"A arte da marioneta fica mais só", afirma esta companhia, numa mensagem enviada à agência Lusa, em que lamenta que "uma vida dedicada à arte" tenha desaparecido "neste 04 de setembro".

"Delphim Miranda acreditava que as marionetas têm a capacidade de dialogar com diversas tecnologias e de se integrar harmoniosamente com outras linguagens artísticas", constituindo "uma forma de arte não apenas versátil, mas também um canal significativo para transmitir mensagens e contar histórias de maneira cativante", sublinha a companhia de Gondomar.

Delphim Miranda nasceu em 17 de maio de 1947, em Lisboa, onde frequentou o curso de Pintura da Escola Superior de Belas Artes. Começou por lecionar Educação Visual e Educação Visual e Tecnológica no ensino oficial, em 1971. Foi formador nas áreas de Expressão Plástica. Fez cartoon, banda desenhada, cinema de animação, pintura, ilustração, intervenção artística, e acabou por se fixar no teatro - e no teatro de marionetas, em particular -, como ator e como autor, trabalhando figurinos, adereços, cenografia.

Enquanto professsor, descobriu nas marionetas uma "unidade de trabalho capaz de envolver os alunos em todas as áreas expressivas", o que o levou a especializar-se nesta arte, assumindo-se um "Contador de Histórias com Marionetas" profissional, segundo a sua biografia.

Delphim Miranda criou os seus próprios espetáculos, com histórias da sua autoria, em que contracenava com marionetas, destacando-se peças como "Por alguns contos de reis", "Queres que te conte outra vez?" e "A caixa dos bonecos".

Com estas produções, percorreu o país, participou em festivais de teatro, atuou em palcos de França, Espanha e Alemanha, fez parte do Programa de Apoio à Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian, expôs as suas obras e desenvolveu ações de formação com professores e animadores.

"Ao longo dos anos, o artista manteve sempre um profundo contacto com a arte da marioneta em Portugal, onde desenvolveu um conjunto de objetos e formas animadas muito particulares, marcando a presença nas dinâmicas culturais", recorda hoje o Teatro de Mandrágora.

Como ator, sem marionetas, Delphim Miranda participou no filme "Requiem", de Alain Tanner, sobre o romance homónimo de António Tabucchi, desempenhando o papel do pintor copista.

Durante a Expo'98, fez parte do espetáculo diário "Peregrinação", ao volante de um dos 'Peregrimóveis'.

Na temporada 2016-2017, o Museu da Marioneta, em Lisboa, dedicou uma exposição retrospetiva a Delphim Miranda, celebrando os seus 40 anos de carreira.

Para o Teatro de Mandrágora, "é fundamental reconhecer que [Delphim Miranda] apontou caminhos estéticos muito próprios" que hoje permitem entender "a sua profunda envolvência com a arte da marioneta, contribuindo para o seu desenvolvimento nas últimas décadas", e encontrar, ao longo do seu percurso, "um artista que se pautou por uma estética e por uma forma de estar social que permite entender não só a obra mas também o pensamento por trás das suas peças, e das dinâmicas culturais do relacionamento da arte da marioneta com o ensino".

O Sindicato dos Professores da Grande Lisboa também reagiu hoje à morte de Delphim Miranda, recordando o "excelente professor", a "figura marcante" na arte da marioneta, e o dinamizador do Espaço António Borges Coelho (Espaço ABC), na sede do sindicato, onde dava vida "a histórias divertidas mas também significativas nos valores".

O velório de Delphim Miranda, segundo fonte próxima da família, tem início às 16h00 de sexta-feira, na Igreja do Santo Condestável, em Lisboa.

O corpo partirá daqui para o crematório do Cemitério de Carnide, no sábado, às 11h00, onde a cremação se realizará às 12h00, no Edifício da Saudade.