A greve dos trabalhadores do Centro de Abate da Madeira (CARAM), que começou no dia 11 de agosto e termina hoje, registou uma adesão média de 50%, indicou o sindicato do setor, mas a empresa afirma que não ultrapassou 35,56%.

"Eu posso dizer, concretamente, que em 45 trabalhadores mais de 50% fez greve", disse à agência Lusa Nelson Pereira, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais, sublinhando que a adesão foi de 100% em relação aos cerca de 20 funcionários que operam na linha de abate.

O sindicalista realçou que os números não incluem os trabalhadores requisitados ao abrigo dos serviços mínimos, nem os que se encontravam de férias.

Já a administração do Centro de Abate da Madeira, empresa do setor público regional, apresentou dados que apontam para taxas de adesão entre 35,56% no máximo, nos dias 13 e 14 de agosto, e 4,44% no mínimo, no dia 19 de agosto.

"Seria irrealista dizer que o efeito [da greve] foi nulo, que não foi", disse o presidente do conselho de administração Duarte Sol, admitindo que foram sentidas "graves dificuldades operacionais, que foram sendo ultrapassadas" na medida das possibilidades, "com base na colaboração dos trabalhadores que optaram pelo seu direito à não greve".

A paralisação foi convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais, que defende a atualização da tabela salarial, considerando que o salário mínimo na região -- 915 euros -- já consumiu três níveis remuneratórios e abarca a maioria dos 45 funcionários, bem como a alteração do subsídio de risco para 20% para todos os trabalhadores.

O sindicato reivindica também o aumento do subsídio de alimentação para 10,50 euros por dia e a atribuição do subsídio de frio.

"Uma questão positiva da greve foi alertar a opinião pública [...] para a situação dos trabalhadores do CARAM", disse Nelson Pereira, sublinhando, por outro lado, o "enorme sacrifício" que fizeram ao ficar duas semanas sem salário.

Já a administração do Centro de Abate esclarece que foi assinado um acordo de empresa em abril de 2024, válido por três anos, que à data satisfez as principais reivindicações, entre as quais a harmonização de direitos entre regimes contratuais, a redução do horário semanal para 35 horas, a atribuição de 25 dias úteis de férias, o pagamento de subsídios de insularidade e de risco e a eliminação de quotas de avaliação no SIADAP - Sistema Integrado de Gestão e Avaliação do Desempenho na Administração Pública.

Na sequência da greve, o Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais e a administração do CARAM agendaram uma reunião para 06 de outubro.

"Depois, logo se verá o que essa reunião vai dar. Se não der em nada, provavelmente os trabalhadores vão voltar o protesto", avisou Nelson Pereira.

A greve dos trabalhadores do CARAM ficou marcada por um impasse na fixação dos serviços mínimos, por despacho do Governo Regional (PSD/CDS-PP), uma vez que o sindicato interpôs uma providência cautelar no Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal, considerando a medida ilegal.

O executivo madeirense alegou questões relacionadas com a saúde pública, o bem-estar animal e a normalidade no mercado, num período de muitas festividades populares, para decretar os serviços mínimos no CARAM, que é o único centro de abate da região autónoma.

Embora o tribunal ainda não se tenha pronunciado sobre a matéria, a providência cautelar foi acolhida pelo juiz que a avaliou, situação que implicou a suspensão automática dos serviços mínimos, nos dias 13 e 14 de agosto.

No entanto, o Governo Regional fez publicar no Jornal Oficial da região, no dia 14 de agosto, um despacho de interesse público que tornou a reativar os serviços mínimos.