
Foi com apenas 20 anos, enquanto atleta de alta competição e a tirar o curso de Personal Trainer, que a vida da Inês Abrantes deu uma volta completa. A primeira pancada chegou com o diagnóstico de diabetes tipo 1, em 2015. Seguiram-se mais dois: tireoidite de Hashimoto e artrite reumatóide.
Convidada do podcast Next Stop: Campanhã, conduzido por Ricardo Campanhã, a apresentadora do Curto Circuito partilhou como este diagnóstico chegou de forma abrupta:
“Quando fui ao médico de rotina, já não me deixaram sair de lá”
Nas semanas anteriores, o corpo já dava sinais: “Perda de peso muito rápida (7 kg numa semana), muito apetite e muita sede”. Pouco tempo depois, já estava internada, com uma pulseira laranja no pulso:
“Eu sabia que o meu corpo estava a lutar contra algo, mas não sabia que era uma cena para ficar no hospital.”
Na altura, achava impossível ter diabetes. “Sempre segui um estilo de vida saudável, praticava desporto” e, segundo a sua perceção, a doença estava associada “a um estilo de vida com mais excesso e a pessoas mais velhas”. Só depois percebeu que tinha diabetes tipo 1 e que em nada tem a ver com escolhas de vida.
Teve de aprender tudo do zero: como contar hidratos de carbono, como administrar insulina e, acima de tudo, como adaptar a vida a uma condição que não se vai embora:
“No meio desse processo todo, tive um processo de luto. A minha vida acabou como sempre foi… eu nunca mais tive a mesma vida. Eu não como uma coisa qualquer sem pensar na doença.”
Recorda que, no início, o mais difícil era perceber as quantidades de insulina necessárias para o que comia. Mas agora, mais de dez anos depois do diagnóstico, tudo se tornou mais simples. E até brinca com isso:
“Eu costumo dizer que isto é uma doença para pessoas inteligentes ou, se não são, vão ficar!”
Apesar de tudo ter começado tão cedo, a Inês não ficou revoltada. “Sou super grata disso ter acontecido” e sublinha: “Tudo aquilo que me trouxe, se eu meter na balança, é muito maior do que aquilo que me tirou.”
Reconhece, com clareza, que “ser uma miúda saudável seria muito melhor”, mas lembra que esta não foi uma escolha sua e, por isso, vive com leveza.
Ao longo do tempo, surgiram mais duas doenças auto-imunes: tireoidite de Hashimoto e artrite reumatóide. “Uma doença auto-imune é o teu corpo a virar-se contra ti próprio”, explica. E reforça a importância de compreender as causas de tudo isto: “para que não se repita”. No seu caso, aconteceu três vezes.
“Eu fazia uma pressão sobre mim própria gigante… às vezes para nada!”
Já com três diagnósticos, o Ricardo quis saber como é que a Inês lida com tudo isto, especialmente tendo uma profissão fisicamente exigente como Personal Trainer. A resposta passa pela gestão diária e por tratamentos específicos: para a tiroide, toma um comprimido com a hormona que o corpo já não produz; para a diabetes, usa uma bomba de insulina 24 horas por dia — algo que, segundo ela, lhe dá muito mais liberdade do que outras opções. Já a artrite reumatóide, diz, é a mais desafiante das três: “a mais chata das 3 amigas”, com tratamentos que funcionam em regime de tentativa e erro.
Além da partilha pessoal, a Inês fez questão de reforçar a importância de desconstruir mitos sobre a diabetes, sobretudo quando a média de idade para o diagnóstico é por volta dos 12 anos. “É uma altura em que existe muita pressão para ser aceite junto dos colegas de escola”, e acredita que a aceitação começa com informação: sensibilizar, educar, falar abertamente sobre a doença e os seus desafios.
Num tom divertido e sem tabus, a conversa passou também para o lado mais íntimo de quem vive 24/7 ligada a uma máquina. Como é que se abordam essas situações num novo relacionamento? A resposta chega descomplicada: “no grande esquema das coisas, aquilo não importa assim tanto no momento”. Ainda assim, destaca que há espaço — e necessidade — para fazer perguntas, esclarecer dúvidas e perceber os limites do outro, sempre com empatia.
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