Casey Stoner nunca foi de dourar a pílula. Nem quando ganhava títulos, nem agora, e muito menos quando o assunto é a obsessão atual da MotoGP pelas corridas sprint.

Na visão do australiano, o formato transformou os fins de semana num ciclo exaustivo e perigoso — sacrificando a essência da corrida por caos televisivo.

“Passámos de um risco na qualificação e um risco na corrida para agora termos cinco grandes riscos num fim de semana”, disparou Stoner. “Q1, Q2, a partida da sprint, a partida do Grande Prémio… é loucura.”

Sem Tempo para o Trabalho a Sério

Stoner defende que o formato sprint destruiu a preparação real para a corrida. Antigamente, sexta e sábado serviam para afinar a moto, encontrar ritmo de corrida e tomar decisões estratégicas sobre pneus. Agora?

“Já não há tempo para preparar bem a moto para a corrida”, lamentou. “Tudo se resume a fazer a volta mais rápida possível para subir na grelha. Isto é um Campeonato do Mundo — não devia ser uma corridinha de entretenimento que ainda por cima dá pontos.”

O resultado, diz ele, são corridas de domingo menos disputadas, com motos preparadas para sprints, não para longas batalhas.

Perigo Sem Sentido

Enquanto os dirigentes defendem as sprints como emoção extra para o público, Stoner vê nelas um truque perigoso — especialmente com pontos de campeonato em jogo.

“É uma das corridas mais aborrecidas e, mesmo assim, os pilotos têm de ter cuidado porque a corrida principal é no dia seguinte”, disse. “Na Fórmula 1 fizeram isto em meia dúzia de provas — aqui fazem todos os fins de semana, é ridículo.”

Um Sistema de Decisão Quebrado

Para Stoner, o formato sprint é só um sintoma de um problema maior: as decisões estão nas mãos erradas. Acredita que a MotoGP é gerida por um núcleo fechado que ignora a voz de quem viveu o desporto.

“Precisamos de um painel que perceba tanto de corrida como de engenharia”, defendeu. “O que temos é um painel de pessoas escolhidas para dizer ‘sim’ e aprovar tudo.”

E garante que os pilotos e ex-pilotos não estão calados:

“Todos estão a falar, mas ninguém ouve”, acusou.

Na sua opinião, a MotoGP corre o risco de sacrificar substância em nome do espetáculo — e de perder a alma pelo caminho.

“Isto é um Campeonato do Mundo”, concluiu. “Não é para ser um sideshow.”