'Arte da Fuga' reúne mais de uma centena de fotografias de Cláudia Varejão e cinco ensaios de várias autoras sobre o trabalho visual e as práticas de cinema da artista portuguesa.

"A Cláudia é tida como uma autora. É, também e de facto, uma realizadora que pratica um cinema fora da ficção, dentro da ficção, que experimenta a nível formal, que cria diálogos que dão voz a pessoas, a muitas pessoas, a muitas paisagens, a formas de vida e de existir múltiplas. O seu olhar é individual e traz consigo referências ultrapessoais", escreveu o curador e diretor artístico do Batalha, Guilherme Blanc, na introdução.

O curador também pergunta: "Que autoria pode ser esta, então, que comove cada vez mais públicos, cria laços, dentro das salas, nas rodagens, e desafia normatividades ao nível da escrita e pelo que nos dá a ver?".

Os ensaios são assinados pela realizadora Catarina Vasconcelos, pelas programadoras Gaia Furrer e Genevieve Yue, pela professora Maria Filomena Molder e pela curadora e escritora Rachel Rakes, abordando e analisando alguns dos filmes de Cláudia Varejão, como "Ama-San" (2016), "Lobo e Cão" (2022) e "Kora" (2024).

Há ainda um texto de Cláudia Varejão, numa espécie de enquadramento biográfico da sua prática artística, no qual elogia os pais e professores que a ensinaram a imaginar mundos, e recorda a importância de uma câmara de vídeo recebida ainda na infância e com a qual fez os primeiros filmes.

"Rapidamente, a câmara tornou-se numa obsessão. Para qualquer sítio que fosse, levava-a comigo. Filmava com desejo, como quem esculpe a própria matéria biográfica para encontrar algo. O cinema foi-me acontecendo assim, uma improvisação em tempo real em diálogo com cada momento histórico", explicou a realizadora.

Cláudia Varejão explica ainda que as fotografias inéditas escolhidas para este livro foram produzidas durante fases de trabalho para os filmes que fez. Estão registadas paisagens, instantes no espaço urbano, pessoas, atores e atrizes com quem trabalhou.

"O acaso, que é reconhecível em tantas fotografias aqui partilhadas, deu várias vezes lugar a cenas que não estavam escritas. A metamorfose entre a imaginação e a realidade é um processo inesperado que convoca todo o corpo e mente. (...) O meu cinema convoca a arte da fuga", sublinhou.

Cláudia Varejão, natural do Porto, é autora de documentário e ficção, através do qual aborda questões sobre a emancipação, a condição de vida das mulheres, as relações pessoais e a vida quotidiana.

No seu cinema já deu voz à juventude 'queer' açoriana (em "Lobo e Cão"), retratou mulheres refugiadas em Portugal ("Kora"), filmou japonesas pescadoras que mergulham em apneia nas águas do Pacífico ("Aman-San"), ainda os bailarinos da Companhia Nacional de Bailado ("No escuro do cinema descalço os sapatos").

Os seus filmes têm sido exibidos e premiados em vários festivais de cinema, como por exemplo Locarno, Roterdão, Visions du Réel, Cinema du Réel e Bienal de Veneza.

A apresentação de 'Cláudia Varejão: Arte da Fuga' está marcada para o próximo dia 11, no Batalha Centro de Cinema, numa sessão em que a pianista e compositora Joana Gama apresenta uma nova criação musical, acompanhada de um ensaio fílmico da realizadora.