
Os ucranianos em Portugal concentram-se no domingo em Lisboa e várias cidades para celebrar a independência do país, num momento em que, segundo o líder da comunidade, estão cansados da guerra mas indisponíveis para ceder à Rússia.
Sob o lema "Apoie a Ucrânia, lute como um ucraniano", estão previstas concentrações em Lisboa, Porto, Coimbra, Faro, Viseu, Fátima e Funchal, alusivas à data da separação formal da antiga União Soviética, em 24 de agosto de 1991, e que voltam a ser marcadas pela guerra iniciada há mais de três anos pela vizinha Rússia.
"Apesar de esta guerra durar mais do que nós pensávamos inicialmente, os portugueses continuam a ajudar e a apoiar a Ucrânia", assinala à agência Lusa o presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadokha, referindo que um dos objetivos das concentrações é justamente "agradecer a Portugal, à sociedade, ao Governo e aos políticos".
Ao mesmo tempo, a comunidade ucraniana, que reúne cerca de cem mil residentes, dos quais mais de metade são refugiados, celebra a independência em plena aceleração das negociações para uma saída do conflito, promovidas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, mas as perspetivas são incertas.
Da intensa atividade na última semana, que se iniciou com uma cimeira entre Donald Trump e o homólogo russo, Vladimir Putin, no Alasca, seguida de reuniões na Casa Branca com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e os principais líderes europeus, Pavlo Sadokha conclui que a paz só poderá chegar pela força.
As conversações demonstraram "mais uma vez que Putin não quer terminar esta guerra e que, infelizmente, a via diplomática, não funciona", lamenta o Presidente da Associação, para quem que o líder do Kremlin não desistiu de ocupar a Ucrânia e desalojar as autoridades de Kiev.
"Por isso, vamos outra vez este ano pedir a Portugal e ao Governo português que continue a apoiar a Ucrânia", indicou o presidente da associação e uma forma de o fazer é aplicar mais sanções a Moscovo.
Pavlo Sadokha adverte que, apesar de protegidos da invasão russa pela distância, todos ucranianos em Portugal sem exceção são tocados pelo conflito, ou porque são refugiados e tiveram de abandonar as suas casas, ou porque - mesmo aqueles que foram os primeiros a chegar, há 25 anos - "têm familiares ou amigos que faleceram, foram feridos ou sofrem com esta guerra".
Nesse sentido, comenta que a troca de territórios como parte de uma solução para a paz, levantada durante as discussões no Alasca e em Washington, é uma ideia que os ucranianos não estão disponíveis para acolher.
O líder da comunidade separa a eventualidade de um cessar-fogo e congelamento do conflito nas atuais linhas da frente como algo que podem concordar, mas alerta que "nenhum ucraniano vai aceitar, como foi proposto, que se ceda a Crimeia ou o Donbass" à Rússia.
"Em primeiro lugar, é impossível porque está inscrito na nossa Constituição e seria preciso um referendo", frisa, aludindo à integridade territorial da Ucrânia, também reconhecida internacionalmente, que inclui aquela região no leste do país, parcialmente ocupada, e a península da Crimeia, ilegalmente anexada por Moscovo em 2014.
Para Pavlo Sadokha, "nenhum político pode decidir sozinho", nem Zelensky, a separação daqueles territórios, insistindo que teria de se ouvir "todo o povo ucraniano" e a sua convicção é de que a resposta seria não.
O Presidente da Associação dos Ucranianos expressará gratidão ao líder norte-americano se conseguir que "esta guerra pare onde está", mas receia que não se saiba o que "Trump quer ou não quer", uma vez que "muda de opinião todas as semanas".
Mais uma vez, avisa quer o líder da Casa Branca quer o homólogo do Kremlin que "nenhum político do mundo pode ditar ao povo ucraniano o que é que tem de ceder ou não".
O presidente da Associação dos Ucranianos reconhece que os seus concidadãos estão "cansados desta guerra", ao fim de mais de três anos de conflito, iniciado em 24 de fevereiro de 2022 com a invasão em grande escala das forças russas.
"Mas todos sabem que esta guerra é para sobreviver e não temos outra escolha, temos de nos defender", explica, destacando mais uma vez que "o objetivo de Putin é fazer a Ucrânia desaparecer" e que só será travado se "a Rússia ficar mais fraca e não tiver possibilidade de continuar a lutar".
Os ucranianos representam a maior comunidade de refugiados em Portugal, com cerca de 54 mil pessoas, um número que, segundo Pavlo Sadokha, se mantém estável desde há um ano e meio, refletindo a falta de evoluções significativas no campo de batalha, apesar das recentes progressões russas no leste do país.
De acordo com informação partilhada pela diáspora ucraniana e ativistas pró-Kiev, o Dia da Independência será assinalado nas principais cidades europeias e também em países fora do continente, incluindo Austrália, Brasil, Japão, Canadá e Estados Unidos, onde está prevista uma concentração junto da Casa Branca, em Washington, que se tornou no centro das discussões sobre o fim do conflito.