
É um Fernando descomplexado, empenhado em ser um pai, marido, filho e irmão acima da média. O Pimenta vai indo com a corrente, mergulhado na vontade de sempre, mas sem se torturar a si mesmo quando um objetivo não é cumprido. A humanidade, que em Pimenta se pensa ser substituída por superpoderes, doutrinou o canoísta. Mas um campeão também se faz de sensibilidade. É este é o bronze da entrada numa fase da vida em que o Fernando e o Pimenta cabem na mesma canoa e têm sucesso em conjunto.
A armadura que o compõe foi esculpida a pensar em qualquer Adamastor que possa surgir na água. Sabe, no entanto, adequar-se melhor a determinados obstáculos. O K1 1000 é uma das especialidades de Fernando Pimenta, a única que já lhe deu medalhas olímpicas. Não sendo supérfluos os outros eventos dos Mundiais de Milão, este era aquele em que tinha algo a perder: o título de campeão conseguido em Duisburg, na Alemanha.
Os corpanzis que se alinham na largada despegam-se uns dos outros quando os troncos de árvores em forma de braços começam a empurrar cada vez mais água para trás. Na nuvem de pensamento de Fernando Pimenta surgiu a medalha e, movido por esse engodo, descartou todos. Ainda assim, depois de liderar a prova desde o início, nos últimos metros, Bálint Kopasz (1.º lugar) e Thomas Green (2.º lugar) superaram-no.
118 medalhas internacionais, 27 em Mundiais. Pode parecer imenso, mas Fernando Pimenta tem possibilidade de ainda ir mais longe. Este domingo, estará na final de K1 500 e contribuir para o medalheiro português onde Gustavo Gonçalves, João Ribeiro, Messias Baptista e Pedro Casinha já depositaram um ouro em K4 500.
Chegou aos ouvidos de Fernando Pimenta que estava demasiado velho. Os 36 anos podem ainda não ser o fim.