
O banco australiano ANZ enviou um e-mail, por acidente, a informar vários bancários séniores da área do retalho sobre quando era a data de término do seu vínculo laboral e quando deviam entregar o seu computador. O banco tenciona efetivamente despedir estes colaboradores, mas a comunicação formal desta intenção ainda não tinha sido feita.
Fonte oficial do banco confirmou à Reuters que o e-mail foi enviado por engano. O banco sublinha que se trata de um erro do qual se arrepende e que os colaboradores devem ser tratados com respeito, “especialmente quando se trata da implementação de alterações estruturais”.
De acordo com o Financial Times, foram mais de 100 pessoas afetadas pelo despedimento coletivo. À Reuters, o banco não confirmou nenhum número, nem em termos de despedimentos nem quantos receberam o dito e-mail. A instituição encontra-se numa revisão estratégica ordenada pelo novo CEO, o português Nuno Matos. Esta revisão deve estar concluída em outubro.
O ANZ, quarto maior banco da Austrália, é liderado desde maio por Nuno Matos, que enfrenta agora críticas da presidente do Sindicato do Setor Financeiro, Wendy Streets, que representa os funcionários dos bancos australianos. “Estes erros são o resultado direto do ritmo de mudança caótico que está a ser forçado pelo novo CEO do ANZ”, denunciou. A líder sindical considera que “esta é uma maneira nojenta de os colaboradores serem informados” sobre cortes nos recursos humanos, com um “e-mail desleixado em vez de uma conversa respeitadora”.
O CEO contactou os colaboradores em dois e-mails separados, consultados pela Reuters. “A forma como esta notícia sensível foi partilhada com alguns de vocês é indefensável e profundamente dececionante”, lamentou o líder do banco. Aproveitou ainda a ocasião para, num segundo comunicado aos diretores seniores, reforçar a importância da gestão de risco não financeiro. Neste sentido, é também necessário aprimorar os controlos e processos para “ganhar o respeito dos colaboradores e ainda dos reguladores e acionistas”.
O conteúdo destas comunicações foi confirmado por fonte oficial do banco. Matos acrescentou ainda que estão a investigar a causa deste problema “com urgência, para assegurar que não volta a acontecer”.
Entretanto, o diretor de Banca de Retalho, Bruce Rush, entrou em contacto com os colaboradores. “Infelizmente, estes e-mails indicam uma data de saída para alguns dos nossos colegas antes de termos conseguido partilhar o resultado com eles”, lê-se no e-mail enviado por Rush e consultado pela Reuters. “Não era nossa intenção partilhar notícias tão sensíveis convosco desta forma, e peço desculpas incondicionalmente”, lamentou. O ANZ já disponibilizou apoio e acompanhamento psicológico, de acordo com o banco, e Rush revelou que as reuniões com os colaboradores avançaram e deviam terminar nesta quinta-feira.
O percurso de Nuno Matos na banca
Numa mensagem publicada no site do ANZ e na sua página pessoal de LinkedIn no seu primeiro dia como líder do banco, Matos destacou a sua experiência no setor em vários países e como pretende usar isso para tornar o ANZ um “banco melhor”. O CEO disponibilizou o seu e-mail para receber sugestões sobre como aprimorar a instituição e indicou que ia passar os meses seguintes a ouvir os ‘stakeholders’.
Nuno Matos começou as suas funções como CEO do ANZ em meados de maio, após passar mais de dez anos no HSBC, onde era CEO de ‘Wealth and Personal Banking’ desde 2021, sediado em Hong Kong. Chegou ao banco britânico em 2015, onde começou como vice-presidente executivo e COO do HSBC México. Manteve-se pela América Latina, onde ocupou várias posições até assumir esta última.
O seu percurso profissional, contudo, começou no Banco de Portugal, onde foi analista entre 1990 e 1994 no Departamento de Supervisão Bancária. Deu aulas na Universidade Católica e, ao mesmo tempo, trabalhou no Santander Investment Portugal enquanto diretor de Finanças e Risco. Após isto, atravessou o Atlântico e foi ‘controller’ no Santander Investment Peru e também na unidade homónima francesa.
No Brasil, liderou o negócio de cartões e ‘acquiring’ do banco espanhol, tendo passado a diretor de Banca de Retalho e Banca de Empresas nos EUA em 2009. Por fim, assumiu a pasta de diretor global de Consumo – Retalho & Divisão Global Comercial do Grupo Santander entre 2014 e 2015.