaborativa e apoio do ambiente. Graças a isso, elas conseguem integrar a inteligência artificial com a sustentabilidade na sua estratégia de negócios.
Identificar estas alavancas permite orientar melhor tanto as decisões corporativas como as políticas públicas, com o objetivo de que a dupla transição das PME seja uma realidade em toda a Europa de forma equilibrada e eficaz.