
A Serra da Estrela viveu um dos dias mais difíceis deste verão, com o fogo a cercar a região na madrugada de ontem. As chamas, provocadas por trovoadas secas — com mais vento e descargas elétricas do que chuva — espalharam-se rapidamente pelos concelhos de Arganil, Oliveira do Hospital e Seia, atingindo zonas do Parque Natural e ameaçando aldeias desde Manteigas, a norte, até à Covilhã, a leste.
Uma das situações mais críticas registou-se na aldeia histórica de Piódão, onde os primeiros focos surgiram por volta das 04h45. Um residente contou que viu “duas trovoadas secas” e, minutos depois, “vários pontos de ignição” próximos da localidade. Pouco depois, um vigilante alertou para um incêndio na encosta acima da aldeia, junto a uma unidade hoteleira. A propagação das chamas obrigou à evacuação de várias povoações, deixando os habitantes sem eletricidade e comunicações.
Em Vila Real, populares uniram esforços com os bombeiros em Gramaça para travar o avanço do fogo que, em menos de dez minutos, se aproximou perigosamente das habitações. “O calor é insuportável”, descreveu uma moradora.
Ao mesmo tempo, mais de 500 operacionais combatiam outros incêndios de grande dimensão em Tábua (Viseu) e Proença-a-Nova (Castelo Branco). Na zona da Urra (Vila Velha de Ródão), um homem foi detido por usar um contrafogo para tentar travar o incêndio que ameaçava uma aldeia.
País em chamas e com falta de meios
Em Almada, a Polícia Judiciária deteve dois homens e uma mulher, com idades entre os 22 e os 26 anos, suspeitos de provocarem um incêndio na Arriba Fóssil da Costa de Caparica durante a madrugada, alegadamente após acenderem um isqueiro enquanto se deslocavam para comprar droga.
O combate às chamas conta com reforço militar: até 12 de agosto, foram empenhados 4666 militares no continente e na Madeira, 11 destacamentos de engenharia, 184 patrulhas de apoio à GNR — mais do que as 59 do ano passado — e 15 patrulhas de apoio ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e às autarquias.
O cenário na Serra da Estrela mantém-se crítico, com várias estradas cortadas e equipas no terreno a tentar travar o avanço do fogo, numa corrida contra o tempo e as condições meteorológicas adversas.