Enquanto a inteligência tática, a visão de jogo e o detalhe caracterizam o sangue experiente, a irreverência, explosividade e energia descrevem o sangue novo. Não há nada melhor do que juntar as qualidades de ambos, mesclando jovens da formação e veteranos de forma a obter a melhor versão de um plantel. Eis algo que está a ocorrer no SC Braga...

Nas duas últimas jornadas da I Liga, na receção ao FC Porto e na visita ao SC Farense, o Sporting de Braga promoveu a estreia de dois jovens da formação na equipa principal.

Afonso Patrão e Rúben Furtado são os mais recentes na lista de atletas da formação que já somam minutos ao serviço da equipa A em 2024/25 e juntam-se assim a Jónatas Noro, Francisco Chissumba, Diego Rodrigues e João Vasconcelos.

Tendo em conta a recorrente integração de jovens no plantel orientado por Carlos Carvalhal, o zerozero deslocou-se até à Cidade Desportiva do SC Braga para conversar com Pedro Pires, técnico que orienta os sub-19 do clube e que bem conhece estes jovens que se aproximam do plantel principal braguista.

Ao leme do futuro

Ligado ao clube desde 2005, o treinador de 43 anos orientou vários escalões na formação arsenalista, acabando por assumir o leme dos juniores em 2023/24.

Pedro Pires, técnico dos sub-19 @SC Braga

O começo não poderia ter sido melhor, considerando que conquistou o campeonato nacional, um feito que o Braga não atingia há 10 anos e que só logrou em três ocasiões: «O que se fez no ano passado foi muito positivo. Poder alcançar algo pela terceira vez num clube centenário deixa-me muito contente. A mim e também aos jogadores.»

Numa equipa onde surgem caras conhecidas no plantel principal, o SC Braga granjeou a chegada aos oitavos-de-final da Youth League. Apesar de não ter estado no comando da equipa na prova internacional, Pedro Pires considera fundamental a participação nesta competição: «É mais uma experiência dada aos miúdos para poderem ganhar andamento e para enfrentarem desafios maiores no futuro com menos dificuldades.»

«Enfrentar grandes equipas como o Real Madrid, o Napoli ou o Partizan dá-lhes tudo para poderem vencer a uma equipa no plano nacional. A experiência europeia contraria a possível ansiedade e nervosismo que poderiam ter no panorama nacional», explicou o técnico.

Ligações que ficam

Além de Patrão e Furtado, Sandro Vidigal também esteve em fichas de jogo dos arsenalistas. No entanto, o jovem de apenas 17 anos ainda não se estreou e tem em aberto a possibilidade de somar os primeiros minutos pelo conjunto liderado por Carlos Carvalhal.

«Repleto de orgulho» por ver jogadores da formação a ter a oportunidade de jogarem no palco de muitos sonhos, Pedro Pires expressa-se com um discurso pautado pela humildade: «Trabalhei com eles, mas o mérito é deles porque se esforçam e trabalham para isto.»

Estreia de Afonso Patrão @Catarina Morais / Kapta +

Com o foco nas três «surpresas» do jogo frente ao FC Porto, Pedro Pires deu a conhecer a relação que tem com as promessas: «O Afonso Patrão e o Sandro Vidigal foram dois rapazes que passaram muito rapidamente pela minha equipa, mas foi tempo suficiente para compreender que têm muita qualidade e potencial.»

«O Furtado é um miúdo com muita energia e muito bem-disposto. É brincalhão, mas também é um muito rigoroso para trabalhar», explicou o treinador sob o extremo, peça fundamental na conquista do campeonato nacional de juniores.

A proximidade aos jogadores que vão crescendo é algo que, em alguns casos, vai marcando o técnico: «São muitas horas de treinos, trabalhos e jogos, mas fora isso temos de lidar com muitos momentos pessoais e saber gerir situações junto dos jogadores. É aí que acabam por se criar ligações mais fortes com alguns.»

Apesar da felicidade lograda pelos momentos de estreia e de subidas, muitas vezes estas experiências podem tratar-se de algo efémero para os jovens atletas.

Dores de crescimento

Muitos jogadores atravessam dificuldades na tentativa de singrar em patamares superiores e, em muitas ocasiões, acabam por não conseguir ter o tempo de jogo que desejavam, um ponto abordado na conversa com Pedro Pires.

Cidade Desportiva do Sporting de Braga @SC Braga

«Subir primeiro a uma equipa não significa que vás ficar nesse escalão. Podes não te adaptar e voltar à equipa B. Por outro lado, alguns demoram mais a crescer, mas depois assentam bem na equipa principal...E tudo isso são coisas que mexem psicologicamente com os jogadores», vincou o treinador, enfatizando que a mentalidade é muito importante nestas idades.

Detalhando as dificuldades psicológicas dos mais novos em comparação com o «futebol de antigamente», o técnico argumentou que, de uma forma geral, esta geração apresenta «menos resiliência em comparação com os mais velhos, que não tinham tantas ferramentas para progredir profissionalmente.»

Destacando as infraestruturas disponibilizadas pelo clube, o técnico do emblema minhoto explicitou algumas da vantagens que as novas gerações têm: «Atualmente os jogadores têm aqui todas as ferramentas necessárias para poder crescer, desde o departamento de nutrição, de performance, dentista, psicologia e muitos outros.»

qTirar um miúdo de casa com 12 anos pode ser mau

Não obstante, clarificou ainda que a ligação entre as academias de clubes de maior dimensão e de outros mais pequenos, cenário que acontece, por exemplo, com o projeto “Gverreiros do Futuro”, pode também ajudar jovens a superar algumas destas dificuldades.

«Projetos assim concedem visibilidade a miúdos que tenham qualidade, mas que, caso contrário, não a poderiam demonstrar a ninguém com poder para trabalhar o talento», descreveu Pedro Pires.

Em fecho da conversa, o técnico abordou também o outro lado menos explorado desta moeda futebolística: «Por outro lado, tirar um miúdo de casa com 12 anos pode ser mau. Se a coisa não correr bem, pode perder o futebol e ainda as ligações familiares. É algo muito complicado.»

Com oito jornadas por disputar na I Liga, resta agora saber se haverá mais estreias na equipa principal do SC Braga e como se irão sair os jovens guerreiros que vão trançando caminho junto das figuras mais veteranas da equipa.