
Estudou contabilidade e finanças, mas a moda falou mais alto, fazendo-o deixar para trás o curso. Aos 21 anos, Nuno Forte ficou responsável pela sua primeira loja de roupa, seguindo o negócio de família. Mais tarde, optou por se lançar sozinho no mundo das multimarcas. E assim nasceu, em 2007, a Forte Store, com uma loja em Braga, de onde Nuno é natural, e outra em Famalicão. Mas Nuno não se ficou por aqui, e continuou a desbravar caminho. Hoje, o grupo conta com mais de 80 lojas físicas em todo o país, duas plataformas de e-commerce, mais de 450 colaboradores diretos e uma faturação anual próxima dos 50 milhões de euros. Presente de norte a sul do país, o grupo trabalha com marcas de referência como Guess, Calvin Klein, Boss, Gant, Armani, Ralph Lauren, Levi’s e outras, consolidando uma posição de destaque no retalho de moda premium. Mais recentemente, deu outro grande passo: a compra do Grupo Unifato que permitiu a Nuno Forte abrir portas para um negócio que não tinha — o de lojas monomarca. O que começou como um pequeno projeto regional, é hoje o maior operador multimarca de moda em Portugal e um dos maiores da Europa. O “forte” está-lhe no nome, mas também na visão que tem para o negócio.
Inovar (n)o setor
Apesar de o negócio da Forte Store ser a venda de roupa multimarca, Nuno Forte reconhece a importância dos pormenores. É por isso que a sua aposta nas pessoas não se fica apenas pela venda de roupa: “Nós temos designers, programadores, videógrafos… a maioria das empresas nesta área não tem.” Além disso, o grupo investe de forma pioneira em tecnologia própria, tendo desenvolvido uma plataforma digital de formação e uma ferramenta inteligente de gestão e redistribuição de stock entre lojas. Ferramenta, essa, que Nuno Forte tenciona partilhar com o restante setor do retalho: “A curto prazo, espero poder vendê-la, para fazer com que o mercado português evolua. ”
Recentemente, o grupo passou também a usar inteligência artificial (IA) de forma intensiva, tanto para otimizar os processos de compra como para melhorar a eficiência de várias áreas operacionais. Existe, atualmente, uma pessoa dedicada exclusivamente à implementação e desenvolvimento de soluções com base em IA dentro da organização. Este investimento posiciona o grupo como um verdadeiro caso de inovação no setor da moda.
Como se passa de uma loja, em 2007, em Braga, para, atualmente, várias lojas físicas, de norte a sul de Portugal?
Com muita resiliência e com muita capacidade e foco nos resultados. Com equipas sólidas e fortes. Quando comecei a abrir lojas, pensava: “se eu abrir mais uma loja, o investimento que vou fazer nela põe em causa tudo o que consegui até aqui?”. Se não, investia e abria; se sim, não investia. Em 2011/2012, com a crise, quando toda a gente estava retraída e com medo, eu tive a coragem e audácia de arriscar. Na altura, arrisquei bastante. Abri uma loja praticamente sem dinheiro [risos]. Mas acreditava tanto naquela loja… Hoje, é uma das nossas melhores lojas. Na altura da crise, consegui lojas em sítios-chave, bastante bons, porque a maior parte das pessoas tinha medo de arriscar.
O ponto de viragem foi quando deixei de pensar como comerciante e comecei a pensar como empresário. Fiz de tudo: montras, vender, escolher coleções, entregar roupa nas lojas, etc. Mas percebi que precisava de me libertar e construir uma organização escalável. Comecei a delegar, formei equipas, e passei a pensar a empresa como um sistema com pessoas e processos. Mas no meio disto tudo, sofre-se muito, tem-se desilusões. Já fui roubado, traído, tive pessoas em quem confiava que me desiludiram, pessoas de alta confiança que me trocaram pela concorrência, fui assaltado…
A Forte Store tem um portfólio de marcas variado. Porquê as marcas que comercializam? E como é feita a escolha das marcas que pretendem vender?
