
Ele é anormalmente grande para um ciclista. É, sobretudo, estranhamente alto para quem luta por classificações gerais de corridas por etapas, é incomum ver 1,95 metros de ciclista pedalando montanha acima. Ainda assim, o estilo sui generis de Artem Nych vai-se tornando um costume de ver na Grandíssima.
Quarto classificado na estreia na Volta a Portugal, em 2023, o russo conquistou a corrida na segunda vez em que participou, em 2024. A três dias da conclusão da 86.ª edição, Nych ficou incrivelmente próximo de repetir, em Lisboa, a glória de há 12 meses.
A 7.ª tirada, entre o Sabugal e a Torre, testava o pelotão com a subida ao ponto mais alto de Portugal continental. Os 23 quilómetros até lá acima foram o palco para o brilhantismo da Anicolor/Tien 21, que tem justificado o estatuto de equipa mais poderosa entre as participantes.
Artem Nych atacou e deixou quem lhe queria tirar a amarela — Byron Munton, Jesús del Pino, Jesús David Peña... — a distância considerável. O melhor para a equipa liderada por Rúben Pereira é que o segundo mais forte da geral foi Alexis Guerin, companheiro do encorpado russo. Nych foi segundo na etapa, Guerin quarto, só não ganhando porque uma fuga chegou com largos minutos de vantagem à Covilhã.
No começo da escadaria até à Torre, os 14 escapados aproveitaram a margem que o pelotão lhes deu para discutirem, entre si, a vitória. Desse combate saiu triunfador Johathan Caicedo, equatoriano da Petrolike, que já só tem três homens em prova
Num pelotão magro em referências e já com menos de 100 sobreviventes, Caicedo é um dos mais destacados ciclistas. Antigo habitante do World Tour, o seu maior êxito está umbilicalmente ligado a um dia histórico para o desporto português.
A 5 de outubro de 2020, Caicedo triunfou no alto do Etna, na pandémica edição do Giro d'Italia. A camisola rosa ficaria, na sequência daquela etapa, para João Almeida, então um jovem promissor de 22 anos que saltaria para a ribalta.
O dia foi, novamente, marcado pelas altas temperaturas, aproximando-se dos 40 °C. Na subida à Torre, Gonçalo Leaça, português da Credibom/LA Alumínios/Marcos Car que, em 2024, foi quarto na geral e o melhor português na prova, andou muitos quilómetros isolado. No entanto, seria apanhado, a dois quilómetros da meta, por Caicedo, que chegaria isolado com 33 segundos de margem para Nych, 46 para Leaça e 47 para Guerin.
Na geral, há quase um minuto e meio entre os dois homens da Anicolor/Tien 21 e os demais. Nych, à beira do bis, tem 46 segundos de avanço para Guerin. O terceiro é Jesús David Peña, a 1,20 minutos do russo. O melhor português é Tiago Antunes, da Efapel, em quinto.
A próxima jornada será a chegada a Santarém. O fim de semana trará o alto do Montejunto, no sábado, e o contrarrelógio final de Lisboa, no domingo.