"Primeiro que paguem todas as horas extras em atraso, depois vamos controlar os exames especiais, do contrário, vão dizer que estamos a boicotar os exames, enquanto estamos a exigir nossos direitos", disse o porta-voz da Associação Nacional dos Professores (Anapro), Marcos Mulima, em declarações à Lusa face aos "exames especiais" para estudante da 10.ª e 12.ª classes, agendados para decorrer de 20 a 24 de janeiro.
Entre outros aspetos, os professores moçambicanos reclamam atrasos no pagamento de horas extraordinárias de dois meses e 18 dias de 2022, de todo o ano de 2023 e também de todo 2024, bem como "melhor enquadramento" na Tabela Salarial Única (TSU).
O porta-voz da Anapro disse que, além dos "exames especiais", o arranque do ano letivo para o ensino geral e técnico e profissional está igualmente "comprometido", ameaçando uma paralisação geral das atividades até o executivo saldar as dívidas.
"Eles estão cientes que devem pagar até dia 20 de janeiro ou haverá greves que vão condicionar os exames e também a abertura do ano letivo. Pressão, ameaças e perseguições sempre existirão, mas não vamos parar até que se pague", afirmou Marcos Mulima, indicando que até então o Governo não pagou na totalidade as horas extras em atraso desde 2022.
O Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) de Moçambique vai submeter a "exames especiais" em janeiro todos os estudantes da 10.ª e 12.ª classes que não conseguiram realizar os exames nacionais.
"Poderão candidatar-se a estes exames os alunos inscritos da 10.ª e 12.ª classes que perderam os exames finais da 1.ª e 2.ª chamadas e os candidatos externos da 12.ª classe que não realizaram os exames de candidatos externos", lê-se num edital do MINEDH a que a Lusa teve acesso em 31 de dezembro.
A decisão do Governo moçambicano surgiu num contexto em que Moçambique atravessa uma tensão pós-eleitoral que impediu a realização de exames em algumas escolas, aliado às paralisações de atividades em pelo menos 32 escolas, onde professores impediram a realização de exames finais do ensino secundário, no início do mês de dezembro, exigindo o pagamento de horas extraordinárias.
O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou em 23 de dezembro Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.
Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
Desde 21 de outubro, quando começou a contestação ao processo em torno das eleições gerais de 09 de outubro, o registo da plataforma eleitoral Decide contabiliza 586 pessoas baleadas, além de 278 mortos e 11 desaparecidos.
Somam-se ainda 4.201 detenções desde o início dos protestos pós-eleitorais, 167 dos quais desde 23 de dezembro.
PYME (LYCE)// CAD
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