Um trabalho publicado recentemente na revista The Lancet Healthy Longevity mostra que a poluição atmosférica "pode atrasar o processamento mental, prejudicar a memória e provocar alterações na estrutura cerebral na velhice, acelerando o declínio cognitivo", segundo a agência noticiosa espanhola EFE.

Por outro lado, um estudo da Sociedade Espanhola de Cardiologia (SEC) e da Fundação Espanhola do Coração (FEC) descobriu que a poluição aumenta as hospitalizações e a mortalidade por enfarte agudo do miocárdio durante o internamento, que, em dias com níveis elevados, pode aumentar até 14%, adianta a EFE.

No caso do primeiro estudo, foram investigados cidadãos britânicos nascidos a partir de 1946, centrando-se o trabalho em adultos de meia-idade (45 a 64 anos), tendo sido avaliada a sua exposição ao dióxido de azoto (NO2), óxidos de azoto (NO?) e partículas finas (PM10 e PM2.5).

As partículas em suspensão englobam substâncias minerais e/ou orgânicas que se podem encontrar na atmosfera sob a forma líquida ou sólida, sendo as mais nocivas para a saúde humana as que possuem um diâmetro aerodinâmico inferior a 10 µm, denominadas PM10, pois podem entrar no sistema respiratório, explica a Agência Portuguesa do Ambiente.

Quando os participantes tinham entre 69 e 71 anos, foram analisados o seu desempenho cognitivo e estrutura cerebral através de testes de memória, da velocidade de processamento e de imagens cerebrais obtidas por ressonância magnética.

Os resultados mostram que o aumento da exposição ao dióxido de azoto e às partículas durante a meia-idade está associado a um processamento mental mais lento e a um declínio da função cognitiva.

Segundo a EFE, os cientistas também observaram que níveis elevados de óxidos de azoto estavam associados a uma redução do volume do hipocampo, enquanto a exposição a dióxido de azoto e a partículas estava ligada a uma dilatação dos ventrículos cerebrais, indicadores habitualmente associados à atrofia cerebral.

O facto de a investigação revelar novas provas de que a poluição do ar tem efeitos duradouros no cérebro humano, além das consequências na saúde física, reforça, segundo os autores, a necessidade de avançar com políticas de redução de emissões como uma estratégia essencial de saúde pública para proteger a função cerebral a longo prazo.

Para o estudo cardiológico, foram analisados dados de 122 hospitais do Sistema Nacional de Saúde de Espanha com estações de medição ambiental localizadas num raio de 10 quilómetros e informações sobre 115.071 doentes com mais de 18 anos diagnosticados com enfarte agudo do miocárdio entre 2016 e 2021.

Os resultados mostraram como as concentrações de partículas PM 2,5 superiores a 10 microgramas por metro cúbico nos três dias anteriores ao internamento estão associadas a um aumento significativo de internamentos hospitalares por enfarte agudo do miocárdio, com até 22 ataques cardíacos adicionais por cada 1.000 internamentos.

Além disso, quando os níveis de poluição são muito elevados e ultrapassam os 25 microgramas por metro cúbico, o risco de mortalidade aumenta em 14%, o que significa que, por cada 125 pessoas internadas nos hospitais, há aproximadamente mais uma morte do que nos dias com ar mais limpo, assinalou Raquel Campuzano, autora principal do estudo, citada pela EFE.

"Estas partículas [PM 2.5 e PM 10] podem provocar inflamação no organismo, alterar o funcionamento dos vasos sanguíneos e aumentar o risco de coágulos", efeitos que "estão diretamente relacionados com a progressão da aterosclerose (endurecimento e estreitamento das artérias) e com a rutura das placas que nelas se formam, o que pode desencadear factos graves, como um enfarte", alertou Jordi Bañeras, coautor do estudo.