O primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Mustafa, defendeu esta segunda-feira na Assembleia Geral da ONU que o movimento islamita Hamas "deve abdicar do controlo" da Faixa de Gaza e entregar as suas armas.

"Afirmamos que o Estado Palestiniano está pronto para assumir a total responsabilidade pela governação e segurança em Gaza, com o apoio árabe e internacional", afirmou o primeiro-ministro palestiniano, numa intervenção no primeiro dia da Conferência Internacional para a Solução de Dois Estados no Médio Oriente, organizada pela França e pela Arábia Saudita na ONU.
"O Hamas deve abdicar do seu controlo sobre a Faixa de Gaza e entregar as suas armas à Autoridade Palestiniana", declarou Mustafa, fazendo eco dos compromissos assumidos em junho pelo Presidente Mahmoud Abbas de governar o território.

A conferência internacional dedicada à solução de dois Estados (Palestina e Israel), organizada pela França e pela Arábia Saudita, teve esta segunda-feira início na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.

Portugal está representado na reunião de alto nível pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.

Na sessão de abertura, o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Faisal bin Farhan, saudou a decisão do Presidente francês, Emmanuel Macron, de reconhecer o Estado da Palestina em setembro, refletindo "um consenso internacional crescente sobre o direito do povo palestiniano a estabelecer o seu Estado independente".

Até ao momento, pelo menos 142 dos 193 países-membros da ONU reconhecem o Estado palestiniano, segundo dados da agência noticiosa France-Presse.

Entre os 27 da União Europeia, cinco países reconhecem o Estado palestiniano: Espanha, Irlanda, Noruega, Eslovénia e Suécia.

Perante o plenário das Nações Unidas, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noël Barrot, defendeu que não há alternativa à solução de dois Estados, israelita e palestiniano, para alcançar a paz no Médio Oriente.

"Só uma solução política de dois Estados pode ir ao encontro das legítimas aspirações dos israelitas e dos palestinianos de viver em paz e em segurança. Não há alternativa", declarou Barrot, na mesma linha que grande parte dos intervenientes na conferência.
"Após 22 meses de tentativas falhadas, é irrealista esperar um cessar-fogo duradouro sem delinear uma visão partilhada para o período pós-guerra em Gaza, sem delinear um horizonte político e uma alternativa a um estado de guerra permanente", insistiu.

O ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Badr Abdelaty, apelou para salvar a solução de dois Estados e "evitar o veto de Israel" à criação de um Estado palestiniano independente, uma medida que conta com um amplo consenso internacional.

Por seu lado, o chefe da diplomacia da Jordânia, Ayman Safadi, denunciou que a criação de um Estado palestiniano não pode ser negociada porque Israel "não está disposto a sentar-se à mesa e negociar uma solução de dois Estados".

"Se todos concordamos que a solução de dois Estados é o caminho a seguir, e todos sabemos quem nos está a impedir de avançar, então é tempo de o mundo agir contra a parte, que é Israel, que está a impedir que a solução de dois Estados seja concretizada", afirmou o responsável jordano.

A conferência está a decorrer em Nova Iorque numa altura em que a condenação internacional da condução da guerra por parte de Israel em Gaza atinge o seu auge.

Israel e EUA recusaram participar na reunião

Israel e o seu aliado mais próximo, os Estados Unidos, recusaram participar na reunião, que, segundo Barrot, conta com a presença de representantes de 125 países, incluindo 50 ministros.

Os Estados Unidos (EUA) condenaram veementemente esta segunda-feira a conferência internacional, qualificando-a como um "golpe publicitário" imprudente.

A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tammy Bruce, defendeu num comunicado que a iniciativa está "longe de promover a paz".

"Esta conferência vai prolongar a guerra, encorajar o Hamas, recompensar a sua obstrução e minar os esforços concretos para estabelecer a paz", adiantou Bruce.

Com Lusa