Em dois posts seguidos nas suas páginas pessoais nas redes sociais, nos últimos dois dias, o ex-secretário-geral do PS voltou a expressar opiniões políticas, interrompendo o silêncio a que se submeteu desde 24 de maio, o dia em que passou a liderança do partido para Carlos César, menos de uma semana depois das eleições legislativas que fizeram o PS baixar de 28% para 22,8%, perdendo 400 mil votos e 20 deputados na AR (passou de 78 para 58).

Desde então, essas contas, até à altura intensamente políticas, passaram a esporadicamente pessoais. Em 18 de junho foi ali que Pedro Nuno Santos reagiu à notícia de que a PGR arquivara a averiguação preventiva noticiada semanas antes das legislativas sobre as suas casas: “Nunca misturei política com negócios. Desprezo, e sempre desprezei, quem usa a política para enriquecer e para ‘tratar da sua vida’. Percebo a zanga de muitas pessoas e os juízos de valor que fazem sobre os políticos mas nós não somos mesmo todos iguais”, escreveu.

Subitamente, no último fim de semana, o ex-líder socialista “acordou”. No sábado, indignou-se com as propostas governamentais com mudanças sobre as licenças por luto gestacional: “Mesquinhez, insensibilidade e ignorância!”, escreveu. "O que fazem é terminar com a possibilidade da mãe e do pai tirarem três dias por luto gestacional quando não se justifica que a mãe tire a licença por interrupção da gravidez", acrescentou, falando ainda na limitação dos direitos dos pais: “E porque é que no caso do pai se fala em 'assistência à família’? O pai não sofre com a interrupção de uma gravidez desejada? Não tem direito ao luto?

Enfim, em conclusão: “No essencial esta revogação é apenas uma redução de direitos. A direita que não encha a boca para falar de família, porque na realidade não querem saber das famílias, nem do sofrimento por que estas passam quando há uma perda gestacional.” Ao todo, cerca de cinco mil “likes”, se somarmos os do Facebook com os do Instagram. E cerca de 600 comentários ao todo (contabilidade pelas 16h30 desta segunda-feira).

No domingo, novo post: desta vez sobre o acordo tarifário alcançado entre os EUA e a UE. E novamente para ser muito crítico - desta vez da UE.

A confirmarem-se as declarações de Trump, a UE teve uma colossal derrota nas negociações sobre as tarifas ao comércio entre a UE e os EUA. Sai humilhada, com um acordo que prejudica a indústria europeia. Ora, resulta do acordo anunciado que se os produtos europeus à entrada nos EUA vão enfrentar tarifas de 15%, os produtos americanos à entrada no mercado europeu vão ter tarifas de…0%. Como se isto não fosse suficiente, Trump anunciou ainda que o acordo prevê a compra de centenas de milhares de milhões de dólares em equipamento militar pelos países membros da UE, 750 mil milhões de dólares em energia e investimento europeu nos EUA num montante de 650 mil milhões.”

Se no post sobre o luto gestacional, Pedro Nuno Santos se revelou sintonizado com a direção do PS ( “inequívoco retrocesso nos direitos laborais e sociais das famílias”, disseram as Mulheres Socialistas), neste da questão tarifária EUA/UE já não foi bem assim.

Enquanto o ex-líder do PS o qualificou como “colossal derrota” e “humilhação” da UE, já José Luís Carneiro afirmou apenas que não é o ideal - e salientando, em declaração à Lusa, que o acordo até é melhor do que, por exemplo, o obtido pelo Japão. Assim, acrescentou, o que importa é “estabilizar as expectativas e acabar com a incerteza”, competindo ao Governo de Luís Montenegro realizar “uma avaliação tão extensa quanto possível sobre o impacto dessas tarifas na nossa economia”.

Em dois dias seguidos, Pedro Nuno Santos disparou nas redes sociais duas opiniões sobre a atualidade política. Quanto ao seu futuro, nada diz: é deputado e aparentemente tenciona continuar a ser. Pode ser que no futuro regresse ao comentariado político - por onde passou no interregno entre deixar de ser ministro e iniciar a liderança do PS - mas por ora nada está decidido.