Foi um jogo para a eternidade. Teve um pouco de tudo: ação, drama, tensão, nervosismo, reviravoltas e, no fim, um desfecho inesperado. A surpresa desfilou em Orlando e o Al Hilal fez história ao vencer o Manchester City por 4 a 3, com direito a dois golos do ex-benfiquista Marcos Leonardo, posicionando-se como o adversário do Fluminense nos quartos de final do Mundial de Clubes.

O clube saudita é o primeiro de fora da América do Sul a superar uma equipa europeia na história das competições oficiais. O jogo dos quartos contra o Flu, ainda em Orlando, será na sexta-feira, às 15h (hora local).

Ilusão de normalidade

Doku x João Cancelo foi um dos primeiros grandes duelos do encontro. O belga, frequentemente acionado pela esquerda, enfrentou o português e criou a primeira jogada de perigo. Rúben Dias recebeu o cruzamento, mas cabeceou para as mãos de Bono.

O golo que poderia inaugurar o marcador, ainda antes dos dez minutos, surgiu precisamente pela esquerda, mas quando Aït-Nouri surgiu para atacar a profundidade. O lateral recebeu de Reijnders, avançou na área (depois de a bola tocar na sua mão) e rematou ao centro. A defesa cortou mal, e Bernardo Silva, após o ressalto, empurrou para dentro. Apesar das grandes reclamações dos sauditas pelo toque na mão, o golo foi validado.

O Al Hilal não abdicava de jogar, mas nunca deixava de sofrer com Doku. O extremo quase marcou após uma boa jogada por ali. O remate, rasteiro, saiu perigoso. No ataque seguinte, Haaland deixou Savinho na cara do golo, mas Bono, caído, conseguiu evitar o golo do brasileiro.

Bono era uma das figuras do encontro. O marroquino parou também Gündogan, que recebeu de Savinho na cara do golo. O alemão tentou um toque por cima, e Bono fechou a baliza. Na sequência do canto, Gvardiol mandou uma cabeçada forte e Bono tocou com a ponta dos dedos para evitar o golo.

Na reta final do primeiro tempo, se Savinho e Bernardo Silva pararam em Bono, Malcom conseguiu boas incursões pela direita pelos sauditas, sempre aproveitando overlaps (ora de Cancelo, ora de Milinkovic-Savic). Faltou acertar no último passe para criar oportunidades de qualidade.

Valentia saudita

Com menos de um minuto do segundo tempo, logo no primeiro ataque, o Al Hilal arrancou o empate. Malcom mais uma vez aproveitou a ultrapassagem de Cancelo, que cruzou rasteiro na área. Na sobra, Malcom foi bloqueado e então Marcos Leonardo mostrou oportunismo para finalizar de cabeça e igualar o marcador.

A jogada repetiu-se logo no ataque seguinte, e a reviravolta esteve próxima. Malcom avançou pela área na direita e deixou para a passagem de Cancelo, que rematou de primeira, mas por cima do alvo. O City demorou um pouco a regressar do intervalo.

O mau início do segundo tempo foi castigado e, aos seis minutos, os sauditas viraram o jogo. A jogada começou num canto para os Citizens, mas Cancelo cortou e acelerou o lance com Malcom, que arrancou do campo de defesa, correu todo o campo e, na cara de Ederson, tocou para tirar do brasileiro e fazer 2 a 1.

Pep Guardiola fez três substituições logo em seguida, alterando a estrutura da equipa ao colocar Aké, Rodri e Akanji. A resposta veio logo a seguir: após um canto de Bernardo Silva na área, Haaland ficou com a sobra e, na primeira que lhe caiu na área, voltou a empatar o duelo.

O City assumiu o controlo completo do jogo, enquanto os sauditas perderam Malcom, lesionado, como válvula de escape. Mas a pressão não surtia efeito. Aos 38, Akanji mandou uma cabeçada no poste e Haaland, na sobra, só não marcou porque Lajami evitou em cima da linha com um corte impressionante.

Nos minutos finais, as duas equipas estavam bastante cansadas. O empate persistiu, e a decisão do classificado precisou de mais 30 minutos. E o jogo continuou a ser um monólogo, onde só os ingleses falavam.

Jogo para sempre

Mas Renan Lodi, mesmo sem perna, conseguiu um arranque pela esquerda para receber de Milinkovic-Savic. O brasileiro conquistou um canto, e aí a bola parada mudou os rumos do jogo. Rúben Neves cobrou fechado e Koulibaly apareceu entre Rúben Dias e Aké para marcar de cabeça.

Guardiola tentou de tudo, e colocou, por último, Phil Foden. O golo surgiu do banco: Cherki enviou a bola por elevação na segunda trave e Foden completou de primeira de canhota para igualar novamente o marcador.

A partir daí, foi na base da superação. Apesar da qualidade de jogadores como Cherki, que entrou muito bem no jogo, o Al Hilal falou mais alto na valentia. Foi na raça, na marra: Renan Lodi cruzou da esquerda, Milinkovic-Savic desviou de cabeça e Ederson espalmou. Só que a bola voltou em Marcos Leonardo, que já caído conseguiu empurrar a bola para o fundo da rede.

Foi na base da garra que os sauditas seguraram os minutos finais para derrubar o gigante europeu. No último lance, até Ederson estava na área. Mas o muro saudita falou mais alto e o 4 a 3 confirmou uma vitória histórica!