
Como os dados têm comprovado, a freguesia de Santiago, localizada no concelho de Sesimbra, tem sofrido uma enorme (e preocupante) queda demográfica nas últimas duas décadas.
Num país de uma grande mobilidade interna por parte do português comum, especialmente na procura por melhores oportunidades e condições de vida, é necessário saber e questionar o porquê de existir uma tendência demográfica tão drástica, um fenómeno de estagnação económica, social e até mesmo cultural de uma freguesia histórica que se encontra numa situação de total divergência perante as restantes freguesias integradas no concelho.
Perante os dados desfavoráveis da freguesia, a questão essencial foca-se na determinação das causas do fenómeno, onde se divide em duas possíveis causas: uma de origem naturalística, onde a queda demográfica advém de uma passagem natural do tempo e das tendências habitacionais que têm vindo a mudar a matriz da nação, ou por outro lado, uma causa de origem puramente política, neste caso, numa espécie de lesão por uma omissão política fraca e insustentável para com os munícipes de Santiago.
Perante as duas causas, somente com facilitismo e comodismo é que se responderia a favor da primeira causa, uma causa que remete a uma simples aleatoriedade de factos que condicionam toda uma freguesia durante mais de duas décadas, uma aleatoriedade que não saberia responder a uma enorme estagnação económica da freguesia, uma aleatoriedade insuficiente perante uma fuga intensa dos mais jovens para outras freguesias.
A verdade é que somente podemos culpabilizar uma inação política que se tem revelado através de respostas incompletas, demoradas e até mesmo desajustadas perante os verdadeiros problemas.
Entre os vários problemas, poderíamos criar todo um enorme projeto académico para dissecar todos os factos que comprovam a fraca resposta perante a mobilidade dos munícipes da freguesia, todavia, algumas questões demonstram-se simples na sua exposição, visto que é um queixume, puro e legítimo, de qualquer um que esteja integrado na comunidade sesimbrense.
Começando pelas infraestruturas, não faz sentido apresentar uma vila que se encontra limitada nos seus acessos, uma vila que apresenta um potencial económico pulsante deve ter o mérito de se conectar com uma maior pluralidade de entradas e saídas, de forma a permitir a mobilização diária para outros locais (em trabalho, por exemplo), mas também para permitir a maior abertura da vila a todos os cidadãos do concelho e do distrito.
Para uma economia pulsante e para uma vila atrativa para todos, é necessário apresentar uma vila que está aberta ao progresso e à novidade, todavia, são demonstrados elementos completamente contrários ao desenvolvimento, onde a grande densidade de infraestruturas públicas a necessitar de reabilitação demonstram um desleixo institucional que não respeita as necessidades dos atuais e futuros utilizadores.
A falta de cuidado nas acessibilidades, a falta de cuidado num brio puramente institucional, e no limite, uma falta de cuidado com a qualidade dos serviços, não pode estar sujeita a mero naturalismo do tempo, mas sim, a uma enorme e conexa negligência política.
Relativamente à habitação, não nos parece fazer sentido a existência de uma Estratégia Local de Habitação (vulgo, ELH) insuficiente e ideológica que em nada respeita as necessidades da população local, onde apresenta mais hipóteses do que propriamente respostas às necessidades de todo o concelho, e em especial, não consegue responder aos problemas da freguesia sui generis do concelho.
Não é próprio de uma ação política diligente a inexistência de exemplos práticos e específicos sobre possíveis soluções para os problemas habitacionais do município, não é próprio de uma ação diligente na apresentação de fracas respostas que acabam por cair na ambiguidade e no exagero teórico que em nada contribui para uma “pronta-solução”.
Não pode existir a existência de uma decadência conectada a uma espécie de perseguição ideológica através de uma insistência teórica de regulação de mercado que é formulada através de limitações e restrições ao próprio mercado, que em grande medida demonstra algum desconhecimento do funcionamento do mercado e as causas de casos graves de congestionamento do progresso, é então totalmente contrário a uma ação política que se deve centrar na criação de oportunidades e de mecanismos de performance favoráveis a todos, a proposta ideológica está na criação de regras de abrandamento de multiplicação de possível oferta, que economicamente falando, é um dos maiores fatores que contribui para a resolução de um problema patológico local e nacional, que é o da estimulação artificial e exagerada dos preços.
Como os dados apresentados pelo INE apontam, nada consegue responder à grande queda e posterior estagnação na criação de novos polos habitacionais na freguesia, nada responde à falta de estímulo para o arrendamento e compra de habitação permanente, onde segundo os últimos dados, o concelho de Sesimbra é um dos concelhos que mais se cobra de IMI em todo o distrito de Setúbal (tendo em conta que é totalmente derrotado por concelhos mais competitivos através de uma redução tributária mais agradável aos olhos dos investidores).
Relativamente à falta de condições de afixação de novos residentes, é fácil de comprovar que existem vários fatores que condicionam a afixação dos mais diversos agregados familiares, basta olhar para a grande ausência de instituições escolares que permitam a continuação do percurso escolar na mesma freguesia (pelo qual obriga a migração para as freguesias de Castelo ou Quinta do Conde, por exemplo), a falta de diversidade comercial na freguesia por conta de uma espécie de uniformização desnecessária da matriz negocial da freguesia e até mesmo a falta de instituições essenciais de qualidade e reformadas que sirvam a população.
Disposto alguns (dos muitos) factos que comprovam a falta de uma ação política decente na freguesia, a verdade é que é necessária uma mudança no paradigma governamental da localidade, com uma entrada mais reformista e progressista, que consiga responder às enormes necessidades dos atuais e futuros residentes da vila, visto que a realidade poderá ser reversível no médio – longo prazo, principalmente com políticas sólidas e abrangentes.