O Atlético de Madrid estabeleceu-se na última década como o terceiro grande clube do futebol espanhol. Por detrás desse estatuto está um homem: Diego Simeone. O técnico argentino, que tinha passado pelo Vicente Calderón enquanto jogador, aterrou de novo na capital espanhola a 23 de dezembro de 2011, sucedendo a Gregorio Manzano no banco de suplentes. Não sendo propriamente um desconhecido no mundo dos treinadores, o antigo médio não era um nome do topo da pirâmide, estava longe da ‘nata’ da profissão.

Podemos admitir que a sua chegada muito se deve ao peso do seu nome no Atlético de Madrid, não tanto pelas suas valências. É um histórico, uma figura respeitada, o que o tornou numa figura admirável pelo plantel, mesmo na sua chegada. Mal sabiam Enrique Cerezo e José Luis Caminero que lhes tinha saído um jackpot.

A trajetória do Atlético de Madrid foi em grande ascensão durante a última década. Outrora, Valência, Sevilha ou Athletic teriam uma palavra a dizer na disputa do lugar de terceiro emblema do futebol espanhol, mas essa batalha foi perdida. Os colchoneros rechearam o seu palmarés com troféus, somando desde a chegada de Diego Simeone duas La Liga, uma Taça do Rei, Uma Supertaça Espanhola, duas Ligas Europa e duas Supertaças Europeias, além de ter chegado a duas finais da Champions League, ambas frente ao Real Madrid, em 2013/14 e 2015/16.

Ao mesmo tempo, o Atlético de Madrid teve a honra de inaugurar a sua nova arena, o Metropolitano. Embora localizado nos arredores da cidade, trata-se de um estádio muito mais moderno que o Vicente Calderón. Nas últimas temporadas passaram nomes icónicos pelo clube, que entram nos anais da história: Radamel Falcao, Antoine Griezmann, Jan Oblak, Koke, Filipe Luís, José María Giménez, David Villa, Luis Suárez, David De Gea, entre outros. Foi a época dourada do clube, que ainda está a ser vivida, mas numa fase distinta.

Porém, apesar de todos estes elogios e crescimento evidente, este texto pretende defender que a era de Diego Simeone está a chegar ao fim. O que não significa que o trabalho dele seja desvalorizado. O Atlético de Madrid está num ponto de onde é difícil sair. É o ‘melhor dos outros’. Por muito que se defenda que é mais forte que Valência, Sevilha, Real Sociedad, Villarreal, etc., não se pode colocar no mesmo palanque que Barcelona e Real Madrid, que estão à escala universal.

Poucas são as pessoas fora de Espanha que vão referir que a equipa favorita delas na La Liga é o Atlético de Madrid. A divisão é sempre entre Real Madrid e Barcelona, que são muito mais que simples instituições, defendendo quase dois estilos opostos de vida, entrando em esferas que vão além do futebol. O Atlético de Madrid não tem essa pujança e possivelmente nunca a terá.

Os colchoneros parece que atingiram todo o seu potencial, que não dá por onde crescer mais. Nas últimas três temporadas (em 2020/21 foram campeões) fizeram mais de 70 pontos, mas não deu para ficar no segundo lugar, sendo que em 2023/24 acabaram por finazlizar inclusivamente atrás do Girona. Nas competições europeias, a última chegada às meias finais da Champions League foi em 2016/17, caindo na fase de grupos da competição em duas ocasiões desde essa data.

Ao mesmo tempo, não tem faltado investimento, embora seja impossível para o Atlético de Madrid realizar grandes contratações todos os anos. A chegada de João Félix, por 124 milhões proveniente do Benfica, em 2019/20, iludiu alguns adeptos, que pensaram que tinham garantido o seu ‘galáctico’, a imagem de marca de um projeto para a próxima temporada. Não foi assim e o luso fracassou a um nível brutal no Metropolitano (sendo que na Catalunha não fez muito melhor, valendo-lhe o discurso pró-Barcelona para conquistar os adeptos).

No entanto, não foi apenas o português que não resultou no Atlético de Madrid, mesmo com um preço elevado: Thomas Lemar, Matheus Cunha, Nico Gaitán, entre muitos outros também não funcionaram. Em vários casos, onde se inclui o de João Félix, acusou-se Diego Simeone de não conseguir tirar o melhor proveito dos jogadores, o que não é mentira nenhuma. O argentino tem um estilo de jogo muito inflexível, baseado na raça, na pressão e na crença, que com o passar do tempo deixou de ser atrativo. O técnico não se soube reinventar e isso é a chave da sua quebra.

Hoje em dia, ver um jogo do Atlético de Madrid não é entusiasmante. Quiçá a parte mais divertida seja o momento da divulgação do onze inicial, já que Diego Simeone não tem medo de retirar pelas importantes do tabuleiro. Além disso, realiza-se constantes adaptações. Os extremos transformam-se em alas (caso de Samuel Lino), os médios com caraterísticas defensivas rumam ao posto de central (como Axel Witsel), os pontas de lança viram jogadores que partem da banda (exemplos de Giuliano Simeone ou Julián Álvarez, embora não sejam propriamente avançados especialistas na área). Até que ponto isto é positivo para um jogador? Ao não se fixar, corre o risco de não conseguir atingir o seu potencial numa determinada posição. O caso de Marcos Llorente é explicito. Faz de uma forma exímia uma série de posições (até a lateral direito atua), mas não se conseguiu transformar no melhor do mundo em nenhuma, quando tinha valências para tal.

Diego Simeone parece mais esgotado cada ano que passa, com menos ideias, mas com a mesma paixão pelo clube. De facto, é isso que o mantém no posto de treinador principal, embora existam rumores de que uma alternativa esteja a ser procurada. Se quisermos estabelecer um paralelismo com um caso português, a postura de Sérgio Conceição no FC Porto era semelhante, embora o antigo extremo conseguisse lutar pela Primeira Liga. Contudo, no último ano da dupla Conceição/Pinto da Costa já existia um desgaste elevado, que não se podia esconder. É importante perceber quando uma era chegou ao fim. André Villas-Boas soube colocar um ponto final na relação com o antigo técnico dos dragões. Enrique Cerezo pode não conseguir fazer a sua parte.

O Atlético de Madrid segue na terceira posição da La Liga em 2024/25, mesmo com a chegada de pesos pesados como Julián Álvarez, Robin Le Normand ou Alexander Sorloth. Com 14 jogos disputados, está a cinco pontos do líder Barcelona e com mais quatro pontos que o seu perseguidor direto, o Villarreal. Isto espelha na perfeição o que é o clube colchonero.

Diego Simeone não aparenta conseguir fazer mais do que isto, sendo que o ‘isto’ é um trabalho extraordinário, que levou um clube para perto do topo da Europa. É possível que outro nome consiga olhar para o projeto de um diferente ângulo e conseguir fazê-lo crescer, algo que o argentino não alcança. Resta saber é se o Atlético de Madrid já não atingiu todo o seu potencial, podendo não ser capaz de lutar pela La Liga e pela Champions League todas as épocas.

Também nos podemos questionar se Diego Simeone vai conseguir ter um sucesso semelhante em outro lugar. Depois de tantos anos ligado a um clube, pode ser difícil a sua transição para outro, podendo inclusivamente pensar num interregno na sua carreira, já que a sua obra prima está feita.

Aconteça o que acontecer, Diego Simeone e o Atlético de Madrid vão estar sempre ligados e o argentino e a sua era vão ficar para sempre no almanaque da instituição. Será que Enrique Cerezo vai arriscar por outro caminho? Uma pergunta que terá resposta no próximo verão.