
Um cepticismo generalizado percorre a banca portuguesa quando se fala em investimento em criptoativos. O JornalPT50 inquiriu as principais instituições financeiras a operar em Portugal sobre o tema, tendo apenas a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o Banco Santander demonstrado alguma abertura para analisar a questão — sempre na vertente das stablecoins (ativos digitais associados a mecanismos que procuram garantir a estabilidade do seu valor, por exemplo, através da ligação a um cabaz de referência composto por ativos ou moedas).
O presidente da CGD, Paulo Macedo, foi taxativo: “A CGD vai estudar as stablecoins com mais cuidado. Não comercializaremos criptomoedas indiferenciadas.” O responsável não afasta o estabelecimento de parcerias com operadores certificados de ativos digitais, mas reforça que a CGD “não vai comercializar criptoativos”.
O caso do Banco Santander é único entre os ‘players’da banca portuguesa. Integrado num grande grupo financeiro com presença em 13 países, o Santander Portugal beneficia de tudo o que o grupo liderado por Ana Botín já fez — e se propõe a fazer — nesta área. “Estamos num banco global, queremos estar presentes na discussão, de forma responsável, sempre dentro do regulamento MiCA — o Regulamento da União Europeia (UE) 2023/1114, que estabelece regras uniformes para os emitentes de criptoativos”, afirma o CEO do Santander Portugal, Pedro Castro e Almeida, acrescentando: “Não vamos entrar nesse segmento no curto prazo.”
O mesmo responsável sublinha ainda que “o mais interessante é a tecnologia que está por detrás das stablecoins. No espaço de cinco anos, isso vai mudar completamente o sistema de pagamentos a nível mundial, e aí temos uma grande vantagem por pertencer a um grande grupo financeiro”.
Também o Novo Banco encara com prudência o mercado de criptoativos. Fonte oficial da instituição declarou ao JornalPT50 que “aguardamos a clarificação e eventuais alterações na regulamentação que possam surgir neste âmbito, bem como um maior amadurecimento dos níveis de literacia financeira dos investidores — área em que o banco se tem focado, incluindo temas como blockchain, ativos digitais, entre outros”. A mesma fonte acrescentou: “Não prevemos disponibilizar a negociação direta de ativos digitais, no entanto, existem vários instrumentos com exposição a esses ativos, como produtos estruturados, fundos de investimento e ETFs, que poderão vir a ser considerados.”
Ainda mais reticentes em relação aos ativos digitais mostram-se o Millennium BCP, o BPI e o Banco Montepio.
Na conferência de imprensa de apresentação de resultados, o CEO do Millennium BCP optou por uma abordagem mais didática: “O BCP tem o cuidado de aconselhar os clientes sobre produtos de acordo com o perfil de cada investidor”, afirmando de seguida: “É difícil para nós falarmos aos clientes sobre ativos que nem nós próprios compreendemos por completo. Não está nas nossas prioridades, nem sequer na agenda”, afirmou Miguel Maya.
Mais enfático foi João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI: “Não sei o que são os criptoativos.” E acrescenta: “Não sei o que está por detrás. É uma questão de crença. Sempre me ensinaram a não investir naquilo que não compreendo. Em relação aos criptoativos, não tenho a certeza de que sejam, de facto, ativos de alguma coisa.” O responsável vai mais longe: “Tiro o chapéu a quem investe dinheiro em coisas que não sabe o que são.”
Quanto ao Banco Montepio, a instituição adiantou ao JornalPT50 que a comercialização de criptoativos “não integra o nosso planeamento num futuro próximo”.