Naquela que é conhecida como a terra da castanha, Sernancelhe, o fogo dos últimos dias deixou um rasto de destruição. Entre as perdas a lamentar encontram-se os Passadiços do Távora, inaugurados em 2021, e um dos mais emblemáticos percursos pedestres do distrito de Viseu, que acompanhava, em tons de verde conferidos pela vegetação ribeirinha, a albufeira do rio Távora, afluente do Douro, conduzindo à praia fluvial de Vila da Ponte.
Por ser metálica, sobreviveu apenas parte da Ponte Pedonal que liga Vila da Ponte a Freixinho. Obra arquitetónica de grande beleza, “exemplo de simplicidade e pureza, dona de uma fotogenia singular”, descreve a autarquia, a estrutura, erguida em madeira e ferro, permite contemplar o plano de água e a envolvente.
“Desde a construção do açude e do espelho de água, na Vila da Ponte [a partir de 2011], a paisagem mudou e muitos motivos de grande beleza estão agora a descoberto nas freguesias de Vila da Ponte, Freixinho e Ferreirim”, nota a Câmara Municipal sobre o local que era “exemplo de turismo sustentável”, de natureza e palco de desportos náuticos e contribuiu para potenciar o turismo na região. Os Passadiços do Távora “trajeto contínuo e de permanente descoberta” tornaram-se também símbolo da região, por materializarem os maiores atributos de Sernancelhe: “rio, vinhedos, montanha e vida”, descreve a autarquia. Na construção da estrutura foram investidos mais de €600 mil.
Além dos passadiços e da cénica ponte pedonal sobre a Ribeira de Ferreirim, um dos afluentes do Távora, a caminhada prosseguia por vários trilhos. Um deles, o PR4 de Sernancelhe, conduzia pela paisagem rural ao longo de 6 km que culminavam no Observatório de Aves Aracnídeo, que se destaca por ter a forma de uma aranha. Guarda-rios, garças-reais e patos-reais são espécies que habitam na Albufeira da Barragem do Vilar, avistada a partir deste ponto.
O incêndio que lavrou em Sernancelhe teve origem em dois fogos – Sátão, no distrito de Viseu, que teve início dia 13, e Trancoso, no distrito da Guarda, que começou dia 9 de agosto. Na sexta-feira, dia 15, os dois incêndios tornaram-se um só, que se alastrou a 11 municípios dos dois distritos, entre os quais Sernancelhe.
O levantamento dos prejuízos deixados pelas chamas ainda está a decorrer mas o autarca de Sernancelhe, Carlos Santos, apontou, em declarações à Lusa, para “enormes prejuízos", na ordem de "milhões de euros": as perdas "já são de grande monta, de milhões de euros. Para além da agricultura e da indústria, há também habitação”, indicou o presidente da Câmara de Sernancelhe.
O incêndio entrou em resolução na noite deste domingo, 17, terá destruído mais de 70 mil hectares nos 11 municípios envolvidos. Em Portugal, os dados oficiais provisórios apontam para 172 mil hectares ardidos até dia 17.
Um vídeo do Diário de Viseu, elaborado por Miguel Canotilho, mostra como ficou o percurso nas margens do rio, depois dos incêndios que pintaram de negro a paisagem.
RECORDE O PROGRAMA BOA CAMA BOA MESA DEDICADO A SENANCELHE E QUE TRILHOU OS PASSADIÇOS DO TÁVORA:
Sobre o passeio neste cenário, outrora marcado pela sombra das árvores e da vegetação ribeirinha que servia de abrigo a um sem número de aves, o Boa Cama Boa Mesa relatava o “encanto natural” do percurso que conduzia à praia fluvial de Vila de Ponte, cenário ideal para mergulhar em duas piscinas flutuantes, uma reservada a crianças, outra para adultos. Na continuação dos passadiços, uma ponte pedonal, magnífica obra de arquitetura, une as duas margens da ribeira de Ferreirim, um afluente do rio Távora. A estrutura e a paisagem circundante estão agora reduzidas a cinzas.