Portugal poderá não conseguir cumprir as metas impostas por Bruxelas para a reciclagem de embalagens este ano. O alerta é da Sociedade Ponto Verde (SPV), que denuncia um crescimento “residual” na reciclagem, apesar do reforço de investimento no sistema nacional.

No primeiro semestre de 2025, o Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens (SIGRE) registou apenas 231 mil toneladas de embalagens recolhidas e recicladas, um crescimento de apenas 2% face a 2024, apesar de um investimento histórico de 95 milhões de euros, mais 41 milhões que no ano anterior.

“Portugal está em risco de incumprimento”, afirma Ana Trigo Morais, CEO da SPV, sublinhando que o setor da reciclagem de embalagens era até agora o único a cumprir as metas europeias, com exceção do vidro.

Vidro em queda e setor da restauração sem resposta

A situação é particularmente grave no setor do vidro, com uma quebra de 1% nas quantidades recicladas, o que se traduz em menos 1.300 toneladas recicladas face a 2024. Segundo a SPV, 40% do vidro perdido tem origem no canal HORECA (Hotéis, Restaurantes e Cafés), onde a recolha seletiva é escassa ou ineficaz.

“Não basta pedir aos cidadãos para separarem os resíduos; é preciso dar-lhes condições”, alerta a responsável da SPV, sublinhando a necessidade de um sistema de recolha mais eficaz e adaptado às exigências de cada setor.

Materiais como o cartão alimentar e o alumínio também preocupam

As embalagens de cartão para alimentos líquidos (ECAL) registaram uma queda de 9%, enquanto o alumínio, apesar de uma subida de 1%, continua longe das metas estipuladas. Os restantes materiais apresentam crescimentos ligeiros: +4% no papel/cartão e +3% no plástico.

A meta é clara: até ao final de 2025, Portugal deverá garantir a recolha seletiva de 65% das embalagens colocadas no mercado. Caso falhe, Bruxelas poderá aplicar sanções. “Já houve um aviso formal”, confirmou Ana Trigo Morais.

Europa exige mais: metas apertam até 2040

As novas diretrizes europeias exigem que, até 2030, 75% dos resíduos de embalagens sejam reciclados. A partir de 2025, os Estados-membros deverão ainda reduzir os resíduos de embalagens per capita em 5% face a 2018, atingindo 15% de redução até 2040.

Apesar da crescente consciência ambiental dos portugueses, a falta de ecopontos acessíveis, contentores sobrelotados e sistemas de recolha ineficazes continuam a travar o progresso.

“Os resíduos são valores económico e ambiental”, conclui Ana Trigo Morais. “Se forem reciclados, poupamos recursos à natureza. Mas para isso, é preciso agir já.”