As autoridades sírias e libanesas anunciaram hoje a formação de duas comissões para averiguar o destino dos quase dois mil prisioneiros sírios mantidos no Líbano, localizar libaneses desaparecidos na Síria e resolver a questão da fronteira partilhada não demarcada.

O anúncio das duas comissões ocorreu durante a visita de uma delegação síria a Beirute, que incluía dois ex-ministros e o chefe da Comissão Nacional para as Pessoas Desaparecidas da Síria, a primeira desde que as novas autoridades de Damasco tomaram o poder, no seguimento da queda em dezembro passado do regime de Bashar al-Assad.

O novo Governo da Síria, sob a presidência interina do ex-líder rebelde Ahmad al-Sharaa, pretende "abrir uma nova página" com o Líbano e caminho para uma visita dos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Justiça sírios, segundo disseram fontes judiciais e de segurança libanesas à agência noticiosa norte-americana Associated Press (AP), embora a data ainda não esteja definida.

As futuras visitas poderão representar um avanço entre os dois países, que mantêm relações tensas há décadas.

A atual liderança de Damasco mantém distância com o grupo xiita libanês Hezbollah, que combateu durante a longa guerra civil na Síria ao lado dos militares do regime de Al-Assad, ambos apoiados pelo Irão.

Ao mesmo tempo que as autoridades libanesas tentam por seu lado desarmar o Hezbollah, guardam igualmente a memória da presença militar síria durante quase três décadas até 2005 em várias regiões do seu país.

As conversações de hoje com o vice-primeiro-ministro libanês, Tarek Mitri, abordaram a situação dos sírios em prisões libanesas, dos quais cerca de 800 foram detidos por razões de segurança, como ataques e tiroteios, disseram fontes sob anonimato à AP.

Muitos destes sírios detidos no Líbano estão presos sem julgamento.

As mesmas fontes indicaram também que os dois lados discutiram a questão dos cidadãos libaneses desaparecidos na Síria e da fronteira partilhada entre os dois países, onde o contrabando é comum e que foi usada para cerca de 1,5 milhões de sírios fugirem da guerra civil no seu país.

O lado sírio pretende também rever os acordos bilaterais em vigor durante os 54 anos da dinastia Al-Assad, mas o Líbano sugeriu a celebração de novos acordos para lidar com as questões pendentes entre os dois países, disseram as autoridades libanesas.

Desde a queda do regime sírio, dois primeiros-ministros libaneses já visitaram Damasco.

O Presidente libanês, Joseph Aoun, e Al-Sharaa mantiveram também conversações à margem de uma cimeira árabe no Egito, em março.

Os dois países vizinhos concordaram abrir embaixadas apenas em 2008, marcando o primeiro reconhecimento oficial do Líbano como um Estado autónomo por parte da Síria desde que conquistou a independência da França em 1943.