Porque são as marcas que o mercado pede. Há uns anos que, felizmente, podemos escolher as marcas com que queremos trabalhar, e, neste momento, o mix de marcas que temos na Forte Store são as principais que o mercado português está a pedir. Temos uma seleção de produto muito rigorosa. Temos dados praticamente para tudo: sabemos perfeitamente o que mais se vende, a rentabilidade de cada referência… Fazemos um inquérito de satisfação aos clientes para perceber o que querem. Por exemplo, nós não vendíamos Levi ‘s, e os clientes, no inquérito de satisfação, pediam várias vezes esta marca.
O que vos distingue de outras lojas multimarca?
A diferença da Forte Store passa por três pilares: produto certo, loja irrepreensível e atendimento com alma. Somos muito exigentes com a seleção das marcas e dos artigos para cada loja. Adaptamos o produto ao cliente local, à cidade, à zona. A apresentação é cuidada, e o atendimento tem de ser feito como se estivéssemos a atender a família. Também faz diferença manter os bons colaboradores. Temos colaboradores que estão connosco desde o início, o que diz muito sobre o ambiente e a forma como gerimos talento. Valorizamos profundamente a lealdade, a entrega e o mérito. Por isso, criámos um sistema de incentivos robusto que reconhece quem mais se destaca anualmente, oferecendo viagens de grupo a destinos como a Tunísia ou Marrocos. Além disso, todos os colaboradores que celebram 5, 10 ou 15 anos de casa são igualmente premiados com estas experiências. Organizamos sunsets, jantares, eventos com as famílias e reuniões regulares para alinhar cultura e partilhar resultados. Queremos que cada pessoa sinta que pertence a algo maior. Apostamos intencionalmente num clima positivo, em que a cultura interna é mais do que um conceito — é uma experiência real vivida todos os dias.
Este ano, adquiriram o Grupo Unifato. Porquê?
Nós não íamos para a zona centro devido a este grupo. Não havia um acordo, mas havia respeito: nós não “invadíamos” a zona deles, e eles não “invadiam” a nossa. Éramos os dois maiores clientes [no retalho] de Portugal. Foi uma jogada estratégica. Não estávamos presentes na zona centro, e o grupo tinha um posicionamento complementar ao nosso. Trouxemos escala, novas marcas, novas pessoas, e abrimos portas ao modelo monomarca. Herdámos cinco lojas Mango, e estamos já a negociar mais unidades com marcas internacionais.
Que frutos já colheram com a aquisição deste Grupo?
Aumentámos o mercado, a faturação, o volume de compras — o que nos dá outras capacidades de negociação. Temos colaboradores altamente comprometidos, excelentes pessoas a trabalhar na área. E adaptámos certas formas de trabalho que eles tinham na nossa empresa.
Também este ano, receberam o Prémio Cinco Estrelas, na categoria “Lojas de moda multimarca”. O que representa esta distinção?
Representa o culminar de vários anos de trabalho e dedicação que temos. Somos uma empresa que está maioritariamente no Norte, e ser reconhecido nacionalmente é muito bom. Mas isto é um prémio de toda a gente: de quem trabalha nas lojas, das senhoras da limpeza, do armazém… todos. Porque basta um departamento falhar, que tem impacto no todo.
O que deseja para o futuro da Forte Store?
Quero que a Forte Store se mantenha como o maior grupo multimarca de moda em Portugal e que a nossa tecnologia seja referência no retalho europeu. Quero criar uma empresa que funcione sem depender de mim, em que as equipas são fortes, os processos eficientes e a inovação constante. Esse é o meu legado.
“O que nos distingue mesmo são as nossas lojas. São bem decoradas. Temos muito cuidado com a imagem das lojas. Somos muito exigentes com a forma como a roupa é apresentada. A escolha, a seleção da roupa para cada loja… o melhor produto para a zona, para a loja, para a cidade é muito estudado e muito pensado. E nós queremos que os nossos colaboradores atendam os clientes como se fosse da família.”