
A comissária europeia para a Ajuda Humanitária admitiu hoje que a fome "é uma realidade" em Gaza, após um relatório da ONU que a declarou oficialmente naquele território palestiniano, exigindo a Israel que deixe entrar apoio humanitário.
"A fome já não é um risco em Gaza, é uma realidade", disse a comissária para a Ajuda Humanitária e Gestão de Crises, Hadja Lahbib, em comunicado divulgado.
A comissária acrescentou que "há crianças a morrer à fome e de doenças, enquanto famílias inteiras estão vários dias sem o que comer" e o acesso a água potável e ao apoio médico colapsaram.
A comissária europeia reagiu a um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), que declarou a situação de fome na Faixa de Gaza, palco há 22 meses de uma ofensiva militar de Israel, que está a bloquear há meses o acesso de apoio humanitário.
A União Europeia fez um acordo, apenas verbal, com Telavive para permitir a entrada de ajuda humanitária no enclave palestiniano, mas Israel não o respeitou.
Os 27 consideraram que houve progressos no entendimento feito com as autoridades israelitas, mas a situação agravou-se e a fome foi declarada pela ONU.
Hadja Lahbib sustentou que a situação está "num ponto sem retorno" e disse que a fome provocará mais mortes "se não se tomarem medidas imediatas".
Em simultâneo, o Governo israelita avançou para a ocupação total da Cidade de Gaza.
Imagens divulgadas nas redes sociais nas últimas semanas mostraram militares israelitas a balear civis palestinianos que estavam a aglomerar-se para tentar obter alguma comida, que desde final de maio apenas é distribuída pela Fundação Humanitária de Gaza, uma entidade privada apoiada por Israel e pelos Estados Unidos.
Estas ações foram denunciadas por várias organizações não-governamentais e por órgãos de comunicação social.
A comissária europeia pediu uma "resposta sustentável e de grande dimensão" para combater este flagelo, admitindo, no entanto, que a pressão internacional "não foi suficiente" para dissuadir as ambições israelitas.
A União Europeia não tem permissão de Israel para entrar no enclave palestiniano, pelo que conta exclusivamente com a palavra das autoridades israelitas, no que diz respeito ao cumprimento do entendimento para levar para Gaza assistência humanitária.
A África do Sul iniciou um processo no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) acusando Israel da prática do crime de genocídio contra a população palestiniana, a que se associaram depois vários países.