
O Grande Prémio da Áustria, no Red Bull Ring, contou duas histórias muito diferentes dentro da box da Ducati Lenovo. De um lado da parede, Marc Márquez reescrevia a história, finalmente a conquistar Spielberg e a prolongar a sua impressionante hegemonia na temporada de 2025. Do outro, o campeão em título Francesco “Pecco” Bagnaia afundava-se ainda mais numa crise preocupante, forçado a abandonar a Sprint e a terminar a corrida principal em oitavo — a uns pesados 12 segundos do seu companheiro de equipa.
Márquez, o gladiador renascido
Para o chefe de equipa Davide Tardozzi, a forma de Márquez não é apenas assustadora para a concorrência — é uma prova de validação.
“O Marc precisava de uma Ducati para brilhar nesta pista,” disse Tardozzi ao GPOne. “A sua vitória confirma a recuperação física, algo que o tinha limitado nos últimos anos. O seu talento nunca esteve em causa — e agora que se sente confortável com a moto e com a equipa, está a mostrar a mesma dominância que tinha até 2019.”
Não é apenas velocidade pura. Tardozzi destacou a maturidade e consistência do espanhol, que voltou a parecer uma autêntica máquina de títulos. Com já oito “dobradinhas” esta época, Márquez faz o futuro da Ducati parecer blindado.
O pesadelo de Bagnaia continua
Mas nem tudo é cor-de-rosa em Borgo Panigale. Tardozzi reconheceu que as dificuldades de Bagnaia se tornaram na maior preocupação da Ducati.
“É justo celebrar o Marc, mas a nossa prioridade é o Pecco,” sublinhou. “O que tem acontecido ultimamente não é bom e precisamos de resolver os seus problemas. Sabemos que ele pode ser rápido — basta ver a pole em Brno ou a sexta-feira brilhante em Spielberg. A questão não é talento. A questão é: o que precisamos de lhe dar para que volte a ser consistente, volte ao pódio e lute novamente por vitórias?”
O próprio Bagnaia saiu da Áustria frustrado, pedindo respostas após mais um fim de semana em que os momentos de brilho acabaram em desilusão. Tardozzi não criticou as emoções do piloto:
“A reação dele é compreensível. Com a cabeça fria, vai perceber que todos na Ducati, desde o Claudio Domenicali para baixo, estão preocupados com a sua situação. Todos queremos vê-lo no top 3.”
Confiança, equipa e psicologia
Tardozzi reforçou ainda a confiança absoluta no seu piloto italiano:
“O Pecco não vai desistir, estamos convictos disso. Há confiança mútua e faremos tudo o possível para o trazer de volta ao seu melhor nível. É claro que precisa do nosso apoio — e juntos encontraremos o caminho certo.”
Mas não será apenas uma questão de potência e afinações.
“A componente psicológica é fundamental,” admitiu Tardozzi. “Ele tem de reencontrar a determinação que mostrou na sexta-feira, que foi impressionante. Tecnicamente, vamos encontrar soluções, a moto está ao nível certo — e ele também. Agora trata-se de juntar todas as peças.”
A temporada a duas velocidades da Ducati
Enquanto a Ducati cavalga a glória de Márquez, a sombra do declínio de Bagnaia ameaça instalar-se. Para uma equipa que construiu o seu império sobre o equilíbrio e a dominância, o desafio já não é apenas vencer a concorrência — é salvar o campeão em título de ser esmagado pelo renascimento do seu companheiro de equipa.
A mensagem de Tardozzi é cristalina: a Ducati pode estar a celebrar vitórias, mas a verdadeira batalha é ajudar Bagnaia a reencontrar-se, antes que a temporada — e talvez até o seu estatuto dentro da equipa — se perca por completo.