Pode um balneário despedir um treinador?
Pode.
Mas nunca sozinho.

No futebol, há verdades que não se dizem em voz alta, mas que todos conhecem. Uma delas é esta: quando um treinador cai, raramente é apenas pelos maus resultados. Muitas vezes, cai porque deixou de ter o balneário com ele. Ou pior: porque o balneário se voltou contra ele.

Mas atenção ao equívoco: um grupo de jogadores não tem, por si só, o poder de despedir um treinador. Não o decide, não assina a rescisão, não escolhe o sucessor. Contudo, pode minar-lhe o terreno, cortar-lhe a voz, retirar-lhe a autoridade. E, quando isso acontece, é apenas uma questão de tempo até alguém, na estrutura diretiva, aproveitar o momento e puxar o gatilho.

A história do futebol está cheia de exemplos assim. Um treinador que perde o balneário raramente se salva. E, para o perder, basta confrontar os egos errados, mexer nos privilégios certos ou, simplesmente, exigir profissionalismo onde já só há rotinas. Quando os resultados não ajudam, os jogadores deixam de correr. E, se deixarem de correr, tudo o resto ruirá. O futebol não perdoa um grupo que já não acredita.

Mas é precisamente aqui que a pergunta se torna mais complexa. Porque um balneário só despede um treinador se tiver apoios fora de campo. Apoios dentro da direção, da SAD, da estrutura. Apoios silenciosos de empresários que querem proteger os seus ativos. Apoios de comentadores e jornalistas que colocam a narrativa a circular. Apoios de adeptos fartos de más exibições, prontos a gritar “rua” ao primeiro tropeço. O treinador, nesse contexto, fica isolado. Sem resultados, sem grupo e, sobretudo, sem proteção institucional.

É ingénuo pensar que o balneário é um corpo coeso, uma voz única. Há sempre divisões internas. Uns querem ver o treinador cair porque perderam espaço na equipa. Outros preferem que fique, por respeito ou por simples pragmatismo. E há os que apenas observam, à espera de saber quem vai ganhar a queda de braço. Quando se diz que “o balneário está dividido”, o destino do treinador está praticamente traçado. Porque um grupo que não puxa para o mesmo lado é um grupo que deixa de competir — e, no futebol de hoje, isso é sentença.

Sim, o balneário pode despedir um treinador. Mas só o faz quando alguém de fora lhe dá esse poder. E isso diz-nos mais sobre a fragilidade das estruturas do que sobre a força dos jogadores. No fim, quem cede à pressão do balneário abre um precedente perigoso: o da instabilidade constante, onde se treina sob ameaça e se lidera com medo. E, nesse futebol, ninguém ganha.

E mais não digo…