O Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky esteve esta quarta-feira em Berlim para encontros com líderes europeus e uma videoconferência com Trump. Da manobra diplomática saíram informações sobre o que esperar do encontro de sexta-feira em solo americano entre o Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, e o líder russo Vladimir Putin. A julgar pelas declarações dos líderes europeus - e se o atual estado de espírito de Trump se mantiver - o Presidente dos EUA vai “lutar” por um encontro trilateral, tentar chegar a um cessar-fogo, e não haverá negociações sobre territórios pertencentes à Ucrânia.

A troca de ideias desta quarta-feira foi elogiada por líderes europeus. “Excepcionalmente construtiva”, na ótica do chanceler alemão. “Uma chamada muito boa”, indicou a Presidente da Comissão Europeia. “Excelente”, descreveu o Presidente da Finlândia.

Segundo declarações do Presidente francês Emmanuel Macron após a chamada com Trump, o Presidente dos EUA “deixou muito claro” que pretende chegar a um cessar-fogo com o encontro no Alasca e que as questões territoriais serão decididas pela Ucrânia, noticiou a agência Reuters. “Atualmente não há planos sérios de trocas territoriais em cima da mesa”, afirmou Macron, que indicou também que Trump vai “lutar” por um encontro trilateral com Putin e Zelensky. Por sua vez, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni afirmou que “a discussão revelou um forte consenso” quanto à necessidade de um cessar-fogo, escreveu o ‘The Guardian’.

Numa reação divulgada através da rede social X, a Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen indicou que a Europa, os EUA e a NATO “fortaleceram os pontos de vista comuns em relação à Ucrânia” e que vão continuar em “coordenação próxima”. O secretário-geral da NATO Mark Rutte também reagiu aos desenvolvimentos desta quarta-feira, destacando a “união em promover o fim desta terrível guerra contra a Ucrânia” e agradecendo a liderança de Trump. “A bola está agora do lado de Putin”, escreveu Rutte.

Cedências territoriais fora do mapa

Zelensky afirmou que a sua posição em relação à concessão de territórios não sofreu mudanças, uma decisão que justificou com regras traçadas pela Constituição da Ucrânia. “Não podem ser discutidas quaisquer questões sobre a integridade territorial do nosso país sem ter em conta o nosso povo, a sua vontade e a constituição ucraniana”, afirmou Zelensky. A Constituição afirma que a soberania da Ucrânia se aplica a todo o território e que se trata de um Estado unitário: “O território da Ucrânia com a atual fronteira é indivisível e inviolável”.

As objeções levantadas por Zelensky já valeram críticas de Donald Trump. Na segunda-feira, o Presidente americano deu a entender que a responsabilidade da guerra recaía sobre Kiev. “Estou um pouco aborrecido com o facto de Zelensky dizer ‘tenho de obter aprovação constitucional’. Quer dizer, ele teve aprovação para entrar em guerra e matar toda a gente, mas precisa de aprovação para fazer uma troca de território… porque haverá uma troca de terras, sei disso através da Rússia e conversas com todos”, afirmou, em declarações noticiadas pela ‘Fox News’.

As afirmações do líder ucraniano contrariam relatos de que teria admitido a hipótese de abdicar de território. O diário britânico “The Telegraph” noticiou esta semana que o Presidente Zelensky estaria disposto a perder territórios já ocupados pela Rússia para assegurar o fim da guerra, afastando apenas ceder território que Moscovo não controla. Recorde-se que Crimeia foi anexada em 2014, e em 2022 avançou para a também ilegal anexação de Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporíjia.

O posicionamento do líder ucraniano foi também defendido pelo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz. “A Ucrânia está preparada para negociar questões territoriais, mas então a chamada linha de contacto deve ser o ponto de partida e o reconhecimento legal da ocupação russa não está aberta a debate”, afirmou, citado pelaReuters. O chanceler defendeu que os interesses securitários da Europa e da Ucrânia devem ser assegurados no encontro entre Trump e Putin no Alasca. “Queremos que as negociações aconteçam na ordem certa; deve começar com um cessar-fogo. Os elementos essenciais devem ser acordados depois”, disse Merz.

Sobre o encontro no Alasca, Zelensky deixou um alerta: “Putin não quer paz. Quer ocupar o nosso país, e nós vemos isso. Putin não nos consegue enganar. Precisamos de o pressionar. Sanções não apenas dos EUA, mas da União Europeia. Juntos, a nossa união de parceiros pode realmente travar a guerra de Putin”, afirmou, de acordo com a ‘CBS News’.