
O exército israelita começou a contactar médicos e trabalhadores de organizações humanitárias em Gaza, no norte, para que se desloquem para o sul, no âmbito dos preparativos da tomada da cidade, anunciaram hoje os militares.
O aviso começou a ser feito na terça-feira pela COGAT, a autoridade militar israelita responsável pelos territórios palestinianos, segundo um comunicado citado pelas agências espanholas EFE e Europa Press.
"Como parte dos preparativos para a transferência da população da cidade de Gaza para o sul, (...) a direção de coordenação e ligação da COGAT emitiu os primeiros alertas aos médicos e organizações internacionais", disse o exército.
No contacto, foi pedido a cada organização que preparasse "um plano para transferir a equipa médica do norte para o sul, de modo a poder atender todos os pacientes no sul da Faixa".
Os militares disseram que os hospitais no sul da Faixa de Gaza estavam a ser adaptados para "receber doentes e feridos, juntamente com um aumento na entrada de equipamento médico necessário, de acordo com os pedidos das organizações internacionais".
O comando israelita partilhou uma gravação de uma chamada telefónica em que um membro do COGAT, com a voz distorcida, avisava um funcionário da saúde "sobre a possibilidade de o exército entrar na cidade de Gaza".
Avisava ser necessário proceder à "evacuação prévia" da cidade.
"Assim, poderão prestar assistência a todos os pacientes no sul da Faixa e preparar os hospitais para receber os pacientes que vêm do norte", disse o elemento do COGAT, de acordo com a gravação.
O mesmo elemento disse ser importante que os médicos recebam a informação de uma fonte oficial e que lhes será proporcionado "um lugar para ficar, seja um hospital de campanha ou qualquer outro hospital".
Médicos Sem Fronteiras acusa Israel de "privar deliberadamente a população de Gaza de água"
A Médicos Sem Fronteiras (MSF), uma das organizações de saúde que atua em Gaza, denunciou hoje que Israel está a "privar deliberadamente a população de Gaza de água", numa "campanha genocida", e instou Telavive a permitir a importação de equipamentos para fornecer e distribuir água.
Através de um comunicado, a organização não-governamental (ONG) instou Israel a permitir a importação em grande escala de equipamento que permita fornecer e distribuir água e sublinhou que o exército israelita "deve parar a destruição das infraestruturas de água e permitir a reparação imediata dos sistemas de água que foram danificados".
A MSF recorda que "a água e outros bens essenciais não devem ser utilizados como arma de guerra", adiantou a ONG, acrescentando que, após 22 meses de "destruição e restrições no acesso a infraestruturas essenciais de água", a quantidade de água disponível em Gaza é "totalmente insuficiente".
A organização fez saber que outras organizações como a própria MSF "poderiam aumentar" a quantidade de água potável na Faixa de Gaza, mas Israel está a "bloquear as importações de artigos essenciais para o tratamento".
A ONG afirmou que está a tentar "há meses" trazer novas unidades de tratamento de água e que assete unidades que tem no enclave produzem água suficiente para que 65.000 pessoas recebam 7,5 litros por dia, embora isso seja "uma fração do que é necessário".
A organização explica que Israel "sempre controlou grande parte do fluxo de água que entra em Gaza" e insiste que "isso agora dificulta o fornecimento de água potável à população".
"Israel danificou repetidamente duas das três condutas de água que entram em Gaza desde outubro de 2023. Estima-se que 70% da água que passa por estas condutas se perde devido a fugas na rede de condutas mais alargada, devido aos danos causados pelos bombardeamentos", adiantam.
A população depende, por isso, de "condutas de água provenientes de Israel e de instalações de dessalinização em Gaza", embora ambas as infraestruturas "estejam sob contínuos ataques israelitas".
Mediação egípcia acusa Israel de ignorar proposta de cessar-fogo
O Egito também fez acusações hoje contra Israel. O país entende que os israelitas estão a ignorar a proposta dos mediadores de cessar-fogo na Faixa de Gaza, já aceite pelo grupo islamita Hamas, alertando para um "erro de cálculo" que levará a uma "escalada da guerra na região".
Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio reiterou a condenação aos planos israelitas de controlo da Cidade de Gaza, que considerou "um novo passo para consolidar a sua ocupação ilegal dos territórios palestinianos e uma flagrante violação do direito internacional".
A operação já em curso "reflete a total indiferença de Israel aos esforços dos mediadores e ao acordo proposto para alcançar um cessar-fogo, a libertação de reféns e prisioneiros e o fluxo de ajuda humanitária", advertiu a diplomacia do Egito, que, a par dos Estados Unidos e do Qatar, tem tentado aproximar as partes envolvidas no conflito, até ao momento sem sucesso.
O Egito, o Qatar e os Estados Unidos aguardam uma resposta do Governo israelita a uma nova proposta apresentada a ambos os lados na passada segunda-feira, que o Hamas aceitou no dia seguinte.