A procura cultural em Cabo Verde está a ganhar uma nova dimensão. De acordo com o Instituto do Património Cultural (IPC), os museus nacionais receberam 23.255 visitantes entre Janeiro e Junho de 2025, resultado que reflete o interesse crescente tanto de turistas internacionais como de residentes pela oferta cultural do país.

O dado confirma uma tendência que tem marcado o posicionamento estratégico de Cabo Verde que passa por diversificar a economia turística para além do tradicional “sol e praia”, integrando experiências culturais, históricas e artísticas. Essa aposta é cada vez mais visível, sobretudo porque 70% dos visitantes foram estrangeiros, muitos deles atraídos pela singularidade do património histórico cabo-verdiano.

Entre os espaços mais visitados, o Museu do Campo de Concentração do Tarrafal – símbolo histórico do regime colonial português – registou 9.102 visitantes no período, assumindo-se como o polo mais procurado. Seguem-se o Museu do Mar (3.582), em Mindelo, o Núcleo Museológico Cesária Évora (2.981), que celebra a “diva dos pés descalços” e projecta Cabo Verde no mundo, e o Museu Etnográfico da Praia (2.765).

Um caso particular é o Farol D. Maria Pia, recentemente reabilitado, que atraiu 1.636 visitantes em apenas três meses, evidenciando o potencial de espaços recuperados para enriquecer a oferta cultural.

Enquanto isso, os museus da Tabanca e Norberto Tavares permanecem encerrados, este último em obras de reabilitação com previsão de reabertura ainda em 2025. Estes constrangimentos refletem um desafio comum em África: a necessidade de investir continuamente na preservação e modernização dos equipamentos culturais para responder às expectativas de um turismo cada vez mais exigente.

A consolidação dos museus como pontos de atração turística não é apenas um dado estatístico. É parte de um movimento mais amplo em Cabo Verde de usar a cultura como motor económico, reforço da identidade nacional e instrumento de diplomacia cultural.

A interseção entre turismo e património tem múltiplas vantagens: prolonga o tempo de permanência dos visitantes, cria novas cadeias de valor em setores como artesanato, gastronomia e produção artística, e reforça a imagem de Cabo Verde como destino diferenciado no Atlântico.

No contexto africano, esta aposta ganha ainda maior relevância. Países como Ruanda, Gana e Senegal também têm investido fortemente na valorização do património cultural como complemento ao turismo tradicional, com resultados positivos em termos de diversificação económica e criação de emprego. Cabo Verde segue esta mesma trajectória, reforçando o papel do arquipélago como plataforma cultural de referência.

O desafio da sustentabilidade

Para manter este crescimento, o país precisa assegurar a sustentabilidade financeira e operacional dos museus. Isso implica apostar em novos modelos de gestão, parcerias público-privadas e maior integração digital, desde bilhética online até visitas virtuais, capazes de atrair um público mais jovem e global.

A criação de ecossistemas culturais sólidos pode ainda estimular o investimento privado, abrindo espaço para fundações, coleções particulares e iniciativas de mecenato. Mais do que centros de memória, os museus podem transformar-se em hubs de inovação cultural, geradores de conhecimento, emprego e novas formas de economia criativa.

Com mais de 23 mil visitantes em seis meses, os museus cabo-verdianos confirmam que a cultura não é apenas uma herança a preservar, mas um activo económico e estratégico para o futuro do país. Ao conectar identidade nacional, diplomacia cultural e turismo internacional, Cabo Verde abre caminho para que o património seja um motor sustentável de crescimento e coesão social.