
Tudo indicava ser uma noite de Verão pacífica e descontraída para os clientes que se encontravam no Mambo Café, na noite de terça para quarta-feira.
“Os meus dois filhos estavam lá com um grupo de amigos e meus alunos de Krav Maga, todos com cerca de vinte anos” explica ao Diário do Distrito Nuno Trindade, pai do jovem ferido numa noite de violência que terminou com mais três pessoas com ferimentos graves, conforme noticiou o Diário do Distrito.
“O que ele me explicou foi que estaria também ali um grupo de oito indivíduos dos tais que não se pode dizer a etnia, que se encontrava a consumir desde as 17h00.
Pelas 00h00, o funcionário dirigiu-se ao grupo a solicitar que fosse paga a despesa. E foi nesse momento que tudo começou, com eles a insultar o funcionário e um casal que ali se encontravam, porque entenderam que estes estariam a olhar para eles.
De um momento para outro, segundo o meu filho, começaram as agressões, com murros atirados à cabeça do funcionário, e um ataque ao casal, pessoas de cerca de 60 anos, com murros, e no caso da senhora, com um copo de gin, com que lhe atingiram o rosto e cortaram a orelha, o que provocou um tal derrame de sangue que pensaram ter sido atingida a carótida.”
Perante a situação, alguns presentes, entre eles os alunos de Nuno Trindade, ripostaram e o grupo de indivíduos abandonou o local.
No entanto, voltaria ao fim de algum tempo, e foi aí que “partiram a aparelhagem do estabelecimento e começaram a pontapear o senhor que estava ainda caído no chão.
Nesse momento, o meu filho atirou-se sobre o corpo da pessoa, para o proteger, e foi atingido por murros, pontapés e duas bastonadas na cabeça com o suporte de metal do microfone.”
Nuno Trindade não tem dúvidas: “estas pessoas estavam a agredir para matar. Todos os golpes foram dirigidos à cabeça das vítimas, e usar copos de vidro no rosto de uma mulher, era para desfigurar.”
Responsabiliza também o proprietário do Mambo Café. “Da primeira vez que este grupo saiu, era a obrigação dele encerrar as portas e garantir assim a segurança e socorro aos feridos. Mas não o fez e permitiu que o grupo regressasse.
Por isso é que digo que as coisas podiam ter corrido muito pior, uma vez que todos sabemos como certos assuntos são resolvidos por essas pessoas. A tiro.”
Após a destruição, e novamente por o grupo de amigos do jovem ter reagido “com alguns golpes de Krav Maga”, chegou a PSP, “que tinha sido chamada ao local, mas por pouco não se cruzaram com os agressores”.
No local, as autoridades viriam a encontrar os feridos a ser assistidos pelo grupo de jovens “que têm noções de primeiros socorros, e por uma bombeira de folga da corporação de Alcochete, que foi impecável, tal como os polícias que ali estiveram, apesar de uma reação menos positiva da minha parte, quando cheguei ao local, depois do meu outro filho me ligar a dizer que o Cláudio tinha sido espancado.
Ali chegado vi-o ensanguentado no chão, a deitar sangue pela boca e com convulsões, e não reagi da melhor maneira para com o agente da PSP, mas depois pedi desculpa e agradeci.
Se houve quem agisse em conformidade naqueles momentos, foram os polícias, ao salvaguardar e darem apoio às vítimas.”
Os feridos foram todos encaminhados, num primeiro momento, para o Hospital do Barreiro, e depois no caso do casal agredido, para o Hospital Garcia de Orta, “e no caso da senhora, teve mesmo de ser reencaminhada para a Cirurgia Plástica no Hospital de São José”.
No rescaldo do ocorrido, Nuno Trindade lamenta que “com situações graves, uma senhora a sangrar com a orelha cortada do rosto, e vítimas com suspeitas de traumatismos cranianos, tivemos de esperar bastante tempo pelas ambulâncias, embora também tenha noção de que nestas situações, um minuto parece uma hora.”
Outra situação que o revolta, prende-se com o facto de “na altura, termos tido informação de que o grupo de indivíduos se tinha dirigido ao Hospital do Montijo, porque um deles teria a mão ferida, e que num mundo ideal poderiam ter sido logo detidos, mas como é que podemos esperar que duas patrulhas da PSP com quatro polícias enfrentasse um grupo que na altura já contava com mais de quarenta ‘acompanhantes da mesma proveniência’?
Sinto-me revoltado, porque vejo que o meu país, o qual representei no estrangeiro nas Forças Armadas, está a ficar a ferro e fogo, e sempre ensinei os meus filhos no respeito por todos e depois são alvo de agressões por pessoas desta proveniência.”
Precauções e queixas
Apesar do tempo de espera pelo socorro, “nessa noite, acabámos por nos encontrar todos no Hospital do Barreiro, e foi aí que soubemos o estado das outras pessoas, onde vi o senhor mais velho com várias feridas abertas na cabeça, que tiveram de levar agrafos. Do que sei da senhora, ainda está internada.
Já o funcionário do Mambo Café, além das feridas, tem de ir realizar consultas de oftalmologia e de neurologia, porque na altura se queixava que não conseguia ver bem.”
Recorda ainda que “a senhora veio ter comigo, chorava compulsivamente e só me disse que o meu filho tinha salvado o marido, ao colocar-se entre ele e os agressores”.
Nessa mesma noite, disse também aos meus filhos e alunos, que acompanharam o Cláudio ao Hospital, que a sua atitude não teria sido a mais correcta, perante este tipo de agressores.
A resposta? ‘Mestre, foi isso que nos ensinaste, a proteger as mulheres, idosos e crianças’. E eu tive de me calar.”
O jovem está agora a recuperar, “ainda tem muitas dores no ombro e cabeça, e na boca, devido a um corte interno. Posso dizer que se aguentou bem devido ao treino de Krav Maga que tem, se fosse outra pessoa a receber aqueles golpes, não sei se aguentaria.”
O próximo passo será a apresentação da queixa às autoridades, mas Nuno Trindade não tem muita esperança, “porque terá de ser feita contra desconhecidos… e só espero que o estabelecimento tenha sistema de videovigilância homologado, para se provar quem foram os agressores”.
Sobre as precauções que os jovens vão tomar no futuro, Nuno Trindade afirma que “temos noção de que não estão em segurança, porque estas pessoas sentem-se tão impunes que são capazes de tudo.
Por isso já avisei o meu grupo de alunos para não saírem à noite, e para na rua andarem sempre com «um olho no burro e outro no cigano», literalmente”.
E em jeito de desabafo, repete: “dentro do mal, correu bem, porque podia ter sido muito pior.”
O Diário do Distrito continua a aguardar um esclarecimento por parte dos proprietários do Mambo Café.