O AgitÁgueda 2025 chegou ao fim com 23 dias de intensa programação, que transformaram novamente a cidade de Águeda num dos principais destinos culturais do verão português. A edição deste ano reafirmou a notoriedade crescente do festival, que combina arte urbana, música ao vivo, performances, gastronomia e experiências visuais, atraindo visitantes de todo o país e do estrangeiro. Em exclusivo à nossa reportagem, o presidente da Câmara Municipal, Jorge Almeida, traçou um retrato claro do impacto do evento e reforçou a sua visão estratégica para o futuro da cidade.

“Foram efetivamente dias absolutamente incríveis. Não foram só 23, porque o dia zero também conta. Tivemos muitos visitantes e uma cidade completamente transformada”, afirmou o autarca, destacando que, apesar do encerramento da programação principal, o AgitÁgueda “não se esgota” nesse período: “Até ao final de setembro vamos continuar a ter todas as instalações artísticas, nomeadamente os chapéus e outras estruturas. E vamos continuar a receber muitos visitantes.”

A declaração reflete a aposta da autarquia em prolongar o efeito do festival para além das datas oficiais, consolidando o AgitÁgueda como uma ferramenta de dinamização turística e projeção da imagem da cidade.

Crescimento sustentado e procura crescente

Jorge Almeida salientou que, ano após ano, o evento tem registado um aumento visível de afluência e notoriedade. Os indicadores de presença, recolhidos de forma indireta através do tráfego registado, da ocupação do espaço urbano e da pressão sobre os serviços locais, apontam para uma procura crescente que, segundo o presidente, “não deixa dúvidas quanto ao sucesso do modelo”.

“Águeda e o AgitÁgueda têm cada vez mais visitantes. E é cada vez mais um evento dominador no panorama regional dos festivais de verão. Não é só o palco — é o que se passa à volta, nas ruas, no comércio, na restauração”, afirmou.

A este respeito, o autarca confirmou que o impacto é particularmente sentido no comércio local, cujo movimento atinge picos difíceis de igualar noutras alturas do ano.

“Os comerciantes estão ansiosos pela chegada do festival. Pelos chapéus, pelas pessoas. Porque o número de visitantes multiplica-se — e os clientes também. Isso cria naturalmente novas oportunidades de negócio”, frisou. “Ano após ano cresce a procura e ano após ano crescem também as nossas respostas. Há uma procura desmesurada a que não estávamos habituados.”

Críticas pontuais e resposta institucional

Questionado sobre as críticas públicas emitidas pela AEA (Associção Empresarial de Águeda) resultante da fusão entre a Associação Empresarial e a Associação Comercial de Águeda, que apontaram dificuldades operacionais durante o evento — desde interrupções no fornecimento elétrico a constrangimentos no trânsito — Jorge Almeida reagiu com firmeza, defendendo a coerência da estratégia municipal.

“Sinceramente, não percebo qual era o objetivo. Quando dinamizamos o espaço da cidade, criamos fluxos maiores de público. Isso serve precisamente para trazer mais gente para o comércio, para os nossos serviços, para a nossa cidade. É o que todos os municípios e associações comerciais procuram.”

Sem negar que existem desafios logísticos associados ao crescimento do evento, o presidente da autarquia procurou relativizar o impacto e enquadrá-lo no contexto de grandes realizações públicas:

“Naturalmente que há problemas de trânsito. Isso acontece até nas festas da minha aldeia. Quando há muita gente, há constrangimentos. Mas isso é sinal de vitalidade. Estamos a tomar medidas todos os anos: temos mais parques de estacionamento, temos soluções em redor do evento. E, comparando com outros certames, não é assim tão dramático.”

Modelo gratuito é “condição essencial” para o sucesso

O formato do AgitÁgueda, totalmente gratuito e vivido no espaço público, tem sido destacado como uma das chaves do sucesso do evento. Face a sugestões de alteração do modelo, nomeadamente introduzindo bilheteiras para os concertos principais, Jorge Almeida rejeita essa hipótese e alerta para os riscos de descaracterização:

“Este é um modelo vencedor. Se começássemos a colocar vedação e bilheteira, mesmo com um preço simbólico, estaríamos a retirar o AgitÁgueda da cidade. E isso mataria a sua essência.”

Na sua perspetiva, a força do festival está precisamente na sua natureza aberta e imprevisível, que convida à participação espontânea, à circulação livre e ao envolvimento de públicos muito diversos.

“Enquanto há um concerto, há tanta gente a circular pela cidade, a deliciar-se com as experiências que oferecemos. É isso que surpreende, que cria memórias, que faz com que as pessoas recomendem, regressem e tragam mais gente. Essa dinâmica não se consegue com um modelo fechado.”

“Águeda transformou-se. E isso é motivo de orgulho”

Num tom mais emotivo, Jorge Almeida fechou a entrevista com uma reflexão sobre a evolução da cidade e o papel do festival na afirmação da identidade aguedense:

“Todos os anos temos diferenças, melhorias, e o público responde com mais força. Temos aqui uma receita de sucesso. E não precisamos de falsas modéstias. Quem vive cá há anos sabe o que esta cidade era — e o que se tornou. Águeda transformou-se. E isso é extraordinário.”

Dados de contexto (2024)

Apesar de os dados de 2025 ainda não terem sido divulgados oficialmente, os números da edição anterior ajudam a enquadrar o crescimento do evento:

  • 943.830 visitantes em 2024, oriundos de 296 concelhos e 61 países
  • Impacto económico estimado: 7,8 milhões de euros
  • Retorno por euro investido: 6,55€
  • Pico de afluência: mais de 61 mil pessoas num só dia
  • Volume de transações em julho de 2024 no concelho: 37,2 milhões de euros
  • 59% dos visitantes eram homens, com predominância na faixa dos 50–59 anos
  • 35% visitaram o evento pela primeira vez, 9% estiveram em todas as edições

Com uma identidade cada vez mais consolidada e um impacto que transcende os limites do concelho, o AgitÁgueda afirma-se como uma das maiores realizações culturais de Portugal. Jorge Almeida não hesita: o sucesso não está em mudar o modelo, mas em continuar a refiná-lo — com ambição e orgulho no caminho trilhado.