
Israel considerou "vergonhoso" o relatório da Associação Internacional de Académicos do Genocídio acusando-o de "um genocídio" em Gaza, enquanto para o movimento islamita palestiniano Hamas uma "mancha de vergonha" é a inação da comunidade internacional.
"[O documento] assenta inteiramente na campanha de mentiras do Hamas e no branqueamento dessas mentiras por parte de terceiros", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) israelita na sua conta da rede social X.
Reagiu assim à declaração da Associação Internacional de Académicos do Genocídio (IAGS, na sigla em inglês), a maior associação de especialistas nesse crime contra a humanidade, que classificou as ações de Israel na Faixa de Gaza como "um genocídio" e instou o Governo israelita a cessar os ataques contra civis e a "deslocação forçada" da população.
"As políticas e ações de Israel em Gaza correspondem à definição legal de genocídio prevista no artigo II da Convenção das Nações Unidas para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio de 1948", sustentou a associação num comunicado, recordando que o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) considerou plausível que Israel estivesse a cometer genocídio e instou o Estado a cumprir as ordens do tribunal.
O MNE israelita disse que o relatório dos especialistas é "vergonhoso" e que a IAGS não "verificou a informação", a tarefa "mais elementar" numa investigação, conseguindo "até distorcer" o que foi dito pelo TIJ.
Mas, "acima de tudo", acrescentou o MNE israelita na rede social X, a IAGS "criou um precedente histórico": "Pela primeira vez, os 'especialistas em genocídio' acusam a própria vítima de genocídio".
Isto apesar da "tentativa de genocídio do Hamas contra o povo judeu, assassinando 1.200 pessoas, violando mulheres, queimando vivas famílias e declarando o seu objetivo de matar todos os judeus", acrescentou o MNE de Israel na mensagem.
O Exército israelita matou mais de 63 mil palestinianos desde o ataque do grupo islâmico Hamas a Israel, a 07 de outubro de 2023.
Por seu lado, o Hamas afirmou que o relatório da IAGS que classifica a guerra israelita na Faixa de Gaza como um genocídio representa uma nova prova legal sobre a situação no enclave, constituindo uma "mancha de vergonha" para a comunidade internacional.
A definição de genocídio estabelecida no artigo II da Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio indica que "é cometido um genocídio quando um grupo nacional, étnico, racial ou religioso é sujeito a massacre, alvo de lesões graves à sua integridade física ou mental, intencionalmente submetido a condições destinadas a causar a sua destruição física ou transferência à força de crianças desse grupo para outro" - tudo isto feito com o intuito de exterminar, total ou parcialmente, essa comunidade.
Para o Hamas, a resolução do IAGS "constitui uma nova documentação legal que se soma aos relatórios e testemunhos internacionais que documentaram o genocídio" de que os palestinianos estão a "ser vítimas à vista de todo o mundo".
O grupo palestiniano defendeu que "a inação" da comunidade internacional "é uma mancha de vergonha, uma falha injustificável na proteção da humanidade e uma ameaça direta à paz e à segurança internacionais".
"Exigimos que a comunidade internacional, as Nações Unidas e todas as partes relevantes tomem medidas urgentes para pôr fim aos crimes de genocídio, deslocação e limpeza étnica que o Exército de ocupação está a cometer implacavelmente contra o nosso oprimido povo palestiniano", sublinhou o movimento num comunicado.
O Hamas exigiu ainda que sejam punidos "os líderes fascistas e terroristas da ocupação pelos seus crimes, garantindo-se que não escaparão impunes".
A denúncia do maior grupo de peritos em genocídio junta-se às de dezenas de associações, organizações não-governamentais (ONG) e organizações internacionais, como a ONU, que têm classificado as ações de Israel na Faixa de Gaza como genocídio ou possível genocídio.