A Comissão de Trabalhadores (CT) da Fundação Centro Cultural de Belém (CCB) diz lamentar “profundamente” a exoneração de Francisca Carneiro Fernandes, que assumiu funções a 1 de dezembro de 2023. A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, anunciou esta sexta-feira que o historiador de arte Nuno Vassallo e Silva será o novo presidente do Conselho de Administração da Fundação CCB.

Em carta enviada à imprensa, a CT escreve que a presidente agora exonerada, que estava a apenas dois dias de completar um ano no cargo, trouxe “uma abertura de diálogo e vontade imediata de resolver falhas sistémicas várias vezes reportadas à anterior administração, nomeadamente na área performativa”. E “contribuiu para uma reestruturação fundamental e urgente através de uma gestão eficaz e integrada das equipas, com a entrada, pela primeira vez na história do CCB, de uma diretora artística, Aida Tavares”.

O trabalho desenvolvido por esta diretora “recuperou de novo a confiança num trabalho profissional e ético”, acrescenta a carta, que indica a estreia do Festival FeLiCidade, em maio, como “a prova inicial do desempenho destas equipas motivadas e confiantes neste novo ciclo cultural que se anunciava”. Além de reuniões com as equipas, houve “um raro planeamento sério e rigoroso que resultou num festival feliz, pluridisciplinar, inclusivo”. E “o CCB foi, como nunca, ocupado por um público novo, multicultural, de todos os géneros e idades”, numa iniciativa que levou àquele espaço 22 mil espectadores em apenas dois dias, “um feito assinalável” e “um sucesso para todos e com todos”, destaca a CT.

“Razões meramente políticas”, acusa Comissão de Trabalhadores

Francisca Carneiro Fernandes foi nomeada pelo então ministro da Cultura Pedro Adão e Silva. A atual titular da pasta justificou a decisão de a afastar com a intenção de “imprimir nova orientação à gestão” e “garantir que a Fundação assegura um serviço de âmbito nacional, participando num novo ciclo da vida cultural portuguesa”.

Ora, para a CT, a par das mudanças introduzidas por Francisca Carneiro Fernandes, foram iniciados “novos processos de trabalho nas áreas financeiras e administrativas, de modo a otimizar recursos e a corrigir falhas na execução de procedimentos públicos”. Com a sua chegada, “houve, pela primeira vez em muitos anos, uma clarificação da missão e estratégia da Fundação, no sentido de trabalhar para todos os públicos, democratizando o acesso à cultura e melhorando as condições de trabalho”.

Mais: “as equipas passaram a ser ouvidas, participando de forma expressiva na organização e desenvolvimento dos projetos”. A CT alerta ainda que “as constantes mudanças nas administrações, por razões meramente políticas, são altamente prejudiciais para o funcionamento e estabilidade da instituição, principalmente quando o valor profissional, humano e ético” de Francisca Carneiro Fernandes “é reconhecido não só pelas equipas como pelos seus pares”.

Ministra garantiu há duas semanas que não haveria mudanças

A CT lembra igualmente que há apenas duas semanas o gabinete da ministra da Cultura afirmou “publicamente” que não haveria mudanças na administração do CCB. Trata-se, por isso, de uma “mudança abrupta”, que revela “um desconhecimento do trabalho desenvolvido em apenas um ano e do crédito que esta Comissão depositou na direção desta Fundação sob a orientação da ‘nossa Presidente’”.

Por fim, a CT agradece a Francisca Carneiro Fernandes “este ano inédito” e realça “as várias qualidades que foi revelando: o seu conhecimento de causa, a sua humanidade e a sua gestão exemplar”. E remata, escrevendo que “o CCB fica mais pequeno com a sua saída”.

As mudanças no sector não ficarão por aqui. O novo diretor do Museu Nacional de Arte Antiga será conhecido a 15 de janeiro. Madalena Reis, administradora do CCB, concorreu e é um nome forte para substituir o atual, Joaquim Caetano.