
"As hepatites virais são infeções do fígado causadas pelos vírus A, B, C, D e E. As hepatites B, C e D podem tornar-se crónicas e representar uma ameaça global devido à sua prevalência e complicações como cirrose e cancro do fígado. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como meta eliminar as hepatites virais como problema de saúde pública até 2030.
As hepatites B, C e D transmitem-se pelo contacto com sangue contaminado, relações sexuais desprotegidas ou da mãe para o bebé durante a gravidez ou o parto, especialmente em países sem rastreio materno. Nessas regiões, mais de 90% das crianças infetadas à nascença mantêm o vírus ao longo da vida.
Em Portugal, a transmissão ocorre sobretudo na idade adulta. Não afeta apenas "grupos de risco", como utilizadores de drogas injetáveis ou homens que têm sexo com homens. Cerca de um terço dos casos de hepatite C ocorre em pessoas sem fatores de risco identificáveis.
As hepatites virais são silenciosas: os sintomas surgem muito tarde, quando já existe lesão hepática. Assim, muitas pessoas vivem com o vírus sem saber. Apenas 13% dos infetados com hepatite B e 36% com hepatite C estão diagnosticados. Por isso, o rastreio é fundamental, mesmo para quem não tem fatores de risco. A Direção-Geral da Saúde recomenda que todos os adultos façam pelo menos uma vez na vida o teste para hepatite B (AgHBs) e C (anti-VHC).
Como combater as hepatites?
Prevenção: Portugal tem uma das melhores coberturas vacinais contra a hepatite B, com 99% dos recém-nascidos a receberem a 1.ª dose. Para a hepatite C, não há vacina, mas medidas como a troca de seringas e o uso de preservativo são essenciais.
Diagnóstico: O principal desafio é a falta de rastreio universal. Os testes estão disponíveis, mas muitas pessoas não são testadas por falta de informação ou iniciativa.
Tratamento: A hepatite C tem cura em 2 a 3 meses, com comprimidos seguros e eficazes. A hepatite B ainda não tem cura, mas pode ser controlada com medicação.
Combate ao estigma: A discriminação e o estigma ainda são comuns, por falta de informação. A hepatite B e C não se transmitem por contacto casual como beijos, apertos de mão ou partilha de alimentos do dia a dia. Casos como o de uma avó impedida de cuidar dos netos ou de um trabalhador despedido após revelar o diagnóstico mostram a importância da literacia em saúde para combater o preconceito.
Assim, é fundamental fazer o rastreio para as hepatites B e C pelo menos uma vez na vida, mesmo que não existam sintomas ou fatores de risco aparentes. Confirme, também, se está vacinado contra as hepatites A e B, pois a vacinação é uma das formas mais eficazes de prevenção. Por fim, fale abertamente sobre o tema com familiares, amigos e colegas. Informar é a melhor forma para combater o estigma e a discriminação associados a estas infeções."